terça-feira, 29 de novembro de 2011

CRÓNICAS DE FÉRIAS XIII - "FÉNIX"

 5,30 h da manhã de 25 de Novembro de 2011

Ainda no hemisfério sul, no Qatar (Emiratos Árabes) - aeroporto de Doha - viagem a meio .... será?

Bom, pensara ter encerrado com o meu último post, as crónicas de férias.
Ainda assim resolvi escrever mais qualquer coisa, que sempre resulta da introspecção que me invade no meu último dia em qualquer sítio, na solidão dos aeroportos e aviões.

Saí de Denpasar pelas vinte e duas horas de ontem, quinta feira, aqui em Doha são cinco e meia da manhã de sexta, como disse, e em Portugal serão duas e trinta também de sexta, a iniciar-se, portanto ...
Uma confusão de horas, uma confusão de fusos ... Razão tem o Jonas que diz que na próxima vez que eu viajar, para saber "onde" me achar, vai comprar um relógio com dois fusos ... assim não tem erro ... rsrsrs

Sempre ao viajarmos deixamos pedaços espalhados pelo Mundo. O ser humano tem a capacidade mágica, de se dividir, dividir e sempre renascer inteiro ...
As nossas marcas ficam lá, onde estivemos, como pegadas na areia.

Pelos meus olhos já desfilou vezes sem conta, o filme da minha rotina diária em Bali ...
O levantar bem cedo, porque o sol sempre  nascia para mim já na praia, uma praia que a essa hora estava deserta, envolvida numa luz incrívelmente clara, brilhante ... uma luz de paz!
O silêncio que então se "ouvia", ponteado apenas pelo desdobrar daquela maré, que de tão vazia tornava o areal verde de algas, era também habitado, pelos trinados das aves, eternas madrugadoras em todo o lado.
Os cheiros doces dos trópicos, tão meus conhecidos, são muito mais intensos pela manhã, muitas vezes apurados por chuva que frequentemente cai durante a noite.

A essa hora a cadela triste também já habitava a praia, e quando eu chegava, achava que já era a hora das "migalhinhas" diárias e da água para a dessedentar.
Eu sempre ficava por ali alguns instantes, apenas a contemplar, apenas a glorificar, apenas a dar graças ... graças por tudo o que tinha bem na minha frente, graças por existir, graças por merecer viver tudo isso.
Os barcos na maré vasa, eram gaivotas poisadas na beira do mar, a essa hora ainda adormecidos, a deixarem-se embalar apenas pelo vai-vem de meio metro de água ...

Depois era a vez do computador, veículo de comunicação com todos os meus afectos deixados lá longe.
Alívio e alegria pelas boas notícias, espaço de conversas e dissertações também ...
Nunca esta maquinazinha mágica foi tão apreciada, desejada, indispensada ...

O pequeno almoço seguia-se então. Hora de sempre pensar na minha "amiga", que me esperava junto à espreguiçadeira.
Chegava, tratava de a presentear com as parcas migalhas da minha refeição, enchia a taça improvisada com água, e era chegado o momento do primeiro de inúmeros banhos diários.
Aproveitando a maré completamente vazia, sentava-me no fundo, em posição de ioga, de frente para o astro-rei, e absorvia toda a sua energia, de olhos cemi-cerrados, em ausência total de tudo e todos, deixando-me embriagar por tudo quanto me era disponibilizado, apenas pelo simples facto de estar viva! ...

Eram momentos místicos, muito caros, de reflexão, de introspecção, de análise, em que o pensamento se soltava de mim, e voava quase tão rápido quanto aquele pássaro que cruzava o firmamento.
Momentos de equilíbrio também, momentos de reorganização mental, momentos de reencontro comigo mesma.

E o dia fazia-se naquela rotina gostosa, modorrenta, preguiçosa! ...

E os dias seguiram-se, fugiram velozes ... Como sempre, o tempo esgotou-se rápido na ampulheta da Vida!

Em Bali, uma vez mais, ficou muito de mim.
Em Bali ficaram-me muitos afectos, muitos sonhos, muitos desejos (alguns realizados, outros não) ...

Aqui estou ... talvez mais pobre, por tantos pedaços em que me dividi ... seguramente mais rica, por renascida inteira, uma vez mais !!!...
                                                                   
Anamar

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá Anamar,
Adorei que me tenha referido neste seu "post", significará possivelmente que terei em breve o privilégio de lhe agradecer pessoalmente, esta sua gentileza.
Teria o máximo gosto, em lhe oferecer um dos inumeros "desajeitados" da vida, abandonados pelos seus anteriores donos, que vivem nos nossos canis. Mas penso que viajando tanto, não teria as melhores condições para lhe fazer companhia, mas não duvido, isso sim ,que lhe proporcionasse o amor que tanta falta lhes faz.A Anamar é uma mulher muito sensivel, pelo que leio. Bem Haja.
Jonas (um seu admirador confesso)

anamar disse...

Olá Jonas

Obrigada por ter comentado.

Pois, "desajeitados" da vida tenho um a viver comigo (gato), já tive outro que viveu comigo catorze anos...cães, também há na família alguns... Todos recolhidos da rua, com as suas respectivas histórias, mas todos seguramente carenciados de muito amor. É o que procuramos dar-lhes, e penso que são muito felizes!

Um beijinho

Anamar

Anónimo disse...

Perdoe-me, era mais que evidente que uma pessoa com a sua sensibilidade, que muito aprecio no seu blogue, teria animais de estimação. Tenho a profunda convicção de que serão felizes e bem tratados naturalmente, bem haja por tratar bem os "desajeitados".
Seu admirador