sábado, 1 de janeiro de 2011

"O AÇÚCAR DA VIDA"

Os pacotes de açúcar da Nicola, que nos dão em alguns cafés para adoçar o galão e a vida, trazem frases desgarradas, de autores anónimos e avulsos.
Aquele que acabei de pôr no galão diz: "Um dia quebro a rotina", e tenho outro na mesa, para a bica, que diz: "Um dia...serás meu".
Por baixo de todas estas frases em complemento, está sempre: "Hoje é o dia!" - e depois é feita a propaganda ao café Nicola, claro.

Quero "fazer" um pacote meu, neste primeiro dia de Janeiro, em que começa a desfolhar-se o livro de mais um ano;
No "meu" pacote de açúcar, eu poria: "Um dia serei feliz!"...e depois viria a parte boa da coisa, que era o tal complemento em perfeição: "Hoje é o dia!"
Eu colocaria: "Hoje é o primeiro dia..."para não ser demasiado gananciosa.
Tenho sempre medo de desejar ou pedir em grande...
A minha mãe, é que toda a vida, diz, a brincar, quando aniversaria: "Eu só peço um ano de cada vez e não mais, senão depois não sou atendida!"...

Ontem foi um dia rocambolesco.
Como vos disse, já tinha reequacionado cem vezes se ia ou não ia ao tal restaurante dos meus amigos, passar o ano.
E comecei, aliás, fui começando, ao longo de todo o dia, a desistir aos poucos...
Aí pelas seis da tarde começou a chover, e eu pensei: "Que bom, a chuva é que me vai resolver o problema, pensando no que fora a noite anterior em termos de temporal. Jamais me meteria à estrada assim...
Mas era uma chuva miudinha, quase uns salpicos. Sobre Sintra, que vejo da minha alta janela do 7ºandar, via tudo carregado, e eu dizia em surdina para mim própria: "Chove, chove, chove...."
Mas a chuva não se condoía.
A certa altura, consciencializei que DEVIA, mas "não era capaz de ir", e pronto, com chuva ou bom tempo, não iria.

Vesti o pijama, pus água no saco de água quente, meti-me na cama. Trouxe para a cabeceira, não um, mas dois comprimidos dos que costumo tomar ao deitar (havia que apagar mesmo), e dado que eram pouco mais de sete horas, ainda fiquei a ver televisão (não me perguntem o quê, tão longe a minha mente estava, frente ao desfilar das imagens).
Tinha previsto, lá pelas dez horas, enfiar os comprimidos e dormir.

Mas o Cazé, o meu amigo do restaurante voltou a falar-me...(já o tinha feito a dizer que havia bom tempo e nem sombras de chuva, quando lhe telefonei a comunicar a minha desistência); desta vez fez-me uma espécie de ultimatum. "Estou a ligar-lhe, por ordem da Zé (a mulher)....o que é que está aí a fazer, ainda? Continuo à espera! Continua sol!..."

Eles são um casal super agradável, ele é um brincalhão e um bem disposto, e sei que são meus amigos, até porque acompanharam algumas fases "menos favoráveis" da minha vida.

Perante a ternura daquele telefonema, disse-lhe: "Olhe, já estou na cama! Só vocês para me tirarem daqui!"...

Acho que, se calhar, precisava daquele empurrão. Acho que a minha "veia" de vitimização, ainda a não consigo por vezes, ultrapassar sozinha. Penso que sou demasiado masoquista e que se calhar, queria ter hoje, para contar, que desgraçadamente ficara só, dormira às nove da noite, como uma donzela abandonada!!!...

Nem pestanejei mais, dei um pulo da cama, vesti-me num ápice, (de facto não chovia), peguei no carro e segui para o Magoito.
O restaurante estava cheio, com um grupo de senhoras que depois saíram, ficando por nossa conta, e quando digo "nossa conta", digo, os donos, eu, um casal brasileiro de Natal, super simpáticos e depois ainda um outro casal, também amigo deles que veio só para tomar uma bebida e tertuliar com o pessoal.

Bem, lareira acesa, ambiente intimista, fizémos a meia noite, saudámos o novo ano, com as passas, o champagne, muitos abraços e beijinhos, muita esperança, muita alegria por estarmos juntos, muita brincadeira...

Abençoei aquele telefonema e fiquei feliz pelo facto de ter ido. Acabei por me alhear de muita coisa, de afastar de mim aquela tristeza, que feita urubu já planava por cima de mim, para atacar a carniça, e ri e conversei como há muito o não fazia...

E percebi que preciso muito de "me trabalhar" ainda, e que a frase que eu escreveria no pacote de açúcar, só se alcançará, se começar a contrariar muito do negativo que cultivo em mim, mas que eu sei que cultivo, como forma de chamar a atenção dos outros, para me darem o cólo que necessito para viver....

Bom Ano para todos vocês!...Sejam felizes se puderem e souberem!...

Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Fizeste bem em sair.Também passo constantemente por fases dessas, mas não tenho a sorte que tens.De ter quem te arranque da cama para te animar, para te levar a conviveres.Isso é bom.São teus amigos, agarra-ate a eles, é o melhor que levamos desta vida...não é?Do ano de 2011 não esperamos nada de bom, mas não é o que dizemos todos os anos?Contudo cá estaremos (se Deus quiser) para em 2011 desejar que 2012 seja melhor!É a lei da vida...até que sejamos levados,(espero que de mansinho e lúcidos) porque isto é uma leve passagem...Melhores dias virão.Bjos.Fátima

anamar disse...

OLÁ FÁTIMA
POIS TENS RAZÃO....A FAMÍLIA TEM-SE....OS AMIGOS ESCOLHEM-SE!
cOMO FOI A TUA PASSAGEM? ESPERO QUE ANIMADA TAMBÉM.
JÁ TENHO SAUDADES TUAS! MAS SERÁ QUE NÃO VOLTAMOS A VER-NOS?
UM GRANDE BEIJINHO PARA TI, UM EXCELENTE (????) 2011 E COMO DIZES, QUE DAQUI A UM ANO AINDA "NOS DEIXEM" POR CÁ ESTAR!
BEIJINHO
ANAMAR