quarta-feira, 15 de agosto de 2012

" AS CHUVAS DE AGOSTO "


As chuvas de Verão são amenidades trazidas dos céus, como bençãos, nas intempéries da Vida.

São como os amores também de Verão ... fortes, curtas e desafiadoras ...

Vêm mas não ficam.   Acariciam mas não acarinham.   Pacificam mas não instalam a paz.
São parêntesis que se abrem na canícula entorpecente ;  são oásis vislumbrados, que não passam de miragens ;  são as reticências no meio duma frase, para o leitor interpretar ;  são aquela palavra que se solta no ar, e que só os atentos captam ...

Convidam-nos a dançar nos seus acordes ;  aliciam-nos a que encharquemos o corpo e a alma, em danças alucinadas, inconsequentes e expurgadoras.
Atraem-nos  e  penetram-nos  sem  remédio, como  numa  noite  de  amor ...
Molham-nos, como o suor que escorre dos corpos na loucura indistinta de dois seres ...

As chuvas de Verão têm a doçura de um embalo, ou o afago duma mão que nos desalinha os cabelos ...
São quentes, embriagantes, como o trago de um licor que nos desce no peito, mas que nos faz festas na alma ...
São chuvas que esquecemos no momento seguinte, e só os charcos deixados na calçada, nos garantem que elas vieram mesmo.
São águas que nos despem e nos descalçam, para que chapinhemos numa dança de roda enlouquecida, que começa de súbito, e termina de súbito também ...

São chuvas fora de época, como há amores que também o são !
E esses, são sugados até às entranhas, são vividos sôfregamente até ao último fôlego, têm o sabor picante do desajustado ... têm o desafio do "provocador", têm o privilégio de espicaçar os sentidos, têm a clandestinidade do secreto !...

São mergulhos incontroláveis, do alto da falésia para as águas que parecem mansas, mas em que sempre acreditamos, que pelo caminho ganhamos asas, e continuamos a voar pelos céus.
São amores inteiros, porque já não há peias para eles ... e afinal a seguir ao Verão, o Outono chega rápido, e urge vivê-los e esgotá-los, antes que, como os riachos que rompem caminho de pedra em pedra, sequem ... sequem, porque na verdade ainda é Verão !...

Deixam na alma a paz, e no corpo o cansaço saboroso do caminheiro, o sossobrar do viajante após a jornada ... são o poisar da gaivota no areal, para o repouso merecido.
Têm na boca o "travo" agridoce do queijo misturado com compota de cereja, da pitada de sal numa sobremesa, do salgado no rebordo de um copo de "Margarita" ...

São tudo e são nada ;
São frescos e escaldam ;
São efémeros mas eternos ;
Invadem-nos o coração, mas inundam-nos de lágrimas ;
São verdades e mentiras ;
São apostas em jogo viciado !...

Tal qual as desejadas e odiadas chuvas de Agosto ... docemente enganadoras ... são a penumbra inesquecível de uma lenda, que atravessa as nossas Vidas !...

Anamar

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