segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

" O DELÍRIO QUE ME ASSALTA - NATAL 2011 "

               EDUARDO GALEANO - 3 de SETEMBRO de 1940

Eduardo Hughes Galeano (Montevidéu, 3 de Setembro de 1940) é um jornalista e escritor uruguaio.

É autor de mais de quarenta livros, que já foram traduzidos em diversos idiomas. Suas obras transcendem géneros ortodoxos, combinando ficção, jornalismo, análise política e História.

Galeano nasceu a 3 de Setembro de 1940 em Montevidéu, numa família católica de classe média, de ascendência europeia.

Iniciou a sua carreira jornalística no início da década de 60 como editor do Marcha, influente jornal semanal que tinha como colaboradores Mario Vargas Llosa e Mario Benedetti. Foi também editor do diário Época e editor-chefe do jornal universitário, por dois anos.
Em 1971 escreveu a sua obra-prima "As Veias Abertas da América Latina".

Em 1973, com o golpe militar do Uruguai, Galeano é preso e mais tarde forçado a exilar-se na Argentina, onde lançou Crisis, uma revista sobre cultura.

Em 1976, com o sangrento golpe militar liderado pelo general Jorge Videla, vê o seu nome colocado na lista dos esquadrões de morte e, temendo pela vida, exila-se em Espanha.

Em 1985, com a redemocratização do seu país, Galeano retornou a Montevidéu, onde vive até hoje.


O direito ao delírio ... o direito à utopia ...

Ainda há esperança para quem sonha !...

A minha gaivota voltou, regressou neste Outono beirando o Inverno, que está por dias.
Regressou de asas soltas, planando na aragem da tarde.
Veio dizer-me que apenas se afastou por uns tempos.  Afinal, as gaivotas também têm direito a férias, porque liberdade e sonho, eu acho que as gaivotas têm demais !...

Eu, bem, eu por aqui estou, com pouco sol lá fora e cá "dentro".
Uma das minhas "velas" acesas, penso que se consumiu. O pavio já não se ilumina por mais que tente, por mais que eu insista ... vá-se lá saber porquê !

Tenho estado a "remoer" sobre os presentes de Natal, aqueles que o figurino determina, com crise ou sem ela ... e já decidi ...
...a vocês vou oferecer uma prenda linda, recheada dos meus delírios, das minhas utopias ... do meu Presente ... atada, claro, com um laço de sonho, que pode ser azul como o céu de Bali ... ou verde, se preferirem, da cor da relva acabada de regar ...
Ou da esperança ... que também é verde !

Lá dentro, bem acondicionadas vão aquelas coisas em que acreditei a vida toda, quando eu ainda era criança num corpo de mulher-madura.
Vão os projectos que delineei, ponto por ponto, naquilo que eu achava que era Vida.
Vão as metas e os horizontes que fugiam sempre que deles me aproximava, a brincarem de esconde-esconde comigo, pensando que os apanhava ...

E também vão os rostos ... tantos rostos que coleccionei para a minha caixinha de brinquedos.
Estão lá todos ... uns mais em baixo, outros mais em cima, para que abrindo a caixa, logo os veja ... Como se eu os não visse sempre que durmo, e precisasse para isso de a abrir !!!...

As esperanças também seguem ... e não só no laço ! Porque eu sou uma inveterada sonhadora, daquelas compulsivas, que sonham de noite, mas sonham muito mais de dia (olhando as nuvens que desenham carneirinhos no céu, para nos enganarem, a pensarmos que são novelinhos de algodão, e que se lá pusermos o pé, são fofinhos, como o tapete de lã de casa da avó ...)

E a fé ... aquela coisa que se chama "acreditar", mesmo quando não há em quê ...

Na minha encomenda também vão olhares ... olhares doces de meninos que brincaram comigo e que eu julgava que eram da minha roda ...

E mãos, aquelas mãos que eu jurava que sabiam abraçar, estreitar, aquecer, segurar ... nortear ...

Ombros ... ombros também !...  Porque os ombros sempre serviam para deitar a cabeça em dias de cansaço, quando até a minha gaivota me abandonava.

Ah ... é verdade ... (como ia esquecendo !!) ... corações, pois ...
Sem corações, como teria vida o meu presente??!!  E eu quero oferecer-vos um presente vivo, com sangue a pulsar nas veias, com "calor" a dar-lhe cor ... para que seja meu ...

Depois, terá que ser uma prenda repleta de sorrisos, porque lágrimas temos demais por aqui, e sorrisos são sempre permitidos no mundo do delírio e da utopia, sempre se enquadram no mundo dos loucos ...

Mágoas e dores, não mando. Há demais !  Vulgarizam os presentes.  São iguais por todo o lado e em todo o lado, e o meu tem que ser diferente !

Cansaço também não. Estamos todos cheios, não é??!!  Não vou massacrar-vos com isso, ainda que fosse gratuito !

Desejos? ... Ui ... isso daria pano para mangas!...
Gostava, mas não posso!!  Semeei-os há pouco, nos vasos da minha mansarda ... e olhem, ainda nem sequer começaram a dar flor, quanto mais, frutos !!...
Terá que ficar para o ano, prometo !...

Sonhos também envio, em quantidade doseada.
É que, quando eles se quebram é o diabo ... amachucam tudo, e são especialistas em cavar sulcos no rosto (pelas lágrimas que deslizam), e cicatrizes no coração, coisas que nos fazem um mal danado !...
Se se perdem...."aqui d'el rei quem nos acode"... Cria-se um desassossego de tal ordem, que de imediato nos desce um nevoeiro cerrado pela alma adentro... normalmente sem cura !...

Finalmente coloquei num cantinho bem discreto, AMOR, muito amor, porque tenho para dar e vender ...
Só que tem que seguir discretamente, por ser um bem tão cobiçado, tão desejado, tão raro ... Corria o risco de me violarem o embrulho antes de vos chegar às mãos!...

Bom ... espero que esteja a contento, a minha fraca lembrança deste Natal ...

Podia recheá-la ainda de carinho, de muito afecto, de azevinho acabado de colher na Regaleira, de saudade das águias altaneiras de Marvão ... ou simplesmente da pessoa que fui e não sou mais ...
Podia embriagá-la com a ginginha de Óbidos ou com o branco gélido da Estrela, os frios agrestes do Gerês, ou os calores da Jamaica ...
Podia entremeá-la com danças de roda dos dias felizes ... como a torta doce de amoras, da infância, no Alentejo distante !...

Em vez do laço ser azul ou verde, também podia ser vermelho, da paixão pelo passado, pelo presente e também pelo futuro, que não descortino mas amo ...

Lembrei-me de a mandar em correio azul ... mas optei por usar como estafeta a minha gaivota, que continua a perambular junto à minha janela, a tentar redimir-se pela ausência ... e a tentar fazer as pazes comigo ...
Acho que assim chegará segura, e chegará mais depressa, porque vai nas asas da Liberdade e da Fantasia ... e essas, não pagam portagens, não têm engarrafamentos, nem fronteiras a tolhê-las ... são como o sol que garantidamente temos no Verão, e como a chuva que garantidamente nos visita nos Invernos ...

Anamar

5 comentários:

Anibal disse...

Anamar,
Confesso, fiquei desiludido, com esta sua escrita de hoje,no entanto gostei da parte inicial sobre Eduardo Galeano, sempre aprendo coisas novas consigo, mas o resto foi uma brutal desilusão nem parece escrita sua, está muito crispada, lamento, mas faço uma apreciação negativa.Venho visitar o seu blogue porque é habitualmente uma fonte de inspiração positiva para mim.

Anónimo disse...

Agradeço o bocadinho do presente que me toca.É daqueles que não enchem a casa, sem ser desejados,mas que cabem sempre no coração, que tem um espaço enorme, enorme, por encher.
Um beijinho.
Malmequer

anamar disse...

Olá Aníbal

Obrigada pelo seu comentário, obrigada por me ter lido uma vez mais.
Como imagina, aceito todas as críticas aos meus escritos, positivas ou negativas.
Apenas, desta feita, permito-me discordar da sua análise.
Certamente leu o preâmbulo do meu post, aliás diz ter aprendido algo com ele. Nele, Galeano é um utópico sonhador, "conceptualizando" um mundo melhor e ajustado, um mundo que ele, e penso que todos nós ao lê-lo, consideramos ser um mundo delirante.

Pois o meu post, sem querer obviamente comparar-me com a genialidade de Galeano, também é um delírio ... o meu ... controverso por certo, mas meu!

Não entendo que o meu post, seja "crispado" ... Amargo talvez ... Esse o meu estado de espírito ao escrevê-lo.

Devo dizer-lhe que, salvo melhor opinião, senti ter sido um dos meus posts mais bem conseguidos.
Normalmente reflicto longamente sobre o que escrevo, leio e releio. E sempre fico com uma de duas sensações : ou a sua leitura me deixa plena porque nele pus fielmente o que me assaltava, ou me deixa insatisfeita pela impotência de nele não ter conseguido transmitir o que pretendia e talvez precisasse.
E este enquadra-se particularmente na primeira situação.

Afinal, eu também tenho direito ao meu próprio delírio, à minha própria evasão ...

Um abraço e volte sempre

Anamar

anamar disse...

Olá Malmequer

Por "portas travessas", neste meu "presente" envio-te os maiores votos de que as tuas Festas Natalícias sejam o melhor possível...dentro do possível.

Sinto-te desanimada, cansada talvez.
Espero que superes todas as dificuldades actuais...Melhores dias virão...talvez o novo ano se "compadeça" de nós todos!!

Beijinhos grandes e força...muita força, porque tu és capaz!

Anamar

Anibal disse...

Anamar,retrato-me pois na verdade tenho que concordar consigo num aspecto, a palavra "crispada" não retrata fielmente o que entendi, a palavra "amargo" é a escolhida por si, naturalmente muito mais fiel e apropriada ao contexto. No entanto reli o seu texto novamente e dou-lhe o beneficio da duvida, com a sua explicação, perdoe o meu atrevimento, pois sou um simples leitor seu, mas peço-lhe , não seja tão amarga a vida quando menos esperamos dá-nos motivo para sorrirmos.