sábado, 9 de junho de 2012

" OS VEZO - um paraíso em qualquer lugar "


Os "VEZO"  são uma etnia indígena do sudoeste da Ilha de Madagáscar.

Nas minhas perambulações nocturnas pela TV, nas minhas "viagens" intermináveis no Travel Channel, "fui" até lá ;  deixei-me transportar pela aventura, pela curiosidade e pelo prazer de Jérôme Delafosse, o viandante de nacionalidade francesa, da Bretanha, com rosto de querubim e corpo grandão e desconjuntado, de turista de "pé descalço".

Os "VEZO" são povos nómadas, com uma precariedade de vida que aos nossos olhos ocidentais, parece insuportável, inaceitável, absurda.
Vivem ao sabor das tradições, do tempo, das marés, dos frutos e do peixe no mar.
Deslocam-se velejando em canoas rústicas e precárias, meramente em busca de condições favoráveis para subsistirem.  Famílias inteiras ... crianças de meses, vivendo da sorte por cada dia, geração após geração, século após século.
Montam tendas nas areias, junto ao mar, sob copas das árvores das costas desertas, abrigando-se dos ventos, cozinhando em fogueiras improvisadas, de madeiras perdidas ; as águas lavam e dão o "pão" de cada dia ;  o céu é a abóbada de protecção ...  de sonhos não, porque os "VEZO"  não os têm.
Não têm a noção do tempo, não têm preocupações de futuro ... Vivem cada dia de "per si", regidos exclusivamente pelas leis da Natureza, que implacavelmente as dita ...
Chegam a ser comoventes o desprendimento, a simplicidade, a alegria e a felicidade que transbordam, na liberdade que encarnam.

Liberdade é isso mesmo, creio.
Liberdade não tem definição, do meu ponto de vista.  É um estado de alma, é um estádio de vida, é uma opção, ou nem chega a sê-lo ...  É tão só um determinismo do destino.
Nasce-se com, ou sem ela, sobretudo na alma ...
Interrogo-me por que desígnio inatingível, se nasce aqui ou ali no planeta que dividimos ?  É-se isto ou aquillo ? Temos esta ou aquela  " formatação " de génese ??!!
A mesma  matéria, uma bio-diversidade alucinante, esmagadora, fascinante, inexplicável ...

Sempre invejamos o que não temos.  O ser humano sempre se sente incompleto, insatisfeito ... sempre anseia o que não detém.  Faz parte da nossa natureza, creio, ou pelo menos da minha, na eterna inquietação e turbulência interiores.

Os "VEZO" vivem a vida inteira integrados em paraísos terrestres, inteiramente graciosos ;  acordam e dormem com verdes exuberantes por sobre as cabeças, esbanjam nasceres e pores-de-sol ;  a chuva acaricia-os, o vento curte-lhes a pele canela.  Os cheiros já não lhes importam, talvez nem sequer os percebam !
Do salgado da maresia aos adocicados dos frutos do sul, nada os surpreende, nada os extasia ... é a sua realidade ...  Nada de novo !
Não exprimem emoções.  Pelo menos naquilo que constitui o nosso repositório de emoções.
Penso que talvez possam vivenciar o medo, por terem noção da sua vulnerabilidade ( enquanto seres desprotegidos ), o afecto, embora de uma forma absolutamente particular ( em especial pela valorização do núcleo familiar ou clã , realidade da qual nunca se desvinculam ), o temor e submissão sos deuses ( enquanto seres promotores dos seus destinos ; deuses que habitam o mar, lugar sagrado onde os espíritos se acolhem ) ... a alegria, sem dúvida, na partilha, nas gargalhadas e risos que semeiam ingénua e displicentemente ...

De resto, têm uma total aceitação permanente e indiscutida, do que desfrutam.
Se a pesca foi generosa, os deuses foram protectores ... se foi precária a apanha nessa noite, come-se menos, simplesmente.
As crianças talham as suas próprias canoas de brincar nas ondas, arpões incipientes para peixes "incipientes", na rebentação ... uma bola adquirida na "civilização" ... e mar, muito mar aos pés, para viver!

Aos meus olhos ( de utopia, com certeza ), os " VEZO " representam-me em particular na actual realidade social, antropológica e pessoal, um "éden" individual e colectivo, a paz global, a ausência de conflito interior, a ausência de questionação existencial destrutiva, da insatisfação permanente, da dúvida e insegurança exponencialmente projectadas, a ausência daquele medo que advém da ansiedade do ter, a pureza de valores e sentimentos, almas e consciências não corrompidas ... enfim, se calhar o que eu "realizo" no meu espírito ... o que talvez nem exista !!
Seguramente o convite,  ou a proposta despudorada, de uma "fuga" sem volta !!!...

                               
Anamar

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