domingo, 27 de julho de 2008

"NUNCA É TARDE P'RA DIZER..."






Onde é que está escrito que a esta hora eu e o comum dos mortais deveriam dormir??!!...
Quando a cama começa a ser um "ringue" de confronto doído entre nós e o sono que teima em não dar uma mísera ajudinha, quando o "ninho" resulta num palco em que nos degladiamos com o que não queremos pensar, com o que não queremos sentir, com a teimosia do sofrimento a importunar e ficamos meros "croquetes" que rolam e rolam e rolam num "pão ralado" odioso......que se lixe o dito normal, lógico, aceitável...

Há algum tempo atrás, "alguém" me estendia um dedo credor de alguma "justiça" de afectos.
Com razão, aliás. Falta minha, talvez...ou talvez não...
Apenas aquilo que nunca foi abordado por escrito a nu, "ao vivo e a cores" aqui, num espaço que apesar de tudo é meu mas também de todos, talvez o não tenha sido, por fazer parte do domínio do meu legado mais íntimo, precioso e por isso intocável.

Falo hoje das minhas filhas...obviamente o tema mais sensível (por me ser o mais caro e íntimo), para o qual me sinto menos capaz, menos à vontade ao abordar... para o qual, por certo, não terei a fiabilidade necessária, a isenção desejável, o distanciamento preciso para o fazer...

Falo de duas "companheiras de jornada", mulheres inteiras, que, mercê das circunstâncias do percurso, velam e vigiam o meu, bem de perto...
São as minhas "mães", as minhas "irmãs"...mas também aquelas amigas tão íntimas que às vezes até dá raiva ; são as que me puxam as orelhas de quando em vez, as psicólogas com que exercito a catarse do desespero, quando ele aperta...

E de repente, a gente já não percebe nada, quando ouve aquela criaturinha (que ainda ontem nos "lixava" a noite com dor de ouvidos, febre a subir ou os pesadelos que não se compadeciam com o nosso horário de trabalho no dia seguinte), a dizer-nos : "Oh mãe...tu tem tem cuidado!"..."Oh mãe, tu vê lá em que te metes".... ou..."vem até cá...que voz é essa hoje??"

E nós percebemos então que fomos semeadores efectivos de alguma coisa lá para trás...
Nós percebemos que afinal a "corrente" fechou mesmo os elos e seja a "viagem" de cada uma de nós a que for...esses elos estão fechados e não cederão nunca e existe um não sei que fluxo de afectos, cumplicidades, partilhas...que jamais abrirá fileiras, jamais quebrará muralhas...

E é muito gratificante, muito "quente", sentir que, quando as pernas nos vergarem...lá estarão aquelas "bengalas"...Quando os olhos se opacizarem...lá estarão os delas de recurso...Quando as mãos já tremerem e os ouvidos não deixarem escutar mais histórias, cantarão para nós canções de "ninar"...

É muito gratificante perceber que, de protectoras contra borrascas e agruras, já temos agora, quem se agigantou na vida e nos protege, quem, de frágil passou a fortaleza...quem faz de tudo para nos fazer acreditar, (como nos ingénuos cartões do "dia da mãe" de há p'ra lá de uma eternidade)...acreditar, que "fomos a melhor mãe do mundo" ...que fomos uma verdadeira "mãezona"...


Anamar

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