sábado, 26 de novembro de 2011

CRÓNICAS DE VIAGEM - III " 11 DE NOVEMBRO - 21 HORAS "


As chuvas tropicais são como os amores de Verão ... vêm fortes, sôfregas ... promissoras ... e vão ... num ápice!

Estou no lobbie do hotel, acabei de jantar, e estou recostada, absolutamente "out" do que me rodeia, a assistir ao espectáculo de uma chuva copiosa a despencar com a força toda, sobre os coqueiros e as palmeiras sequiosas ...
Esta chuva nada tem a ver com a que provavelmente cai a esta hora em Portugal.

Esta chuva acompanha um calor imenso ; esta chuva não molha, acaricia.
Esta chuva não maça ... é desejada!
E passa depressa...
Quase num piscar de olhos deixamos de ouvir o som das cordas de água na vegetação, nos telhados, no solo ...

Os amores de Verão também são assim ...
Desejados, empolgam a alma e o coração ... Têm calor, têm cheiro a terra molhada convidando a deitar, têm a cor da chuva a tornar os verdes ainda mais verdes ...
Têm a inconsequência dos sonhos largados ao vento, com o açúcar a escorrer pelo canto dos olhos, como lágrimas que o não são ...
Têm a concupiscência e a devassa dos frutos proibidos, ainda não provados...
Têm a provocação da pedrada no charco, na vontade de querer ir sempre mais além ...

E também como a chuva tropical se vão ... deixando o braseiro por apagar, a queimar os atingidos.
Nunca nos apaziguam ... Antes, abrem-nos "buracos" cá dentro, que devem durar até ao Verão seguinte ... para serem substituídos por novos amores ...
Tenho saudades desses Verões ... tenho saudades desses amores ... tenho saudades dessa chuva abençoada que expurga qualquer tristeza dos corações!
Tenho saudades da que eu era então ! ...

Depois do "Verão", os amores têm a maturidade da fruta no Outono, hora da recoleção de tudo o que aprendemos e ficou tão lá para trás.
Devem ser amores consistentes na sabedoria do conhecimento feito, devem ser amores calmos como as águas de maré baixa a acarinharem as areias, devem ser amores que perdurem, porque depois deles já não há tempo para fazer novos amores ...
No entanto, quentes, como os últimos dias do Verão que passou, doces a saber às uvas que se colhem nas latadas, gratificantes, como o chegar a casa num dia de temporal ...

São amores - âncora, amores - amarra ... para que fiquem, para que segurem, mesmo quando a ondulação é brava e os barcos balançam...
Têm que ser amores que "empanturrem" a alma de emoções, conhecidas, mas retomadas ; têm que fazer festas no coração e não deixar que ele sangre, têm que fazer crescer verdes de esperança sempre, e nunca impedir que a luz do sol os atravesse ...

Mas têm que nos surpreender e encantar, tanto como os amores de Verão ... têm que nos emocionar como então ...
Devem fazer-nos rir ou chorar tão desbragadamente, como na nossa adolescência ...
Devem acordar outra vez, aquele que pensa ter dobrado a esquina da vida !...

Amores, amores e mais amores ...

Enfim ... até onde me levou a água abençoada que caíu há pouco !!!...

Anamar

4 comentários:

Anónimo disse...

Espantoso, sempre apaixonada, quem serão os priveligiados ?

Anibal disse...

Adorei este seu comentario, Dª Anamar,
Sugeriram-me este seu blogue e a Sra.sem duvida tem uma visão curiosa da vida e do mundo. Esta sua analogia dos amores de verão e os outros é uma visão assaz curiosa. Vou acompanhar de perto estes seus escritos.

anamar disse...

Olá "Anónimo"

Apaixonada pela VIDA, isso sim... e por tudo o que ela me vai oferecendo.

Um abraço e obrigada por ter comentado.

Anamar

anamar disse...

Anibal

Pois apareça sempre e comente sempre.

É um privilégio para mim poder contar com o "feed-back" de quem está desse lado, e com o necessário distanciamento, pode formular juízos de valor isentos e desassombrados sobre os meus escritos.

Um abraço

Anamar