quarta-feira, 20 de junho de 2012

" É ASSIM, OU NÃO É ?? "



O início de um romance, é sempre um romance ...

E um romance é um "mix" de ficção, criatividade, sonho, que nos transporta a patamares quase sempre irreais e que sempre vemos com alguma desfocagem.
Mas não há melhor período da vida do comum dos mortais, que a fase do romance.

Qualquer ser vivo parece ter sido fadado, para viver um ou mais romances.
É interessantíssimo ver os rituais de conquista e de acasalamento de muitas espécies do reino animal, e os artifícios com que a Natureza reveste esse período e dota os seus intervenientes.
O objectivo é óbvia e primordialmente a garantia da preservação das espécies, ou seja, da procriação, embora eu me interrogue se mesmo nesses seres considerados irracionais, o afecto estará completamente banido ...

No Homem, é um "estado de graça", são tempos doces, emocionalmente exacerbados, com a adrenalina e as hormonas em picos ...
São tempos sem peias, limites, barreiras, em que se respira romance, se vive do romance ... quase se morre pelo romance ...
Tudo é privilegiado aos nossos olhos.
As cores explodem numa Primavera em plenitude, os sons são acordes melódicos aos nossos ouvidos, os cheiros impregnam-nos os sentidos, os dias de sol são um afago para a alma e os de chuva, um embalo para o coração !
Os minutos de espera são horas intermináveis, o reencontro um presente dos céus, o afastamento, um buraco cavado bem dentro de nós.
O ser humano desenvolve toda uma panóplia de posturas e desempenhos, com a vivência de uma adolescência instalada em qualquer idade.
Tudo vale a pena, para tudo se dá um jeito, tem-se, mas quer-se sempre mais.  Tornamo-nos por vezes, ridícula mas espantosamente, seres de eleição, só porque se vive um romance !!
Tudo é encantatório, tudo é de menos para o tanto que estamos a viver ;  alguma deturpação e favorecimento do objecto amado, é inerente ao sonho que sonhamos ...
Vive-se "pendurado" de um olhar, de uma frase, de uma carícia, de um telefonema, de uma mensagem ...
Pega-se dez vezes no telefone, só para ter a certeza que afinal a dita não entrou ...
As pulsações aceleram se o silêncio do outro lado se arrasta para lá do espectável .
A ansiedade toma-nos, se simplesmente sentirmos perigar esse estado "miraculoso" !
Alindamo-nos só porque passa a valer "mais a pena", norteamos os nossos gostos e interesses, pelos gostos e interesses do outro ...  "adivinhamos" o que o outro ainda nem sequer sonhou, e sorrimos e trauteamos "aquela" música, sem sequer darmos por isso ...
Um local, uma flor, um pôr-de-sol, têm o rosto da personagem do nosso romance.
As cumplicidades cinzelam-se para todo o sempre, e juraríamos que esse "sempre" existe, e não é pura ficção !!!...

Apenas, como todos os êxtases, o "sempre" é efectivamente ficção, porque nas existências nada perdura e tudo é mutável ...
Apenas, como em todos os sonhos,  há sempre um acordar com a tomada de consciência da realidade.

E de escaldante, o romance começa a amornar.
É como se saíssemos da dimensão 3D de um filme, em que os efeitos especiais deixam de ser tão especiais assim ;
em que estendemos as mãos para apanhar as borboletas que vinham ter connosco voando pela sala, e elas, afinal, já não descolaram do écran.
O fascínio começa a assumir dimensões reais, e as personagens descem dos pedestais, e ficam simplesmente com a dimensão humana.  E os humanos afinal são gente comum, com insuficiências, omissões, falhas ... nem sempre sorriem, nem sempre estão presentes, nem sempre relembram o abecedário das palavras açucaradas, que se gastavam até à exaustão.

É um pouco como a Cinderela, que de princesa voltou à andrajosa criada, no fim do baile do príncipe, mal soaram as badaladas da meia-noite, e o sonho foi desfeito !

E as pessoas começam então a reequacionar muitos factores ;  começa-se a usar metro e balança para aferir posturas e sentimentos.
Começa a analisar-se, do valer ou do não valer a pena  pôr em causa estruturas criadas, conjunturas existentes...
Começa a olhar-se para a tela tão nossa conhecida, e as cores já desbotaram um pouco, tendendo a sumir na poeira do tempo ...
Começa a racionalizar-se o que não o era ... não o poderia ser !!!
O risco já se calcula.  Já não nos jogamos da falésia, acreditando seguramente sempre encontrar um chão atapetado à nossa espera, lá em baixo ...
A inocência começa a perder-se, a ingenuidade também, e se calhar o encanto, com elas ...

E pronto !

O sol desce no ocaso, começa a escurecer ... a noite anuncia-se porque já não é Primavera, e o Inverno já se instalou outra vez nas nossas vidas !!!...

Anamar 

2 comentários:

Anónimo disse...

É como se tivesse havido uma subida às nuvens em solidão, pensando-se que se estava acompanhado, e a caída, em maior solidão ainda, é inevitável.
Demasiado pessimismo? Será..
Gostei do texto, muito.
Malmequer

anamar disse...

Olá Malmequer

"Pessimismo"?....Não! Realismo sim...aprendizagem na vida, também!

Se calhar, o inevitável...simplesmente!

Dizem por aí que o que começa, acaba. Provavelmente só os sonhadores julgam que não!

Beijinho grande

Anamar