sexta-feira, 11 de julho de 2008

"NAS ARCAS DO TEMPO..."




"Nas minhas arcas do tempo" há de tudo...

Há de tudo em forma de papel, em forma de flores secas, em forma de pedras, em forma de conchas, de poemas, de fotos, de escritos, de pequenos sabonetes, lápis, velas exauridas, guardanapos de papel, contas pagas à saída de locais que me pertenceram...nem que o tivessem sido apenas por horas!...
As minhas "arcas do tempo" já quase não fecham as tampas...de "tanto tempo" que lá têm dentro.
Elas encerram de tudo o que pertenceu e vai pertencendo aos "meus momentos"...
Aos meus momentos afectivos, aos meus momentos do coração, porque esses serão os que de algum modo quererei perpetuar...

Nelas, tenho as conchinhas da praia trazidas pelo António para mim...tenho azevinho que já foi da Regaleira...nelas, estão flores amarelecidas e quase inexistentes, de dias de "sol" que já "contam" algumas estórias...nelas, estão palavras ditas ou que o não chegaram a ser, mas que pertencem também ao "meu" tempo. Nelas, estão "pessoas"...muitas pessoas que tenho "em cativeiro"...

"O tempo é algo muito estranho"...dizia-me alguém neste fim de semana.

O tempo, para mim, é o "parceiro desigual e injusto"...aquele cujas "armas" nunca conseguiremos terçar!...Aquele, atrás do qual sempre corremos ingloriamente e que sempre vimos dobrar a próxima esquina antes de nós...
O tempo tem cem mil "caras"...
O que foi de ontem, não vale a pena voltar a procurá-lo...será absolutamente em vão..."Já foi"...e isso, é tudo!
O de amanhã, não adianta questioná-lo...nem mesmo sabemos se ele se "cruzará" connosco!
O de agora, é o único que temos e ainda assim, embora ele seja o "legado" real da "viagem" de cada dia, quantas e quantas vezes é "pouco demais"...quantas e quantas vezes nos deixa "no arame" sem "rede" que nos apare...

Dei comigo uma outra vez a questionar-me sobre o porquê de eu ter esta compulsão meio desatinada, de possuir as minhas "arcas do tempo", "tesouros" inestimáveis e muito mais valiosos emocionalmente, do que aquilo que materialmente de mais valioso possuo...
Elas, são relicários absolutos e íntimos...
Para além delas, também arquivo religiosamente pequenos e insignificantes "marcos" de locais por onde passei, naquilo a que chamo a "vitrine das viagens". Lá, estão um "micro pedaço" de coral da Tailândia, areia de Punta Cana, uma falhinha do xisto do Piódão, uma "máscara" de Negril, uma caixinha de música Suiça, um adufe de Monsanto...objectos de artesanato de pedaços do mundo...como num museu, em que o visitante deambula por realidades, épocas, momentos vividos.
"Viajo" por lá muitas vezes, e do passado, faço presente as vezes que eu quiser...

É por isso que acho que esta foi a forma meio enviesada de "trapacear" o tempo, a forma meio dissimulada de me "apropriar" dele...à sua revelia...a forma bem "sinuosa" de o parar, por momentos, como a cassete de vídeo quando colocada na pausa...
É uma forma "ludibriosa", "auto-ludibriosa"...eu sei...Doentia...dirão os mais pragmáticos e objectivos (ou então aqueles que não querem sequer lembrar do tempo, ou que ainda o não têm em quantidade que faça história...)

Mas, de algum modo, é-me um acariciar da "alma" por dentro, uma "masturbação" do coração, uma "vitória"...bem ao jeito de uma "partida" ou "pirraça" de criança, que eu, a esfregar as mãos de contente... consigo "pregar" ao tempo!!!...





Anamar

4 comentários:

Helena Fonseca disse...

Pois é as nossas arcas, quem as não tem...algumas não são materiais, são coisa da mente, do coração, com muitas recordações.

Beij

Anónimo disse...

Como eu te percebo! também eu compulsivamente, ensandecidamente, guardo TUDO que me possa fazer revisitar lugares, pessoas, sentires...
Por causa disso, cá em casa todos me acusam de ocupar espaços e espacinhos, meus e deles...
Lenaspace

Anónimo disse...

Quem não tem essas arcas? Elas são uma espécie de âncora que nos "segura" o passado.Sem a minha arca do tempo sentir-me-ia perdida, sem história,sem raízes.

anamar disse...

Olá a todas.
Atrevo-me a responder colectivamente, na medida em que, ao que parece, "jogamos no mesmo "clube"...
Todos teremos afinal, assumidamente ou não, "arcas"...nem que elas sejam tão simplesmente coração e memória...
Beijo
Anamar