domingo, 27 de novembro de 2011

CRÓNICAS DE FÉRIAS VIII - "A LÓGICA DO QUE A NÃO TEM"

15 de Novembro

Uma pessoa transforma um momento numa vida, e uma pessoa transforma uma vida num momento ...

Reflectia sobre isto hoje na praia, enquanto os auscultadores do MP3 me impediam de ouvir a "algarviada" do pessoal do leste da Europa, ainda não percebi se da Rússia, Ucrânia, Moldávia, Roménia...sei lá o quê!
O que sei é que o registo com que se pautam é todo o mesmo.
Uma falta de saber estar, conversas aos berros, ausência de noção de limites, de direitos sobretudo.
Irritam-me particularmente ... e o hotel está infestado.

Bom, mas dizia eu que ouvia a minha música no recolhimento possível, ausente de tudo, apenas com o ventinho que corria felizmente e amenizava o calor insuportável que se sentia, apenas com o azul do mar e do céu, hoje sem nuvens.
Veio-me ao espírito então aquilo que supracitei.

De facto, na vida cruzamo-nos com pessoas que tiveram a capacidade de a marcar de tal forma, no sentido positivo ou negativo, que se instalaram como "eternas", ou seja, ainda que na estrada que percorremos a sua existência possa ter sido temporalmente insignificante, foram de tal forma "visíveis", que jamais as "deletaremos".
Essas pessoas conseguiram tornar pequenos instantes em eternidades, tão importantes elas foram para nós!
Sempre nos saltam das sebes que ladeiam os nossos trilhos, volta e meia, e nos acompanham por espaços, para novamente, por uma qualquer razão, voltarem, e voltarem e voltarem mais tarde.
Ficaram por assim dizer, "impregnadas" , tatuadas, e como diabinhos malandros fazem-nos negaças, em maroscas infantis,  à nossa frente, aparecendo e desaparecendo à nossa revelia!

Contrariamente, na nossa vida temos outras pessoas que tendo-a marcado temporalmente de forma significativa, não passaram disso mesmo ... um registo inevitavelmente temporal, apenas.
Essas pessoas existiram, estiveram em permanência, e um dia percebemos que reduziram toda uma vida, à duração de um só instante, dado o lugar insignificante que ocuparam no nosso coração e na nossa mente.
Essas pessoas, quando partem para outros caminhos, não nos deixam a marca da sua ausência.
Continuamos na estrada, independentemente de elas nos terem existido.
A sua recordação não nos deixa mossa ... a sua falta não nos deixa nenhum buraco no peito; o seu ombro não nos é preciso mais como apoio, a sua imagem lembrada, não nos sustem a respiração, nem nos acelera as batidas cardíacas!
Tornaram-se  rapidamente "invisíveis", inócuas, irrelevantes ...
São pessoas que não doem!!!

E perguntamo-nos como é isso possível,qual a lógica disso acontecer??!! ...

Bom, a lógica é exactamente a ausência de lógica nas coisas do coração e do espírito, no domínio das emoções e dos afectos.
Trata-se dum campo que sempre escapa ao nosso "controle", um campo que nos ultrapassa, um campo que independe do racional, do razoável ... do "humanamente correcto", e que dificilmente conseguiremos reverter.

É aqui que encaixa aquela frase feita, tão lógica essa sim, e tão real  : " A vida não se fará pelo número de vezes que respiramos, mas pelo número de vezes que paramos de o fazer " !!!...

Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Uma reflexão brilhante sobre uma matéria, tão presente e tão ignorada. Gostei.
Jonas

anamar disse...

Olá Jonas

Obrigada por seres meu leitor, parece que assíduo.

Conto com a tua crítica douta e isenta, sempre.

Um beijinho

Anamar