Afinal fiquei louca de todo !
Irrecuperavelmente insana, resolvi viajar durante alguns dias.
Este maldito espírito de cigana de vida, acho que o herdei do meu pai, que como já tenho dito, era viajante de profissão ... nómada de coração !
Estes "bichos carpinteiros" que nunca me largam, começaram a avolumar-se, a perturbar-me os neurónios, e depois, sabem como é ... Como diz um amigo meu, "passou-se-me um pano vermelho" pela frente, e pronto, arrisquei a maluqueira de ir gastar o dinheiro que me faz falta ...
Mas também, eu sei lá se cá estou numa próxima ... e "candeia que vai à frente, alumia duas vezes" !!...
Vou como sempre à procura do sol, daquele sol que se tem feito regatear em Portugal, num tempo "nem carne nem peixe" ... pelo menos aqui por Lisboa.
Vou em busca de paz e de silêncio ... do marulhar da água em rebentação mansa nas areias brancas, do sussurro do vento nos coqueiros, do mar turqueza e do céu sempre azul, dos cheiros doces, dos corpos nus, da mornidão envolvente de uma natureza generosa e pujante ...
Vou ... Vou porque sou viciada em, de repente, me tornar anónima no meio de muita gente.
Sou viciada em suspender a minha vida entre parêntesis, pendurando o destino durante uns tempos, para o ver melhor, de fora para dentro.
Vou para pensar ... vou para sentir ... vou para "ME" sentir, nas horas de silêncio, que são quase todas, e nos passeios aos nasceres e aos pores de sol, na babugem salgada a afagar-me os pés ... do outro lado do Mundo.
Vou impregnar-me da luz da lua cheia no coqueiral, sobre um mar escuro, apenas incendiado pela poalha estelar.
Preciso ir, porque comecei a respirar mal por aqui, comecei a sossobrar a um cansaço de alma, que tenho que curar, preciso curar ... e o mar lava, expurga, pacifica ...
Voltarei ... talvez mais retemperada de forças, determinação de vida, mais certezas, espero.
Até lá, deixo-vos como sempre, a minha herança .
As minhas flores ( as que gostam mais, e as que gostam menos de mim ), a Rita, que levo no coração, sempre compungida pela solidão a que a voto ... a minha gaivota, que agora já em estância balnear, teima em não me ligar nenhuma ... e o meu "farrusco do fiambre" ... o gato preto de olhões doces, que me namora do terraço das traseiras.
Estes são os meus tesouros, porque são eles que dividem comigo as horas, as boas e as menos boas, são eles os espectadores das minhas dúvidas, angústias e alegrias.
São espectadores das minhas euforias em horas felizes, e só não me enxugam as lágrimas ( porque não sabem ), quando despencam ainda que eu não queira ...
Cuidem bem deles todos, por mim, por favor.
Prometo trazer-vos como gratidão, na corola da mais bonita flor de hibisco que encontrar ... uma Anamar renascida ... gostaria !!!...
Anamar
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