segunda-feira, 14 de julho de 2008

"O VIRAR DA PÁGINA"



Nada me é mais penoso que "virar uma página"...

Ao longo da minha vida já virei algumas...demais.....eu creio ; cada uma como quem arrasta o mundo, umas mais, outras menos, mas todas igualmente devastadoras...pesadas, que só visto!

Quando uma página se vira, ainda que queiramos vir atrás e "reler"... o raio das "letras" já lá não estão...
"Emigraram" ou então, provocadoramente, brincaram de "esconde-esconde" e gozando com a nossa cara, já não formam frases que façam sentido...
E pronto...perdeu-se aquele "texto", ou melhor...aquele texto ficou numa das gavetas da nossa memória ou coração, para sempre...
Uma gaveta que se abre nos Outonos, quando a luz lá fora é de um bronze adocicado, quando a nostalgia cá dentro é mais que muita e quando a solidão nos convida ao recolhimento, à interioridade...ao silêncio uterino protector... e os dias-noites nos aconchegam em édredons imaginários...
E isto vai-se repetindo, ano após ano...e aquela gaveta vai ficando mais ténue, mais esbatida, mais desfocada, como a visão de alguém cujas dioptrias aumentem despudoradamente...

E há um dia em que nós pensamos se aquela página foi mesmo nossa, pertenceu mesmo à nossa estória ou se foi uma cena de um filme por aí visto há tempo e tempo atrás??!!
E quase ficamos na dúvida. Estendemos os braços, "encompridamos" os olhos...mas já lá não chegamos...como alguém na amurada de um navio que se despede do cais e deixa em terra, cruelmente, os seus "pertences"...

Acho que também é muito neste contexto, que se insere aquela minha "mania" de coleccionar e arquivar tudo, de que vos falava num texto meu anterior...
Tudo não...menos o tempo (desgraçadamente, ainda não consegui arranjar um recipiente absolutamente estanque que o não deixasse fugir...)!

É para achar que afinal, "as letras da página anterior", ainda estão ali e não foram definitivamente embora...

Mas não é verdade...que eu bem sei !!

Bom, a queda das folhas nos Outonos de todos os anos, é um pouco parecido.
É um fechar de ciclo, é um epílogo, é a última nota de uma partitura, é um virar também de página...
Sempre achamos que é uma renovação...sempre acham!
Eu, vejo mais como um ponto final...(perdoem este olhar, sempre escuro e negativista, das coisas...
Juro que não sou gratuitamente "do contra"...apenas não consigo, por vezes, pintá-las com mais cor...)
É que as folhas da próxima Primavera não são mais as mesmas. São outras...
E aquelas, castanhas, amarelinhas, vermelhas de fogo, ficaram lá atrás, jogadas impiedosamente no chão daqueles jardins, por onde tanto gosto de caminhar...

Amigos...isto hoje está "um pouco mau"...

Querem um conselho?
Não leiam...virem a página...mas pelo menos tentem ser felizes!...


Anamar

4 comentários:

Anónimo disse...

Virar da página...
Claro que ao virar da página, ela desaparece e, em seu lugar aparece uma nova página. Para guardar as páginas já viradas temos as arcas...
O pior é quando não há mais páginas para virar, mas isso só acontece realmente no FIM. Portanto, Margarida, só temos que virar mesmo as páginas e, de vez em quando, vamos espreitar as nossas arcas e sempre assim sucessivamente.
PS: Tomorrow is another day!
Bjs
da...Lena...space (q raio!)

Anónimo disse...

Meu Deus...
E quantas páginas viramos nós no livro da vida!
Mas iremos virar sempre enquanto houver livro...
E em cada página virada haverá outra história.
Bjs
Amélia

anamar disse...

Olá Amélia
Obrigada por ter aparecido e comentar.
"Iremos virar páginas enquanto houver livro e em cada uma haverá outra história"...outra história...talvez...e quantas "cicatrizes" ou "feridas a sangrar que não fecham"???
Mas que vá havendo "livro" ainda assim...
Beijinho
Anamar

anamar disse...

"Tomorrow is another day"...é preciso acreditar...realmente!!
Bj
Anamar