terça-feira, 22 de julho de 2008

"THE STORY..."



Brandi Carlile...
Até a ouvir e sentir este inexplicável arrepio, esta melancolia que o seu olhar traduz e este "mistério" que sempre são as histórias de cada um...uma desconhecida para mim.
Agora "grudou-me" na pele, a dela, a minha, as histórias que todos teríamos p'ra contar, que ninguém sabe, ninguém conhece, ninguém desconfia...
Simplesmente histórias...as nossas...


Era madrugada, um calor que não abatera, um céu talvez estrelado, uma lua quase cheia ainda, como um fogaréu lá no alto.

Ana ainda estava impregnada do cheiro, da pele, do misto de veludo e áspero daquelas mãos sábias que sempre a percorriam.
Naquela cama desfeita permanecia o desenho dos corpos que nela se haviam perdido, estava a marca dos sonhos que ela por ali espalhara a esmo, acreditando que o não eram, que eram antes verdades que a madrugada e o sol da manhã não se atreveriam a desmantelar.

Ana era uma utópica sonhadora...
Sempre criava sonhos, sempre idealizava histórias... e sabendo que o eram... que apenas o eram, neles acreditava, deles vivia, com eles se alimentava.

"Criara-o" também..."talhara-o" como precisava que ele fosse..."pintara-o" a cores pastel de aguarelas indecifráveis, que só ela via, que só ela sabia, em que só ela teimava em perder-se.

Ana amava a sua própria "criação", apaixonara-se pela sua própria "obra", idealizava o que concebera.
E como uma adolescente desafiadora, como quem quer obrigar a vida a desviar o seu rumo (como se o rio invertesse a marcha apenas pela vontade de alguém)...sentada semi-nua na beira da cama sorriu quando a porta bateu e os passos se afastaram p'la calçada, perdendo-se no silêncio da noite...

Ele não partira...Aquele beijo de despedida fora apenas um "até amanhã" tinha a certeza;
a mala que levara consigo voltaria no dia seguinte, ou numa nova madrugada de calor e suor, em que se amariam outra vez perdidamente, feito loucos numa alucinação de entrega, dor e prazer... até caírem exaustos naquela cama;
as palavras definitivas não o podiam ser;
a dureza que se lhe estampara no rosto ao partir, o frio gélido que descera daqueles olhos de menino-homem, que a trespassou qual corrente de ar traiçoeira, açoitando-lhe o corpo como canavial em dia de tempestade, fora mais um pesadelo da madrugada...

Porque "esse", simplesmente, não fora o final da história que Ana escrevera...


Anamar

2 comentários:

Anónimo disse...

Linda a cançao, maravilhosa a tua escrita....
Bjs
Lenaspace

anamar disse...

Outra história triste...
A canção sugeriu-ma...Acho-a espectacular, de facto (a canção, claro...)
Obrigada
Beijinho
Anamar