quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

" A TERCEIRA A CONTAR DE CIMA ..."



Já aqui falei algumas vezes, directa ou indirectamente, da minha família, daquelas personagens que a meu lado vão trilhando, até à eternidade, os caminhos do meu percurso.

São "bengalas", são pilares de apoio, são colo que embala, são lenços que me enxugam o rosto, são cobertores em dias mais "frios".
São conforto e são também dedos em riste ou "espelhos", quando me analisam de uma forma isenta, ou me confrontam com as minhas insuficiências e imperfeições.
Tudo isso é carinho, tudo isso é amor ... não tenho qualquer sombra de dúvida !

É pequena a minha família neste momento. Duas filhas, uma mãe já na recta final, infelizmente ... três pequeninos a iniciar a caminhada ...

Não somos de nos "estorvar" uns aos outros. Não somos excessivamente presentes ou impositivos. De facto, não somos daquelas famílias sempre "grudadas", sempre em permanência. Respeitamos muito os "mundos" uns dos outros.
Faço muita "mea culpa", porque tendo a cair um pouco no exagero, ou seja, de uma forma algo egoísta, confino-me muito ao meu espaço, ao meu dia a dia, às coisas que gosto de fazer e com as quais passo o meu tempo, e não me disponibilizo como podia e devia, eu sei!
Vivo e mantenho muito os meus "esquemas", comodista que sou, delineio e custo a alterar as minhas rotinas, intransijo pouco a mudanças de ritmos ...
Interiormente luto contra mim própria, mas sinto em mim pouco "espaço de manobra", uma resistência até, para alterar o "stato quo" ... "quem torto nasce ..." (rsrsrs)


Contudo amo-os profundamente a todos ...
Ser-me-ia muito difícil continuar a marcha sem estes esteios a nortear-me o percurso!


Tenho duas filhas, dizia ; duas filhas absolutamente diferentes, opostas nas formas de ser, nas personalidades, nas posturas.


Nunca abordei nada sobre elas, aqui neste meu espaço, como se isso fosse um assunto demasiado íntimo, demasiado intocável, demasiado pessoal, quase "sacralizado", para o expor em público.
Pareço ter algum "pudor" afectivo, a falar dele!...


Contudo, olhando para trás e lembrando as suas infâncias e adolescências, algumas surpresas a vida me reservou.


A minha filha mais velha (é sobre ela que falarei hoje), sempre foi extremamente responsável, demasiadamente responsável perante a vida pessoal, académica, social.
Extremamente formal, é ainda hoje, absolutamente intransigente e pouco permeável a facilitismos, utopias ou situações dúbias ou pouco claras.
É atenta, rigorosa, exigente, reivindicativa.
Seguiu a área do Direito, e obviamente a deformação profissional inerente, "apurou-lhe" ainda mais estas características personalísticas.
É uma pessoa fechada, aparentemente fria ... apenas aparentemente, porque é de uma sensibilidade especial, que preserva e procura encapotar, como se a sua exteriorização a fragilizasse e a tornasse vulnerável à vida.


Tem três crianças, em "escadinha" de três anos. Três adoráveis "pestinhas" de dez, sete e quatro anos.


Com os filhos, usa do mesmo rigor de princípios e valores, a mesma exigência, sem cedências exageradas.
Uma educação que eu (que também assim fui ... mas não é para lembrar ... rsrsrs), como avó que assume o protagonismo de "estragar" os netos (como cabe a qualquer "mãe com açúcar" - a melhor definição de avó, que já alguma vez li ), sempre "recrimino", e para a qual sempre chamo a atenção, embora a respeite inteiramente, como é óbvio.

É no entanto uma "mãezona", coisa que jamais eu "adivinharia" no seu perfil, quando adolescente.
É com ternura, espanto e alguma surpresa, que constato que a partir do momento em que fiquei só, esta minha filha assumiu o lugar que talvez devesse ter-me cabido a mim, de "matriarca", pólo centralizador e aglutinador dos valores familiares.
Costumo dizer que neste momento, naquela cabeça e naquele coração, além dos três filhos, cabem "por adopção", outros três ... a irmã, a avó e eu própria.

Chama a si as preocupações e os interesses de cada um de nós, desdobra-se nas tentativas de resolver, satisfazer, "inventar" o que possa "florir" ainda, e sobretudo, os caminhos da avó, que a ajudou a criar nos primeiros anos de vida, e por quem tem um carinho muito especial ...

Tem um instinto protector do "clã"... sendo que o mesmo abrange todo o núcleo de afectos que lhe dizem respeito.
Lembra uma "leoa" no instinto maternal ...
Ela é interveniente, ela exige, ela não descura ou facilita, ela é rigorosa por demais ... mas ela também se desdobra na resposta ás necessidades das crianças (escolares, sociais, familiares, lúdicas), à custa do seu próprio descanso e da sua própria vida pessoal, no sentido de  orientar seres globalmente programados numa formação integral, como cidadãos  responsáveis, capazes,  pessoas  (homens e mulheres de amanhã) ... inteiros e genuínos!!!...

E pronto ... creio ter feito um "retrato" isento e justo, da "terceira a contar de cima"...

Fico agora em dívida com "a senhora que se segue" ... rsrsrs

Prometo, por um destes dias, vir também a esta tribuna fazer uma reflexão, igualmente distanciada, para que resulte tão próxima da realidade quanto possível (sem a comprometer "deformando-a", com o olhar tendencioso de mãe ...)

Anamar

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