domingo, 2 de janeiro de 2011

"INCONTORNÁVEL..."

"Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente."

                   Martha Medeiros
                                                                             
Tarde cinzenta , sem definição à vista, nem chove nem faz sol, nem ao menos um vento frio para a gente ter de que se queixar...
Estou há dois dias enclausurada em casa, na cama, tipo sete da tarde, amigas tudo indisponível, telemóvel mudo, na NET ninguém, nem para contar se as rabanadas caíram bem...parece que todo o mundo encerrou p'ra balanço, ou ficou cinzento como o tempo, e tem vergonha de "dar as caras".

Precisava de escrever....Começa-me aquele aperto a subir do que chamam de "peito", até à garganta, começa-me o nó a apertar, começam-me os olhos a ficar húmidos, começo a sentir-me "desgraçada" e quando me sinto desgraçada, já o caldo está todo entornado.

Escrever...botar p'ra fora, aliviar a alma, tornar o coração mais leve, da carga que me cansa carregar e carregar e carregar, ou então fingir que está tudo "numa óptima" e que sou um poço de felicidade...nada podia estar melhor!

"Está tudo bem com a senhora?" -pergunta-me solícito o empregado de mesa do Pigalle...o meu novo poiso, como sabem.
E eu, pintando de rosa choque o sorriso que não vem: "Está sim, obrigada! E consigo?" (parece sempre bem...)

Li há pouco esta frase que encima o meu post de hoje, de Martha Medeiros, jornalista e escritora brasileira, colunista de algumas publicações, e pensei : "Cá está....quem se despede de um amor deve deixar de existir, porque o "pack" também inclui despedirmo-nos de nós mesmos, ainda por cima sem nos pedirem a concordância, inteiramente à nossa revelia.
Como tudo o que acontece sem a nossa concordância, é algo que fica "atravessado", mal resolvido, como uma côdea de pão que escapou para baixo antes da hora.... dói, dói !

E fica o quê, depois de nos despedirmos desse amor?
Nada!
Um coração a esvaziar feito um balão de crianças, um sorriso outonal, feito o dia de hoje, um frio gélido a amarinhar por nós acima, um silêncio de alma, que nem a melodia que mais amávamos consegue preencher...uma água parada a putrefazer-se como o sangue que nos corre nas veias...uma solidão que nos deixa assim, órfãos, aparvalhados, incapazes!
Uma solidão de verso por escrever, de rima por acabar, de soneto incompleto!...

Anamar

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