terça-feira, 29 de novembro de 2011

CRÓNICAS DE FÉRIAS XII - "A CHUVA"

23 DE NOVEMBRO - Fim de férias

Bali despediu-se de mim da melhor forma possível!

Bali que me presenteara com uma lua cheia espantosa à chegada, alguns dias depois uma tempestade tropical pela noite dentro, com relâmpagos a rasgarem os céus e a acenderem dia na noite escura, voltou a oferecer-me hoje uma cascata de água, pelas onze horas da manhã.

O céu começou a ficar completamente coberto, com nuvens negras a adensarem-se, o sol recolheu, e um vento repentino e forte, de sul, começou a açoitar o areal.
O ribombar dos trovões a ouvir-se ao longe, foi-se aproximando à medida que aquele "chumbo" no céu, crescia mais e mais, como num tornado.
Nos espaços amplos e sem fronteiras, o som estridente da trovoada amplia-se e progride como uma onda, que rebelde avança e avança ...

Tão súbito quanto a chuva começou a cair, a praia ficou deserta, absolutamente deserta.
Eu e a cadela triste que adoptei ou me adoptou, fomos as únicas que não debandámos.
Ela aninhou-se como pode protegendo-se do vento forte, junto da minha espreguiçadeira ... eu, bem, eu recolhi para dentro do saco de praia tudo o que pudesse voar, e fui para o mar!...

Continuo sem perceber por que fogem tanto as pessoas, da chuva ... desta chuva quente e gostosa ...
A força com que nos afaga o corpo é uma carícia na alma!
A chuva é lasciva, tem um não sei quê de pecado, na forma como nos toca. É "magana" porque nos devassa, sem pedir permissão, mas ao mesmo tempo, é meiga e lava e expurga tudo o que de negativo carregamos.
É livre e solta como o vento, e louca como ele, também!
É um convite atrevido a uma dádiva do corpo semi-nu, ao seu afago!...

Deixei-me invadir por chuvas como esta, na Jamaica, em Sta. Lucia ...
Tal como hoje, deixei que me inundassem, provocadoramente ... deixei que me encharcassem completamente o cabelo e o corpo, como o suor numa noite de amor ... deixei que me envolvessem como num abraço cúmplice e desejado, libidinosamente me massajassem o coração e dessa forma, pudessem eternizar a sua recordação ...

Bom ... em Bali ouvi muita música, escrevi bastante, reflecti ainda mais .
Bali foi muito bom, até para me fazer crescer o desejo de voltar ao meu "ninho" e a quem me espera ... até para me fazer sentir que também entre nós e o "nosso mundo", há realmente um cordão umbilical ...

Afinal, sempre pertencemos a um qualquer pedaço de terra !!!...

Termino assim as minhas crónicas de viagem.

Novembro, Indonésia, Hemisfério Sul ... BALI ... a Ilha dos Deuses ou a Ilha do Amor ...

Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Sim, todos nós pertencemos a algum lado e isso é o lado positivo da vida das pessoas.
Diria Bertrand Russel, que somos "Cidadãos do Mundo".
Pois é minha querida amiga Anamar, ainda bem , que escreve e fala em Português, e de que maneira brilhante, sim, recomendei o seu Blogue a um amigo meu do "31 da Armada" e reconheceu que a Anamar é brilhante na sua escrita. Parabens continue sff.
Jonas

anamar disse...

Olá

Obrigada pelo comentário.

Apenas escrevo, só e quando sinto, nada mais ... sem "máscaras" ou "maquilhagem".

A escrita é uma terapêutica, uma profilaxia...mas também uma cura para mim.

Sem ela não vivo...sem ela estou amputada!

Um beijinho

Anamar