sábado, 26 de fevereiro de 2011

"AS PEÇAS DO PUZZLE"

Recebi de um colega um e-mail com o conteúdo deste vídeo, que reporto como muito interessante e merecedor da vossa reflexão, penso.
O seu conteúdo coloca uma questão que já aqui tenho trazido, e como atingir esse desiderato: a verdadeira razão de existir e como poderemos atingi-la harmoniosamente.

Nestas situações, costumo abster-me de maiores comentários pessoais, que certamente ficariam muito aquém da essência do que é passado nesta reflexão.
Portanto, deixo-vos apenas com:

"UM PUZZLE COM GENTE DENTRO"



Anamar

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

"AQUELES JARDINS..."


Marta ficara ao sol.
Também ela tinha um jardim em frente à casa, com bancos, com relva e com árvores. Se bem que agora despidas de folhagem na sua generalidade, lá estavam, à espera que a Primavera as tornasse de novo árvores...
Aquele jardim e os seus utentes não lhe faziam bem, mas havia o sol, hoje um sol que já lembrava quase o de Verão, aberto que estava, quente que estava...
O sol era realmente uma fonte de energia poderosíssima para a alma!
Mas ainda assim, aquecia-a por fora, lembrando-lhe que talvez tivesse roupa demasiado quente para o dia que estava, mas o coração continuava gélido e escuro...

Marta perguntava-se quando terminaria aquele luto, e que mais fazer para o terminar...
Afinal havia mais de um ano que aquela perda se instalara dentro de si, e de então para cá poderia dizer que deixara de viver, arrastava apenas dias uns atrás dos outros, num somatório desencantado e esgotante.
Acordava com aquela pena, deitava-se com ela. Se a meio da noite se levantava, lá estava ela, feito urubu sobre a carniça.
Sentia-se demasiado cansada, esgotada, na eminência de desistir.
Por isso, ficara ao sol, ao lado de todos quantos também não tinham mais horizontes, nem esperança, nem ânimo, nem incentivo...Daqueles que viviam por viver...

Os dias sucediam-se...sempre iguais, sempre repetidos.

Não se lembra há quanto tempo não soltava uma boa gargalhada...daquelas que esvaziam o coração dos "fluidos negativos".
Não se sentia nem com razão, nem com vontade para isso.

Marta nunca tinha passado por uma "onda" tão devastadora na sua vida.
Nunca tinha sabido antes, o que era perder alguém tão chegado, alguém tão seu, e ficara absolutamente sem norte, como que perdida no meio do nada, como que perdida num deserto sem guia, ou no alto mar em tempestade aberta, de leme destruído.
E pensava como levar a sua vida adiante dali para a frente.
Sabia que tinha que sobreviver, e sobreviver ainda era mais penoso que viver...

Lembrava-se da expressão que ouvira num filme visto há pouco tempo:"Tu és o único empecilho para a tua própria vida...solta-te...vive!"
Teria que o fazer, com forças arranjadas não sabia bem onde, criando novos mecanismos, novos nortes, novos azimutes, como também lera: "pintando o mundo com as suas próprias cores", e essas teriam que voltar a ser bem matizadas, magistralmente matizadas, equilibradamente matizadas, como é a Natureza construída, ela não sabia por quem...

Vira um conteúdo programático do National Geographic Channel, que não a deixara afastar os olhos do écran...Onde há maior equilíbrio do que nos jardins das profundidades marinhas?
Aquele mundo surreal que mescla uma flora e uma fauna absolutamente indescritíveis, aquela cor de corais, anémonas, peixes e outras espécies, misturado com o silêncio de "outro mundo" que se sente lá em baixo, aquela coloração da água cristalina que vai do turquesa translúcido, onde o sol ainda penetra, ao sombrio e escuro dos desfiladeiros marinhos, convida a ficar, porque aquela paz não tem comparação no mundo dos Homens...

"Amazing"...não se cansava de repetir o mergulhador...asolutamente "amazing", repetia ela, de imagem para imagem, à medida que se sucediam...
Ela já espreitara um pouco isso, quando fizera "snorkeling" em determinadas ilhas do planeta, ilhas de águas quentes, onde efectivamente se pode desfrutar deste cenário. Mergulho em profundidade nunca fizera, e se a sua experiência já a extasiara, imaginava o que seria poder ir mais e mais fundo e perder-se por lá, mundo de quietude, beleza, equilíbrio e paz!...
Cada ser magistralmente colocado, em contraste com outro; cada precipício, com areias macias, "canteiros e canteiros" de "flores" dos mares, numa Primavera perpétua...um jardim à disposição do olhar do homem, que talvez o não mereça...

Tudo isso trazia à mente de Marta a insatisfação crescente pelo mundo em que vivia, por aquele cenário rudimentar, que dia a dia lhe era oferecido, por aquela realidade "fria" e vazia que tinha que partilhar com milhões de outros "fantasminhas" movidos a cordéis...

O sol continuava a aquecer-lhe a cabeça, quente, se calhar demasiado quente...o seu pensamento dançara por muitos "becos", levara-a a muitas paragens, tirara-a daquele banco...mas agora tinha que voltar...
"Que injustiça!" - pensou - "Que injustiça!"...

Afinal, o jardim que tinha à sua frente, nada tinha a ver com aqueles em que se "perdera" nos últimos momentos da sua vida...

Anamar

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

"CHEGA UM MOMENTO..."

Arrumando a minha desarrumada secretária, em que não mexia desde que a minha vida profissional mudou, (parece que com medo de que remexendo toda aquela papelada desenterrasse alguma coisa indesejável para a minha mente), decidi que andava por aqui "lixo" a mais (no meio dele, só cartas de bancos com extractos, e aquelas coisas assim, que sempre pensamos conferir, guardamos para depois, e nunca mais lhes pegamos....eram vinte e três...), e que urgia que ordenasse minimamente todo aquele caos instalado.

Encontrei, a seguinte frase, acho que escrita num e-mail que a Conceição me enviou, e se efectivamente assim foi, data do início de Julho do passado ano:

"Chega um momento na tua vida em que efectivas quem é importante para ti, quem nunca o foi, quem não é mais e quem o será para sempre"

A Conceição, colegas que o fomos profissionalmente tantos e tantos anos, dias divididos, noites divididas, e que foi necessário afastar-me da Escola talvez, para lhe conhecer a real sensibilidade, mercê, hoje sei-o bem, da sua natural timidez e humildade...apanágio das pessoas realmente superiores!

De facto a vida de todos nós, pretende-se que seja de um crescimento e de uma maturação em que forçosamente, mais cedo ou mais tarde, separaremos "o trigo do joio", o valor relativo das personagens das nossas existências.
Há amigos ou conhecidos de infância, que juraríamos poder colocar no rol daqueles que sempre nos iriam ser indispensáveis, e que afinal perdemos pelo caminho...e há personagens determinantes, inexpugnáveis como as muralhas dos mais altos castelos, rijas e inquebráveis como o aço, em que curiosamente só "tropeçámos", quando a adultícia ou o Outono já começam a tomar conta das nossas vidas...e se calhar exactamente por isso.

Com maior rigor, maior nível de exigência, com critérios provavelmente mais apertados, com menos "rosa" na cabeça, mais clarividência, menos sonhos ou castelos de cartas...a ingenuidade obrigatoriamente mais perdida pelos atropelos dos anos...levam-nos a seriar, a excluir, a optar...a decidir...

E aí deverão ficar até ao fim dos nossos dias, os que passarem no crivo desta peneira de afectos, porque esses serão certamente os que valeram a pena, os merecedores...

Mas deveremos fazer um esforço para que outra forma de análise, encapotada pelas emoções e afectos, não nos tire a clarividência necessária à isenção nas escolhas, para que saibamos distinguir o "lobo mau" na pele do "capuchinho vermelho"...para que, nas encruzilhadas de um caminho quantas e quantas vezes difícil de trilhar, tenhamos ao nosso lado, aqueles, que se for necessário nos estenderão sempre uma mão de ajuda, ou nos matarão a sede quando a canícula nos asfixia...

Serão esses que nos darão o privilégio de serem nossos companheiros de jornada, nossos partilhadores de agruras, nossa sombra abençoada quando o sol tisna, nosso ombro e nosso bordão...

Penso que, mais cedo ou mais tarde, esse momento de escolha chegará para todos nós...e a real importância de cada um para nós próprios, será, como a douta frase diz, na verdade, EFECTIVADA!!...

Anamar

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

"UMA VISITA AO FUTURO..."

Ontem mais um idoso encontrado morto em casa, constituía notícia de jornais.
A vizinhança dera o alerta.
Este Outono/Inverno, garantiria que já houve para mais de dez casos;
Diagnóstico: solidão

A solidão é uma forma de maus tratos físicos e psicológicos, umas vezes infligidos intencionalmente pela própria família, negligenciando-os, outras, fruto das circunstâncias da vida madrasta, que mais ou menos a todos espera.
Solidão não é logicamente apenas estar só. Muitas pessoas, dada a sua forma de ser, preferem-no. Utilizam positivamente essa "liberdade" condicionada, e vivem sem demais atropelos.
Claro, desde que tenham alguma qualidade de vida em termos emocionais, se sintam úteis, ocupados, ainda com objectivos.

Ao contrário, há pessoas que apenas o facto de não terem afectos que as preencham, lhes determina uma solidão profunda.
Quando falo em afectos, não me refiro a afectos dos familiares próximos...refiro-me à falta de uma companhia preenchedora. Porque há pessoas que não sabem viver sós!
Dessa solidão à depressão, é um passo; a depressão é a desistência, é o abandono de tudo, até das funções mais básicas, vitais e necessárias à vida em sociedade, é o deixar, dia a dia, empalidecer as cores do que nos rodeia, é o começar a espreitar um amanhã que se acredita sem futuro, é o depor das armas, a retirada, o não valer a pena!

São pessoas por vezes com família, ascendentes ainda, e descendentes;
apenas, os ascendentes, pela lei natural da vida, vão seguindo, os descendentes têm e constroem vidas próprias, não por falta de amor ou preocupação, mas por falta, cada vez mais, de "espaço afectivo", porque eles próprios criaram as suas próprias células de continuidade...

E são essas pessoas, novamente encalhadas na "charneira da vida", que vemos nos bancos dos jardins, que vemos nos cafés a falar sempre das mesmas coisas (normalmente futebol e notícias políticas não muito profundas);
São essas pessoas que vão ficando cada vez mais "atontadas", por ausência de metas, projectos, valorização pessoal, e que vão vendo a vida através do vidro embaciado de uma janela, que lhes mostra uma visão míope, a juntar às suas normais dioptrias...

À medida que o tempo passa, qual o desfecho previsível para estas "estórias"?

Enquanto mantiverem alguma autonomia e nos dias em que reunirem forças e vontade para saírem da cama, fá-lo-ão; talvez "vivam" de episódios que já viveram, de rostos que já foram, de músicas que já ouviram, de histórias que já protagonizaram...

Um dia, normalmente, os descendentes, por razões óbvias, claro, acham esta situação insustentável, porque o é, na realidade, e tomam a doída e difícil decisão, por "bem": levá-las para uma comunidade de "pares", onde os assuntos ou a ausência destes é comum, onde se vê muita televisão, onde o silêncio é pesado e o sono das sestas abençoado, onde se faz e desfaz tricôt ou renda (para quem já soube...), onde estão "muito bem", porque o ambiente é aquecido, os quartos são limpinhos e a comida "muito boa"...e esperam...apenas esperam...
Esperam, mas também já não se rebelam...estão adormecidos numa paz indiferente e anestesiante!...

A princípio, as visitas de rostos conhecidos fazem-se com alguma frequência; a semana, quando há essa noção, aguarda ansiosamente o seu fim, e os olhos, na porta da sala de estar, "grudam", até que entre um rosto que as aqueça...
Depois, começa a ser penoso ter essa "obrigação" todos os fins de semana...
Arrastar os descendentes dos descendentes, é inequacionável...e cada vez menos aquela porta lhes aquece a alma...
Depois, fica o Natal, a Páscoa, o aniversário e pouco mais...

Eu sei que é exactamente assim...mas não é por mal.
É a vida que tende a expurgar de qualquer forma, quem já está a mais! É a vida que trucida tudo e todos, sem compaixão...

Foi esta a sociedade e a família que o Homem conseguiu criar, sobretudo nas grandes cidades (na província ainda há famílias que assimilam até ao fim, no mesmo espaço, os seus idosos), é esta visão apocalíptica, de que eu acho, teremos todos um pavor atroz!!...

Por isso talvez se compreenda, por exemplo, que no Alentejo profundo, um Portugal particularmente só e deprimido, em montes perdidos na planície, haja idosos que antecipem a partida, mais simplesmente, por forma a "libertar" tudo e todos, antes que o último recurso tenha que ser accionado.

São eles que constituem as notícias dos jornais...
São eles que nos fazem pensar e abanar as consciências...
São eles que nos assustam particularmente...
São eles afinal, o espectro dos nossos "futuros"!...


Anamar

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

"THE HUMAN PLANET"

Recebi de uma colega este Clip da BBC, que por si só dispensa apresentações.

Achei que seria merecedor de ser visualizado por quem aqui venha ao meu "cantinho", afinal trata-se de uma visão diversificada e muito bem conseguida, da "casa" que nos foi destinada em sorte no Universo!
A sua diversidade, riqueza, preservação, defesa, admiração, deveriam ser valores por nós, o ser humano, prestigiados, e cada vez mais orientadores das nossas posturas e atitudes, no sentido de tomarmos em nossas mãos acerrimamente a sua manutenção e futuro!!!

Deixo-vos portanto com "The human planet"...


Anamar

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

"CINZENTO IGUAL AO DIA..."

Nada há pior para mim, que precisar escrever, e como um limão seco, espremer, espremer e não sair nada, ou melhor, não me ocorrer nenhum assunto, nenhum tema que me fervilhe na mente, e no entanto...precisar escrever!

Outro dia ouvi da Susana e da Marina, que eu considero verdadeiras artistas plásticas, em matéria de pintura, a óleo, aguarelas, mas também gravura e não só (aliás a Marina tem trabalho reconhecido a nível do público em geral), que não se pinta quando se quer, mas sim quando a vontade e a inspiração brotam cá de dentro...

Eu sempre disse o mesmo, e não é que com isso eu tenha a pretensão de sequer pensar que o que escrevo tem algum valor. Só que, de facto, apesar de me ser uma necessidade vital, seria incapaz de o fazer por "encomenda", porque acho que não se escreve "a metro"...

Portanto, em dias como os de hoje, em que me sinto truncada dessa imaginação, começo a não respirar até ao fundo, como se me estivessem a sufocar e a retirar o tal "oxigénio" de que careço para viver.

Aliás o dia hoje começou mal.
Acordei à hora que deveria para ir para as actividades que iniciei. Iria ter Psicologia e Tai-Shi.
Levantei-me, de facto. Estava cinzento e chovia. Ouvia-se o vento a fustigar a janela do quarto.
Levantei-me e voltei a deitar-me, com aquele amargo de "dever" não cumprido, de ser "relapsa", ou melhor, começar demasiado cedo a ser "relapsa".

Argumentei para mim própria que o repouso seria útil para os meus rins, que de facto, andam a fazer-se "notar demais"...Embora talvez com alguma veracidade, é um pouco esfarrapada esta argumentação.
E dormi até ao meio dia quase, ou seja, eu igual a mim própria...no meu melhor!!!
Mas não quero culpabilizar-me excessivamente por isto...aliás, não devo...embora eu lide muito mal com o incumprimento do que quer que seja, habituada que fui a ver a vida sempre a sério...

Sentia-me um pouco "doída" do dia de ontem...como quem ressaca de algo que nos fez mal, deixando-me uma sensação de desconforto.
Quando me sinto assim, a minha tendência normal é recolher "à concha", espaço protector e isolado. Aqui, na concha, parece que até os "miolos" entram em hibernação e não pensam; não há lugar a emoções que doam, não há lugar ao desenterrar de sensações arquivadas.
Parece que tudo fica naquele silêncio e paz dormentes, que se experimentam, quando se entra numa igreja antiga e só, em que os passos ecoam no empedrado do chão, em que a luz é coada pelas rosáceas ou vitrais das paredes e em que nos encontramos connosco mesmos, se resolvermos sentar-nos por momentos, nos bancos corridos de madeira, cá atrás, olhando no vácuo todo aquele espaço imenso, aquelas abóbadas projectadas ao céu, aquelas colunas grandiosas...e em que ficamos até que o frio que normalmente ali se sente, comece a penetrar-nos excessivamente...

É como costumo chamar-lhe, uma paz quase uterina!

Como vêem, isto está pior ainda do que o tal limão seco de que vos falava no início; isto foi mesmo escrever ao correr da pena...Hoje, apenas tentei aliviar um pouco este barril de pólvora dentro de mim...Relevem! Os doidos têm destas coisas!!!!....

Fiquem bem!

Anamar

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

"ST.VALENTINE'S DAY"


Existem diferentes versões sobre a origem do dia dos namorados.

É bem provável que a festa dos namorados tenha sua origem num festejo romano: a Lupercália. Em Roma,os lobos vagueavam próximos das habitações e um dos deuses do povo romano, Lupercus, era invocado para manter os lobos distantes. Por essa razão, era oferecido um festival em honra a Lupercus, no dia 15 de fevereiro. Nesse festival, era costume colocar os nomes das meninas romanas escritos em pedaços de papel, que eram colocados em frascos. Cada rapaz escolhia o seu papel e a menina escolhida deveria ser sua namorada durante aquele ano todo.

O dia da festa transformou-se no dia dos namorados, nos EUA e na Europa, o Valentine’s Day, 14 de fevereiro, em homenagem ao Padre Valentine.
Em 270 a.C., o bispo romano Valentino desafiou o imperador Claudius II, "the Cruel", que proibia que se realizassem matrimónios.
Para Claudius, um novo marido significava um soldado a menos.
Preso, enquanto esperava sua execução, o bispo Valentine apaixonou-se pela filha cega do seu carcereiro, Asterius, que mercê de um milagre, recuperou a visão.
Para se despedir, Valentine escreveu uma carta de amor para Asterius. Foi assim que surgiu a expressão em inglês "From your Valentine". Mesmo tido como santo pelo suposto milagre, ele foi executado em 14 de fevereiro.

O feriado romântico ou o dia dos namorados judaico: desde tempos bíblicos, o 15º dia do mês hebreu de Av tem sido celebrado como o Feriado do Amor e do Afecto.
Em Israel, tornou-se o feriado das flores, porque neste dia é costume dar flores de presente a quem se ama. Inicialmente, só era permitido às pessoas casarem-se com pessoas da sua própria tribo. De certo modo, era um pouco semelhante ao velho sistema de castas na Índia. O 15 de Av tornou-se o Feriado do Amor, um feriado judeu reconhecido durante os dias do Segundo Templo.
Em tempos bíblicos, o Feriado do Amor era celebrado com tochas e fogueiras.
Hoje em dia, em Israel, é costume enviar flores a quem se ama ou para os parentes mais íntimos. O significado e a importância do feriado, aumentaram em anos recentes.
Canções românticas são tocadas na rádio e em festas celebradas à noite, em todo o país.

No Brasil, a génese da data é menos romântica. Alguns atribuem-na a uma promoção pioneira da loja Clipper, realizada em São Paulo em 1948. Outros dizem que o Dia dos Namorados foi introduzido no Brasil, em 1950, pelo publicitário João Dória, que criou um slogan de apelo comercial que dizia: "não é só com beijos que se prova o amor". A intenção de Dória era criar o equivalente brasileiro ao Valentine's Day - o Dia dos Namorados realizado nos Estados Unidos.
É provável que o dia 12 de junho tenha sido a data escolhida, porque representa uma época em que o comércio de presentes não fica tão intenso. A ideia funcionou tão bem para os comerciantes, que desde aquela época, o Brasil inteiro comemora anualmente a data.
Outra versão, reverencia a véspera do dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro.

Autor - Alexandre Diniz em Blog de 6/9/2010

Encontrei na Net este texto. Ouvira exactamente a história de Valentine na minha aula de Inglês-conversação, na passada quinta feira.
Hoje, que estamos a comemorar o dia, a professora de Inglês II colocou duas quadras bem "naïves", no quadro, que não resisto a deixar aqui :

"My love is like a cabbage
Divided into two...
The leaves I give to others
But the heart I give to you !..."

"I wish I were a China cup
From wich you drink your tea
And every time you took a drink
You could be kissing me..."

Bom, narrada a "story" e suas origens, deixado um apontamento romântico, era inevitável que eu não abordasse a efeméride, em que de ano para ano encaro de uma forma mais ácida...

Claro que direi que sou formalmente contra o "circo" de consumismo montado em torno destes eventos (tenho-o dito, ano após ano em que este blogue existe...)

Claro que direi que é hipócrita haver "dias de" ou "dias para"...isto porque, amar deverá ser o ano inteiro e cultivar e manter essa chama iluminada, também o deverá ser todos os trezentos e sessenta e cinco dias...

Claro que desvalorizarei gestos e atitudes no dia de hoje, muito doces e louváveis, se amanhã já se deixarão murchar as rosas vermelhas, porque as "rosas" são perecíveis...

Claro que direi tudo isto, mas oh incoerência do ser humano!... Sinto-me uma infeliz por eu própria afinal não ter o meu St. Valentine também!...
E fiquei vaidosa e emocionada, quando alguém que me conhece pouco, acha talvez que me conhece o suficiente, para me enviar "um beijo especial para uma mulher especial...neste dia também especial...", ou o meu amigo inglês, de Birmingham, que conheci meia dúzia de dias em Bali, muito só, vítima de AVC, mas um sonhador absoluto, ter arrastado a sua bengala até aos correios, para me enviar um coração vermelho cheio de bombons, de Inglaterra para cá...

Hoje ao almoço, a Lúcia "atafulhava-se" com uma bruta taça de morangos com chantilly, que chegava ao céu, e dizia : "é para aquecer o coração no dia de hoje! É assim o S. Valentim das pessoas sós!"...

Olhei para os morangos e pensei: "Ao menos ela aprecia morangos!..." Se eu fosse católica, diria: "Deus tira com uma mão e dá com a outra!!!!"...

Divirtam-se!!!...

Anamar

domingo, 13 de fevereiro de 2011

"RECOMEÇO"

Estou toda baralhada!

Tenho defendido acerrimamente que tudo quanto são recordações de pedaços de momentos da nossa vida, será o espólio que nos acompanhará e enriquecerá os nossos dias futuros.

Tenho defendido e eu própria sou uma "recolectora" de tudo o que pareça prolongar uma vivência, levar adiante um momento, "fixar" uma emoção, gravar um estado de alma.
Já vos disse que sou uma coleccionadora inveterada de fotos, bilhetes de cinema, pedrinhas da praia, ramos de arbustos, flores secas....guardanapos de papel...doentiamente coleccionadora, sempre na esperança de que cada um daqueles apontamentos, me traga os sons, os cheiros, as cores, as sensações a que esteve ligado.

É sempre um revisitar de anos que já foram e não são mais, de pessoas que já foram e não são mais....da pessoa que eu já fui e não sou mais...daquilo em que acreditei e constituíu um "bluff", das esperanças que tive e foram goradas...dos sonhos que sonhei e se esfumaram!...

E é um facto que o mexer e o remexer nessa amálgama, normalmente não me deixa feliz, nem confortável, nem sonhadora....porque de onírico, esse repositório pouco tem!

Ontem à noite, para queimar o resto das horas de mais um dia da contagem decrescente, e para evitar que o dormir excessivamente cedo me levasse a insónia certa e segura pelo meio da noite (quando já dormimos aparentemente o suficiente e estaríamos prontos a levantarmo-nos, não fossem horas normais de gente normal dormir...), estive a ver um filme na televisão.
Já nem guardo o nome da película, pois não teve interesse por demais.

Apenas o filme terminava com a seguinte frase, dita pelo actor principal (Jude Law), que foi a causa da minha reflexão/baralhação : "As memórias são a razão da infelicidade do homem! Se não houvesse memórias cada dia seria sempre um recomeço!..."

E agora? - pensei...em que é que ficamos?

Efectivamente, sabe Deus a perseguição que me é movida pelas memórias!!!....
Sabe Deus como tantas e tantas vezes fujo delas a sete pés!!!....
E sabe Deus, como por vezes daria jeito que de facto, cada dia pudesse ser um recomeço!!!....

Anamar

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

"UMA NOVA VISÃO SOBRE AQUELA MATA...."

Às três da tarde o dia fechou.
Sobre Sintra o céu estava tão negro, que sugeria aquelas reportagens do National Geographic sobre tufões ou furacões.
Pensei: "quando começar a chover, desaba uma torrente diluviana lá de "cima".

Ainda não tinha feito a minha caminhada diária e agora hesitava seriamente se sim ou não me faria ao caminho.
Tinha a meu favor as calças de caminhada supostamente impermeáveis, o "chuvasqueiro", que como o nome indica, é um corta-vento, corta-chuva...corta qualquer coisa (pelo menos comprei-o como tal), e como ainda não chovia e eu precisava mesmo partilhar-me com a Natureza, com o isolamento, com os meus pensamentos, resolvi meter-me ao caminho...

A poucos metros de casa e alguns pingos de uma chuva não forte, mas contínua, já se faziam sentir.
Eram talvez três e meia, e a luminosidade do dia levava-nos a crer estarmos já próximos da noite.
Pensei: "como será atravessar aquele bosque que certamente estará deserto, com esta chuva ininterrupta, este silêncio profundo, com o cerrado das árvores e arbustos a tornar ainda mais misteriosas todas aquelas veredas?..."

A chuva era copiosa e sentia as calças a gelarem-me as pernas, o corta-chuva muito frio, embora estivesse crente que ele não estaria a deixar passar a água para dentro.
Do capuz escorria-me água para o rosto, e quentes, mesmo, só tinha os pés.

O bosque estava efectivamente deserto e silencioso. Não vi vivalma, não cruzei ninguém, e até a passarada habitual, devia ter-se protegido na folhagem.
Na ausência de sol, as flores estavam fechadas, as azedas amarelinhas que atapetam o chão haviam cerrado as suas campânulas.
Apenas das mimosas, agora a florescer, pingava água de cada cacho.
Com mais um pouco de sol e calor, e tê-las-emos transformadas numa explosão de ouro e aroma intenso, naquela mata.

Foi estranho, foi diferente, foi de uma solidão absoluta aquele caminho.
Apenas a chuva fria desabava sobre tudo.
Mas gostei...não me arrependo de ter ido. É na realidade uma terapêutica para a alma, a partilha com a Natureza, esteja chuva ou esteja sol, é um multivitamínico tomado como curativo das mazelas do coração!...

Só teve um senão, a minha caminhada de hoje...É que ao chegar a casa e tirar a roupa, constatei que de impermeável, nada daqueles trajes tinham, o que significa que desde o cabelo até à roupa interior não era frio que eu sentia...era mesmo a roupa a deixar-se passar pela chuva!...
Assim sendo, não sei se poderei reincidir...

Anamar

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

"O MILAGRE DOS BOTÕES..."

Estou um pouco "robôtizada"...
passo a explicar: não há fome que não dê em fartura!
Hoje tentei amanhecer a cores! Se vi "passarinho verde" como dizem os brasucas?
Pois garanto-vos que nem verde, nem azul, nem de cor nenhuma, só os do meu bosque da caminhada...
Apenas, resolvi mover-me a "botões": 1º botão, travar o despertador pelas 9 horas (nada mau!), 2º botão, duche, 3º botão, pequeno almoço, 4º Inglês, 5º Tai-Chi, 6º Tuna, 7º Danças de Salão, 8º Caminhada...e desejos de meter fotografia neste mosaico...

Já estão a rir-se não estão?
Pois é! A minha filha também se riu e disse-me: "Ah...muito bem! Finalmente percebeste que tinhas que te mexer!... Vamos ver se chega até à Páscoa!!!..."

Percebi a ironia dela e tive vontade de lhe responder (mas aí ia estragar tudo): "Vamos ver se chega ao Carnaval!!! rsrsrs"

Mas como "um cedo faz muitos cedos" (mais outro dos sábios ditados da minha mãe), não sei se estão a perceber o espírito da coisa, já tomei o pequeno almoço que nem gente normal, já almocei que nem gente normal, agora estou a banhar-me de sol num banco de jardim, e durante várias horas do dia, ligada a esta corrente de muito mais que 220 volt, não tive tempo de me concentrar em grandes coisas.
Apenas durante a caminhada, no bosque de que vos falei, enquanto inspirava profundamente o ar puro que por lá circula e absorvia o silêncio que se ouve, deixei vogar livremente o pensamento, tentando não aprofundar emoções de nenhuma espécie, e como tal, anestesiando a vida.

Estas "terapêuticas agressivas" que de repente me atravessam a mente e me enchem de súbitas e repentinas intenções, energias, mas realizações pouco duradouras, e portanto pouco profícuas, são o meu lado "escorpiónico" puro. Tudo funciona sempre a 0 ou a 100%...e depois dá bota!!!

Vou usar a técnica da minha filha mais nova: ir experimentando muitas coisas que, penso, me possam agradar, e seleccionar depois;
Quem sabe assim, o 10º botão seja o do candeeiro da mesa de cabeceira, para apagar a luz e me apagar a mim, para mais uma noite, em que, com sorte, algum sonho ilumine o pesadelo que por vezes é a minha vida!!...

Anamar

domingo, 6 de fevereiro de 2011

"PASSAR E ESPERAR"

Para mim,tal como as portas são locais de "passagem", os bancos são locais de "espera".
Tenho "fetiche" por portas, já aqui disse, fascinam-me, planeio fotografa-las,nos meus tempos livres; para mim, são idênticas à vida, locais de passagem, de transição, que separam mundos, que vedam normalmente o desconhecido, a que só tem acesso quem as transpõe.

Pode valer ou não a pena atravessar uma porta. Nunca sabemos...
Pode valer ou não a pena fazer o percurso da vida...também nunca sabemos...

Atrás dela "contam-se" histórias, há fantasmas e fantasmas de seres, que ao longo dos tempos dividiram aquela porta; há miríades de risos e de choros, de alegrias e desgostos que se compartilharam com ela.

Através dela, quando se nasce, se passa para dentro, e quando se morre, através dela passa-se normalmente para fora. E ela fica inexpugnável, até que o tempo a deixe...

Os bancos é outra história...os bancos são locais de "espera", locais de "fazer tempo".
E "fazer tempo" é apenas privilégio de quem já o viveu, é privilégio de quem tem relógios a andar mais devagar...
Lá, as pessoas encontram-se e portanto esperam umas pelas outras, às vezes com o coração aos saltos.
Lá, as pessoas adormecem deixando que o sol as atravesse até à alma...
Lá, qual miradouro da rua, da praceta, do bairro, algumas pessoas "esticam" as horas dos dias, que assim se tornam intermináveis, o que lhes acrescenta a vida...
Lá (tal como a D.Madalena), se "fazem horas", para regressar a uma casa vazia e sonolenta, presumo;
Lá, se conversa e se desconversa, quando o ouvido "endurece" e já não se percebe com nitidez a conversa do vizinho de banco...

São locais de convívio ou também podem ser locais de solidão.
Muitas vezes são apenas locais de paz, de parêntesis na vida, aprazíveis, sobretudo se divididos com mais olhos que gostem da mesma paisagem, que admirem igualmente o mesmo mar, o mesmo verde, o mesmo jardim, o mesmo céu...
São locais de mães, que à distância olham crianças que brincam, quando foi o tempo...

Mas são sempre locais de "espera"...

E espera, é tudo o que o ser humano faz todo o tempo da sua existência...o que muda é aquilo que vai esperando ao longo dos tempos...ou aquilo em que acredita ainda poder esperar...

Anamar

sábado, 5 de fevereiro de 2011

"O ETÉREO MUNDO DOS LOUCOS"

O etéreo mundo dos loucos, ou o reino dos que se passaram já para o "outro" lado...

Acho que nunca vos falei disto, mas desde criança, que a ida àquele local era algo penoso, inquietante, angustiante para mim.
Mas lá ia, no sábado ou no domingo que os meus pais entendiam. Era sempre como se fosse devassar um mundo de duendes, seres estranhos e imprevisíveis que me assustava.
Sempre senti o mesmo, mesmo depois de adulta, mesmo com outro entendimento das coisas, mesmo quando fui eu que tive que tomar a cabeça da situação, por morte do meu pai.

Eu tenho um meio irmão, mais velho que eu dezassete anos, fruto de um primeiro casamento do meu pai. Essa união foi efémera, e quando o meu irmão tinha apenas dois anos, perdeu a mãe.
A partir daí, e tendo o meu pai que levar a vida adiante, o meu irmão foi "jogado" de casa de familiar para casa de familiar, meio de empréstimo, meio de compaixão, até o meu pai casar segunda vez, anos depois, com a minha mãe.
Quase logo nascia eu, e quase logo o meu irmão adoeceu, aos dezassete anos de idade.

Uma esquizofrenia grave, procura dos mais eminentes médicos da especialidade à altura, Egas Moniz, Elísio de Moura (não esqueçam que estamos no início da década de 50), electrochoques, coletes de forças, internamentos, fugas, etc, etc, um inferno vivido, penso.

Finalmente desenganado, e tendo a doença ficado, por assim dizer, crónica, o meu irmão ficou definitivamente internado numa Casa de Saúde para doentes mentais, onde "vive" há 60 anos, portanto.
Como família tinha o pai, tinha a minha mãe que adoptou como "madrinha", tinha-me a mim, com quem nunca viveu...Ninguém mais.

Há dezoito anos atrás o meu pai faleceu, a minha mãe locomove-se com alguma dificuldade nos seus 90 anos, as sobrinhas, minhas filhas portanto, subtraíram-se o mais possível (sobretudo a mais velha), ao constrangimento do penetrar naquele mundo...eu, penalizo-me pela ausência excessiva e injustificada...

Hoje, lá fui, tentar com uns "mimos" disfarçar o que não é disfarçável na minha consciência, a minha falta...
E como sempre, desde menina, senti exactamente aquele aperto claustrofóbico de um mundo paralelo ao nosso mundo.
Um mundo de pessoas que estão noutra realidade.

Em miúda e ao tempo, encaravam-se as deficiências como uma espécie de mácula ou vergonha familiares, e eu acho que tinha vergonha de que me conotassem com aquele ser.
Hoje, sentada ao sol, lado a lado com ele, num banco ao ar livre, com o azul de um céu escandalosamente lindo por cima de nós, com os trinados dos primeiros pássaros que já se baralharam de estação, e acham que a Primavera já aportou...eu olhava à volta e analisava as reacções, o vestuário, a postura, todo o surrealismo de tudo aquilo, a lembrar um filme de Woody Allen.
As conversas que entabulam connosco, sem nexo na maior parte das vezes, a moedinha de 1 euro que é pedida, p'ro café, o cigarrinho à socapa, os beijos e abraços apertados e infindáveis de que somos alvo, se por acaso se focalizam em nós...tudo aquilo...é aquilo....não se descreve...só se vê...só se sente...só nos atormenta!

No meio daquele cenário (que ironia), algo me faz inveja.
É que aquele reino, que é do silêncio, que é do olhar perdido, que é da ilógica estabelecida...parece ser um reino de paz, é um reino em que já não há degladiação, nem juízos de valor, nem angústias, nem desejos...se calhar também já não sofrimento.
Não há passado nem futuro...o presente, não sabem bem o que é...

Tudo isto, à distância apenas de uma fronteira, a fronteira entre a "normalidade" e a "loucura"...à distância do atravessar daquele portão e do franquear daqueles muros...

Anamar

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

"COISAS DO ANTIGAMENTE...."


Hoje é dia de Nossa Senhora das Candeias.

Sabiam? Aposto que não...
Eu sabia...mas a minha mãe sempre se encarrega de me refrescar a memória, ano após ano, com estas questões "importantes"...

Acabei de falar com ela pelo telefone.
As chamadas são sempre curtas, porque são de telemóvel e ficam caras, de modo que giram sempre em torno dos mesmos itens: se dormiu bem, se já telefonou à neta mais velha, o que já fez em casa (se lavou, se limpou, se varreu....essas coisas importantes...), se já fez a caminhada diária que se auto-propôs (sim, que a minha mãe tem uma força de vontade e disciplina férreas, não é que nem eu!)...e terminamos normalmente em "como está o tempo"...

Aí é que entrou a Sra. das Candeias;
Diz ela que os "antigos, as pessoas do campo" (sic), se regulavam por estas coisas.
Passo a explicar qual um "Borda de água": "Se a Sra. das Candeias rir, está o Inverno p'ra vir....Se a Sra. das Candeias chora, está o Inverno fora", ou dito de outra forma, se o dia for de sol, o Inverno ainda estará para continuar, mas se ao contrário, chover, o Inverno está à beira do fim.

Ora este ano, como se constata, Ela riu; o dia hoje está lindo, de sol e céu limpo, portanto, como me dizia a minha mãe, "devo abrigar-me, porque se já estou constipada, tendo a não melhorar".

E eu perguntei-lhe (farta de saber, mas tendo que arranjar assuntos que interessem os seus quase noventa anos): "Então não é amanhã, a Sra. das Candeias?"
Resposta imediata: "Não, amanhã é S. Brás, protector dos problemas de garganta!"...

Lembro-me bem e enternecidamente, de em miúda sempre ir à missa e aos festejos que marcavam a data de amanhã.
Morava ao tempo em Évora, 7,8,9 anos teria na altura...numa avenida que tinha ao cimo, uma Igreja em homenagem a S. Brás, que todos em Évora conhecem e que ainda lá está, claro, no chamado Rossio de S.Brás.
Nesse dia, a Igreja tem festejos próprios em honra do santo.
Recordo com uma nitidez absoluta de, depois da missa, se formar à porta da igreja uma fila de pessoas, entre as quais estava eu, que iam deixar uma dádiva ao santo, recebendo-se em troca um "santinho" para marcar os livros de missa...

A minha esmola era p'raí de cinco tostões, já não lembro...e em troca não iria ter anginas o ano inteiro!!!!
Ainda hoje me parece "justo"!!!!!

Meu Deus...como o tempo corre!
Mas é como se me sentisse claramente na fila dos esmoleres ainda, com a moedinha na mão!
S.Brás, Évora, infância...o meu pai, a minha mãe, avós, tios, primos...a família incólume...ainda...há tantos anos já!!!!

Anamar

domingo, 30 de janeiro de 2011

"TARTARUGAS MARINHAS"


A tartaruga marinha , existente há 150 milhões de anos no planeta, é um réptil de origem terrestre, mas que evoluíu para o mar.
A sua carapaça tem cerca de 2 metros e pesam cerca de 600 quilogramas. São verdadeiros monstros marinhos, respeitáveis, com características muito próprias e simpáticas.

A tartaruga marinha sempre volta ao local onde nasceu. Na praia onde nasceu, ali desova, dando continuidade ao ciclo da vida, quando atinge o estado adulto, pelos 20 ou 25 anos de idade.
A desova das tartarugas marinhas, espécie protegida sobretudo em países que já estão sensibilizados para a inevitabilidade de se tratar de uma espécie em vias de extinção, e como tal, protegida, é um verdadeiro espectáculo.

Acontece na escuridão do início da noite. Não pode haver movimentações estranhas ou ruídos no areal, ou sequer luminosidade que não a natural, que a perturbe.
As tartarugas deixam o mar e sobem em direcção ao areal. Aí, com as suas patas nadadoras, ao estilo de pás de escavação aprofundam buracos para o depósito dos ovos. Acontece serem mais de cem ovos por ninho, embora a viabilidade de fertilidade desses mesmos ovos seja de 50%.
Durante a desova, a tartaruga entra em transe, um estado cataléptico tal, que se for tocada, não o acusa.
Quem quer assistir a este verdadeiro espectáculo, deverá ter uma postura silenciosa e discreta, vestindo-se de cores escuras, para que nada interfira na paz que deve reinar no areal.

Terminada a desova, a tartaruga cobre cuidadosamente os ovos, e disfarça o local, igualmente com as patas. Ela "sabe" que os predadores para os futuros nascituros, são imensos, desde aves marinhas, caranguejos, peixes, até infelizmente, o ser humano.
De seguida dirige-se para as águas onde vive, as profundidades oceânicas, por onde se passeia na sua cadência lenta, no meio dos abismos rochosos ou nos "jardins" de corais e anémonas, onde a luz solar, difusa, penetra mais ou menos, levando a água de azul escuro a turqueza e onde as cores multicoloridas dos peixes, de fazer inveja a qualquer arco-íris, acendem fogachos de irrealidade...

Quando os ovos eclodem, as pequenas tartarugas correm para o mar, seu habitat natural, mas ainda assim, a estatística de sobrevivência é de cerca de 1% apenas...

Eu acho que tenho um pouco de tartaruga marinha.
A minha "carapaça" também é imensa, e nela procuro esconder-me e proteger-me face às intempéries da vida, e com ela me defendo dos predadores da mesma...
Como ela sou um animal de solidão...e adoro o mar!
De resto, cumpro, sem discutir, tal como a tartaruga, o caminho adiante, escrito e destinado, o ritual de sobrevivência, lentamente, como uma dança...seraficamente...

Só não tenho a sorte de ter como ela, aqueles jardins à minha disposição, flores de coral e anémonas "bandos" de peixes indescritivelmente belos a rodear-me, abismos silenciosos, enigmáticos e profundos...

Anamar

sábado, 29 de janeiro de 2011

"MOURINHO - A VITÓRIA DO HOMEM"


Computador avariado, para variar (eu acho que são os desígnios divinos que se conjuram para me tirar "protagonismo" aqui no meu canto....rsrsrs). Bom, mas há sempre um amigo generoso que sabe destas engenhocas, e que o tirou do estado comatoso para o recobro (ele coitado não tem muito mais hipóteses)...

Simultâneamente, e acho que por solidariedade, adoeci eu. Eu, infelizmente continuo, e portanto tenho passado o máximo tempo possível na cama (nem PC, nem TV...vontade zero...escrever, também não!)
Mas voltei às lides.

Há dias recebi um mail, que reencaminhei para os meus contactos todos, tal a "enormidade" que eu acho ele constituir.
De um amigo, recebi de volta, o repto de abordar o meu ponto de vista, aqui no "Filosofices".

Eu sou uma mulher de consensos, mas não refuto uma boa demanda, dialéctica, troca de opiniões e pensares, sobre nada, portanto embora sabendo que é polémico, aqui estou.

Primeiramente, vou disponibilizar o texto do mail tal o recebi, e depois, tecer aquilo que se me oferece sobre o seu conteúdo.


José Mourinho: Deus e a carreira de sucesso

Melhor treinador de futebol do mundo fala da sua fé, da Bíblia que lê antes dos jogos e da «missão» que lhe sente ter sido destinada
Madrid, 22 Jan (Ecclesia) - José Mourinho acredita que Deus também faz parte da sua carreira de sucesso e, rejeitando superstições, gosta de ler algumas páginas da Bíblia antes dos jogos não para “Lhe pedir” ajuda, mas porque “acredita que Ele está”.

“Quando leio a Bíblia não estou propriamente a pedir-Lhe para que me ajude. Eu não peço para que me ajude num jogo. Mas penso que se eu for um bom homem, um bom pai, um bom marido, um bom amigo, se tiver uma vida social compatível com aquilo que são os Seus ideais, penso que tenho mais possibilidade de... É uma coisa que me alimenta na fé”, refere o treinador da equipa de futebol profissional do Real Madrid.

As declarações de José Mourinho foram recolhidas em Madrid, no âmbito de um projecto editorial sob figuras empreendedoras em Portugal, promovido pelo CLEPUL (Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) em parceria com o Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa e com a Universidade de Aveiro, a que o Programa «70x7» se associou.

[[v,d,1758,Melhor treinador de futebol do mundo em registo pessoal, no «70x7»]]Na emissão deste Domingo, 23 de Janeiro, o «70x7» apresenta José Mourinho num discurso na primeira pessoa.

O homem que recentemente foi eleito o melhor treinador do ano pela FIFA/France Football diz quais as suas convicções, as memórias pessoais que determinaram a sua vida e o que faz dele o “special one”, o especial.

Para José Mourinho, tem sido determinante para o sucesso desportivo o facto de ter tido formação académica, capaz de lhe dar conhecimento para exercer lideranças com qualidade.

“Eu tive formação académica porque quis ter e porque nasci numa família onde havia um certo controlo familiar”, refere, recordando a importância da mãe, professora, no seu percurso formativo, assim como a influência da mulher, que estudou filosofia.

“Há uma coisa que digo sempre: tenho de tomar decisões mas tenho de ter razões para as minhas decisões” porque, reconhece, “o jogador de futebol não é fácil gerir”.

Nos momentos de tensão, quando toma decisões por intuição e que determinam um jogo e, por vezes, uma época, reconhece também a presença de Deus.

“Eu digo sempre: Ele lá em cima apontou para mim e disse tu vais ser um dos talentosos naquela área. E assim foi”, afirmou Mourinho.

“Sem ser aquele praticante profundo - que não o sou ou por personalidade ou pelo próprio estilo de vida que acabo por ter - acredito muito que ele está e que, da mesma maneira que me escolheu como um dos eleitos, eu tenho também uma missão a cumprir neste mundo”, precisa.

“A minha leitura de duas, três, quatro páginas da Bíblia antes dos jogos é simplesmente um acto de fé e de me sentir bem”, acrescenta.

No programa «70x7» de 23 de Janeiro, com emissão na RTP2 pelas o9h30, José Mourinho revela também as suas convicções e as características de uma personalidade que fazem dele o melhor treinador de futebol do mundo.

(sic)

Aborda ele a figura de José Mourinho, e o que eu considero de "aproveitamento abusivo e ridículo" da Igreja Católica, sobre essa figura, e que só poderá envergonhar os cidadãos de uma forma geral: os católicos convictos, irão enrubescer e pôr os olhos no chão, os assim assim, vão assobiar e olhar para o lado e os que o não são, que é o meu caso, vão ficar irritados. Afinal este país não sai da parvoeira nem da basbaquice do costume. Ainda não saímos de umas e já estamos noutras...não há coração que resista!!

Devo dizer que por um lado não gosto de futebol (embora o respeite e o considere uma verdadeira arte de malabarismo à flor da relva, quando bem jogado),segundo, sou agnóstica, terceiro, não simpatizo particularmente com Zé Mourinho, portanto, sou insuspeita, creio, p'ra me pronunciar.

Mourinho tem inegável e internacionalmente o mérito que lhe reconhecemos;
admiro-o pelas suas qualidades, que ao que parece lhe estão nos genes.
Começou de baixo, de ascendência quase humilde (que nunca negou), soube o que foi subir a corda a pulso.
É um homem de convicções, um líder, um perfeito "orientador" de homens. Tem metas, objectivos, é coerente, sabe onde está a "estrela" e sabe o que tem que fazer para a ir lá buscar.
As suas qualidades de liderança, reconhecidas aliás pelos seus pupilos, são de respeito, de auto-confiança, de audácia, de amizade, de incentivo, de disciplina e de muito trabalho.
Mourinho não tem um emprego, tem um trabalho, persistente, sempre persistente...

É um "self made man", que projectou, lado a lado com Cristiano e Figo, a imagem de Portugal nos recantos mais inóspitos do planeta.
É um "low profile", controlado, de nervos de aço, cabeça no sítio e pés bem no chão.
Tenho para mim que sabe perfeitamente, que se não exercesse o seu trabalho de uma forma séria, honesta e rigorosa, nem Sto. Expedito (advogado das causas impossíveis, segundo a minha mãe), olharia por ele.

Como disse, não simpatizo particularmente com a figura de Zé Mourinho. Aliás, acho que ele deixou criar à sua volta, uma imagem de marca excessiva, já adoptada, o que desilude um pouco, na personalidade do "special one".

O semblante inalterado, denotando emoções muito controladas, acho um pouco "trabalhado" demais. As maçãs do rosto marcadas, o ar distante e duro, uma desagradável arrogância, querem fazer acreditar que se trata de um assumido "ice man".
Ora eu não creio, apesar de nunca o ter visto sequer sorrir, que quando na sua intimidade, Mourinho solte um "dassee".....não se dê conta, de que se ali se deu realmente qualquer coisa, mais que suficiente para lhe abrir no rosto um sorriso de orelha a orelha!!!! rsrsrs!!

Anamar

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

"PALAVRAS PARA QUÊ??..."



OBVIAMENTE AS MINHAS PALAVRAS ESTARIAM A MAIS!!...

ANAMAR

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

"ESTORINHAS DA HISTÓRIA..."


Estou cheia das piores intenções. Hoje resolvi "comprar" a minha gaivota...Sim porque tudo tem um preço, incluindo as gaivotas.

Verifico que o seu voo é mais e mais rasante à minha janela, de dia para dia, e mais, que a minha gaivota já aliciou as amigas a passarem por aqui. Sendo assim, tenho uma família a trazer-me a aragem do mar, os grasnidos inconfundíveis e o ruído da rebentação aqui bem para perto de mim...

Por isso, achei que devia obsequiá-las com uns pedacinhos de bolachas sobre o parapeito...e como a tentação também nas gaivotas é superior ao que manda a prudência....não demorará que elas venham buscar à minha mão, a guloseima...aliás, como na Costa Rica eu também aliciava, indecentemente, a "ingénua" passarada!!!!

Hoje lá fui à minha caminhada...através daquele bosque, que qualquer dia estará um espectáculo.
Neste momento isso já se adivinha, pela eclosão das flores nas árvores, que vão do branco ao rosa, o amarelo das azedas que atapetam o chão, os medronhos a despontar, e ainda raminhos das bagas vermelhas do azevinho do Natal, que por lá ficou esquecido...não falando já na explosão do ouro das mimosas.
A passarada também por lá anda, de galho em galho, hoje particularmente feliz, porque um bonito sol de Inverno iluminava as clareiras.
Os melros de bico amarelo já nem levantam à minha passagem, e a água que corre no ribeiro, totalmente transparente, mostra os seixos e os líquenes que se depositam no fundo.

Aquele bosque era local de passeio da Rainha D. Maria I, aliás, ele situa-se frente ao Palácio Nacional de Queluz, residência da monarca e apesar de estar ao abandono, o que faz doer a alma, ainda mostra um pequeno miradouro de sua magestade (hoje sobre a IC 19....), e restos de azuleijaria portuguesa antiga, com as características cores azul e amarelo, totalmente vandadalizada, à boa "moda", infelizmente, de muito do nosso património...

E pronto....o assunto hoje é pobrezinho e um pouco chocho, mas se vos transportei por alguns momentos, para uma realidade mais fresca, de ar puro e são...já não foi tempo perdido!!

Anamar

domingo, 16 de janeiro de 2011

"UMA ROSA..."


Isabella estava junto à vidraça e olhava o cinzento uniforme que tinha à sua frente, por onde bandos de pombos voejavam.
O seu olhar estava mergulhado no seu pensamento, e o seu pensamento fixado no nada...

"Por que não pode haver um terapeuta que abra um coração com um bisturi e tire lá de dentro, como um coelho da cartola, o intruso que o ocupa?? Por que tem alguém que percorrer uma via sacra de dor, desespero, angústia e abandono, para que consiga simplesmente o desiderato de passar esponjas com lixívia nesse coração magoado??
A lixívia esbate, esbate, mas há manchas que nunca se conseguem apagar..." - tantas vezes já ouvira a empregada reclamar!!

Isabella estava por demais cansada.
Era uma mulher cheia de potencialidades a muitos níveis - era o que diziam - mas não as explorava.
Não dava um passo, não se mexia. Parecia anestesiada, apática, incapaz de qualquer reacção.

A sua vida decorria entre o que fora e o que era, entre o analisar e o decidir, entre o entender e o aceitar...num marasmo tão grande que lhe tolhia até o discernimento, a vontade e o orgulho próprio, imobilizando-a.

Era inteligente o suficiente para ter capacidade de dissecar tudo o que fora a sua vida, conhecia os caminhos de fuga, mas na eminência de um "tsunami", deixava-se ficar à espera de ser engolida pela onda...
Parece que abdicara de viver!!
Que "poção" pegadiça e imobilizante tinha ingerido!!

Isabella era assim. Não era uma mulher pragmática, objectiva, prática, pronta a arregaçar mangas e reagir às adversidades. Sempre o coração lhe havia comandado a razão.
Não...Isabella queria, porque queria, voltar ao útero materno; ali estaria defendida; cá fora, era uma criança largada só, no meio de uma grande cidade...

Olhava os pombos, olhava o céu e pensava: "quando alguém muito querido parte e nos deixa, acompanhamo-lo, sabemos onde o deixamos e onde o "encontraremos", se precisarmos ainda "senti-lo", falar com ele, dar-lhe uma rosa!...
Onde se deixam então as flores dos morto-vivos que perdemos por aí??...
Onde será que as podemos deixar, para sufragar essas memórias, que nem com lixívia no coração, desaparecem??!!..."

Anamar

sábado, 15 de janeiro de 2011

"A MAIOR ARCA!..."

É sábado, uma e um quarto da tarde; estou invariavelmente a tomar o pequeno almoço, no café habitual.
Estamos no início de mais um fim de semana, aos quais não consigo adaptar-me sem angústia, e esta é a minha hora preferencial dos sábados e domingos ( dias menos rotineiros que ao longo da semana), porque a esta hora, as pessoas ditas normais, já almoçam, nas respectivas casas.
O café está muito mais só e consequentemente, o sossego impera.
Escuso portanto de ouvir as histórias, os "debates", as opiniões, as insanidades (quantas vezes), que não peço para ouvir.
A esta hora há mais silêncio...

Li agora num jornal, uma crónica de Joel Neto, cuja escrita aprecio, e que faz parte, aos sábados, da revista que acompanha o JN.
O tema de hoje versava as casas minimalistas, muito procuradas e apreciadas actualmente, e que segundo ele, o confundem, digamos, pelo absoluto vazio de tudo, com padrões normalmente esiereotipados,(só lendo a crónica nos apercebemos da satirização da mesma), e uma espécie de "solidão" interior, reduzida ao sofá, ao puff, ao plasma, à aparelhagem B-O, os livros provavelmente no iPad, as músicas no iPod...parecendo que são os seus habitantes apenas um complemento necessário e indispensável à decoração e ao preenchimento das mesmas...

Eu sei que essas casas, ou melhor, essa forma decorativa, é muito apreciada pelos jovens, sobretudo.
Não sei se receiam tropeçar nos móveis, se pensam que representa uma forma de ser "muito à frente"...o que é facto é que adoram os "openspaces" e o minimalismo total.
Também sei que se trata de um estilo de decoração, não uma ausência de objectos, de qualquer forma talvez até se entenda, porque os jovens "ainda" não têm necessidade de se rodear de muitas memórias ou escoras (ou ainda as não detenham), que por vezes, são os próprios objectos que nos dão...

Da leitura do texto reportei-me à minha própria casa, e reflectindo sobre ela, concluí várias coisas;
Quando me divorciei, as minhas filhas achavam, e eu também, que deveria mudar de espaço, porque com ele, iriam as vivências.
Tive a casa à venda ainda durante seis meses, mas retirei-a de venda.

De facto, a minha casa é um "ovo". Eu creio que não tem dez centímetros de espaço para pôr mais nada, em divisão nenhuma.
O meu ex-marido chamava-a de "museu"; mais tarde, um dos tais "minimalistas", meu amigo, referia-se, não ostensivamente, claro, ao sobrepreenchimento dos espaços...
Eu costumava argumentar, dizendo-lhe (o que era verdade), que aquela casa fora uma casa de família, onde viveram quatro pessoas; consequentemente, um repositório de coisas próprias, com uma decoração clássica, agradável, pelo menos, sempre até hoje elogiada por quem lá entra...

E o que eu sinto, é que ficaria absolutamente órfã se me tirassem dali.
Embora eu diga muitas vezes que se trata de uma casa sem alma (isso não advém da casa, mas da incapacidade de eu própria ter criado um "ninho" naquela casa, de eu própria, e porque foi sempre uma casa de solidão (acompanhada ou não), a "aquecer" com o coração e a alma...advém de ter sido sempre uma casa de tristeza;

Ficaria órfã, dizia, se deixasse de ter aquela infinidade de fotografias a olharem-me, se deixasse de ter aquela mobília do escritório do meu pai, se deixasse de poder ter as pequenas e insignificantes recordações dos lugares mais inóspitos de férias, se deixasse de poder olhar a minha primeira boneca de porcelana, os meus postais ilustrados dos primeiros aniversários,escritos com aquela letra muito desenhadinha que todos conhecemos, o micro servicinho de chá com bonecos da Disney, que a minha madrinha de baptismo me ofereceu, sabe-se lá que idade eu teria, e com o qual a minha mãe nunca me deixou brincar, se deixasse de poder manusear objectos pessoais do meu pai ( a cigarreira de prata com o monograma inscrito, o relógio de bolso, com corrente, o adaptador do lápis com que escrevia, também em prata, para que o lápis fosse aproveitado até ao finzinho, uma pequena navalha com que os afiava, o pin da associação dos Inválidos do Comércio, de que era sócio fundador), a tacinha das flores, uma de cada, de todas as que teve na jarra da sua campa no cemitério, um novelinho de pêlo do Óscar, que já me deixou há tanto tempo...eu ficaria órfã, tenho a certeza...

Neste momento, se é que eu tenho algumas referências seguras, na minha vida, como as amarras nos cais, são aquele espólio, aquele conteúdo, que para alguns é excessivo, mas que para mim,ainda vai sendo o conforto de um colchão de penas para a alma, a toca, o buraco, o refúgio...
Tenho a sensação de que aquela casa é o meu "bunker", e que ali nada de mal me pode acontecer...mesmo não tendo a tal "alma", o tal calor humano que a vida nunca lhe conseguiu dar...

Não é à toa que a casa reflecte a personalidade de quem lá vive,de quem a decorou, e é exactamente assim.
Eu rodeio-me como muitas vezes já referi, de coisas por vezes insignificantes que referenciam momentos, ocasiões, alegrias e tristezas; eu encho arcas e arcas de tudo aquilo que me preenche a alma, e a minha casa será com certeza, de todas elas, a maior arca que eu tenho!!...

Anamar

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"O CRIADOR E A OBRA"


Chegou-me à mão, via PC, um artigo que li, deitei fora, mas que recuperei depois, para voltar a ler, na medida em que fiquei a pensar nele.

O artigo é escrito por Guilherme de Melo, jornalista, que foi, durante quarenta anos amigo de Carlos Castro.

Não pensem que vou debruçar-me sobre o "caso mais mediático" da actualidade;
primeiro, porque já está gasto por demais, segundo, porque toda a gente opina, conheça ou não os meandros da questão, terceiro, porque não estou para me expor, a fazer juízos de valor sobre uma figura que teve tanto de polémica como de controversa, naquilo a que eu chamo de lixo no jornalismo português...

Aquilo que me fez reler o artigo com maior acuidade, foi uma faceta nele revelada, que dá que pensar, e que é mais frequente do que se supõe, no ser humano...

Guilherme de Melo procura traçar um retrato tão fiel quanto possível, do amigo da seguinte forma:

"O Carlos vivia o amor como um fantasista, um sonhador. As coisas eram como ele queria, não como na realidade eram. Sempre foi um "naif", uma pessoa de grande ingenuidade, uma criança grande. Quando amava, entregava-se completamente. Estava desfasado do seu tempo, vivia fora do tempo. Era um crédulo!" (sic)

Nunca tive nenhuma simpatia por Carlos Castro; não pelas suas opções sexuais. A esse nível, sou absolutamente despida de preconceitos e tabus, e respeito integralmente também essa liberdade dos cidadãos.
Mas este aspecto personalístico revelado pelo seu amigo de muitos anos, tocou-me particularmente.

À semelhança de Carlos Castro, há quem, narcisisticamente ame a "obra" de tal forma a realiza, que a corporiza, apagando com isso a realidade, (sobretudo se esta lhe for adversa), a conceba, a invente, nela acredite à medida das suas necessidades, e ingénua e piamente a torne "real", alimentando-se dela...

Normalmente são pessoas não pragmáticas, não com os pés assentes na terra, mas sim carentes, sensíveis, ingénuas, marcadas pela dureza da vida, que necessitam estar permanentemente num palco imaginário, fantasiados de uma felicidade que nunca tiveram, onde as possam aceitar,amar...acarinhar...

Como consequência tornam-se figuras obsessivas, possessivas e absorventes, pois não têm "endurance" para deixar "fugir" aquilo que "criaram" e em que acreditam.

Digamos que não são pessoas deste mundo;
Nesse sentido, e com este perfil, nada mais lógico que Carlos Castro estar ligado à ribalta, às lantejoulas e às plumas, da pseudo fama, do cor de rosa, do postiço, do sonhador...do fantástico!!!...

As sus vidas estão afastadas da realidade, e eles nem dão por isso, "negam" o contrário, recusam o que não corresponda à fantasia das suas cabeças; daí, sossobrarem, quando o chão lhes falta sob os pés e exultem quando acreditam que a sua "felicidade" foi atingida...

Apesar de como disse, não empatizar com a figura de Carlos Castro, nem pessoal, nem profissionalmente, rendo-me com muita complacência, quase alguma ternura, e curvo-me, apesar dos pesares, perante a memória daquela criança que nunca cresceu...

Anamar