sexta-feira, 3 de agosto de 2012

" RÊVERIES "...

"É preciso amor para poder pulsar

  É preciso paz para poder sorrir

  É preciso chuva para florir ..."

As rosas de Sta. Teresinha daquele muro perdido na serra, estão ainda desfolhadas no meu carro.
Com as suas pétalas tentam deixar no espaço, o perfume particular e inebriante que carregam.
Estão no meu carro e estão à cabeceira da minha cama, para que as madrugadas possam florir nos meus sonhos.

Mas as madrugadas não dão mais flores,  porque a paz foi embora, e o sorriso, com ela ...
Acabaram secando, como secaram todas as rosas vermelhas, que o "Homem das Rosas" ofereceu à Maribel, no portão, onde, infatigável, ela o esperou o tempo que foi preciso ...
Secaram como secam os corações sem amor, como estiolam as pessoas sem esperança ...

E os sonhos também não são mais sonhos, porque agora mascararam-se de pesadelos, e eu tive que tornar-me amiga das personagens que os povoam. 
E essas personagens são grotescas, são escarninhas, são sádicas.
Vêm das profundezas do meu Inferno ( porque toda a gente tem um Inferno lá no porão das almas ).
Vêm e teimam em assombrar-me os sonos, e sempre teimam em carregar-me com elas ...

Breve, o sol vai esconder-se atrás daquele castelo de algodão ;  breve, os pôres-de-sol de fogo, e os azuis que se confundem entre céu e mar, vão partir, partir junto com as gaivotas e as andorinhas do mar.
Breve será Inverno outra vez !...

Vão restar os penedos e as rochas, perenes, fiéis e imutáveis.

E eu tenho que renascer para entender o carroussel que é a minha Vida, porque nesta, não estou "formatada" para o conseguir.
Nesta, pouco entendo, do que se calhar também não se explica, do que se calhar não tem entendimento mesmo !... 

"Circunda-te de rosas ... O mais é nada ! " ...diz o Mestre.

Só que as rosas sempre trazem espinhos, e as rosas murcham, mas os espinhos permanecem.
Os espinhos sempre ficam para a eternidade.
As rosas perfumam-nos as mãos e o coração ...  Apenas, o seu aroma é efémero, e a sua lembrança vai ficando ténue, distante, longínqua ... efémera também ...

E haverá um dia, que ao contemplá-las nos perguntamos de que roseira, de que muro, de que serra, em que dia, de que ano, de que Vida, elas vieram até nós.
Nos perguntamos que mãos no-las colheram, e porquê ?
E estava sol, ou chovia dentro de nós, nesse dia ?
E   que  palavras  nos  disseram quando as depositaram no nosso regaço ?...
E  com  que  voz ?  Também com a do coração, a do amor, a do carinho ??

Será que lembramos os sonhos que então sonhávamos, os desejos ardentes que nos possuíam, o amor que pulsava em dois corações que batiam a compasso ??
Será que lembramos o tamanho da fogueira que nos ardia no peito ??
Será que lembramos como era despertar por cada manhã e ter sol a inundar-nos a alma ??

Será que lembramos ???

"O mais é nada" !!!...

A injustiça implacável do transcurso do tempo !...
A fuga das memórias, que endiabradas sempre teimam em partir para outros destinos ...
O buraco deixado pela insensibilidade incontornável, instalada nas existências, que as esbate nas curvas dos caminhos, arrastadas pelos golpes de vento ...

Sem bebedeira de Vida, sem embriaguês de sentires, sem excesso de plenitude na alma ... a mim, o que sobra, de facto, é  NADA ...  nem  as  rosas  de   Sta. Teresinha  à   minha  cabeceira,  nas  noites  vazias !!!...

Fernando Pessoa

Navega, descobre tesouros,
mas não os tires do fundo do mar,
o lugar deles é lá.
Admira a Lua,
sonha com ela,
mas não queiras trazê-la para Terra.
Goza a luz do Sol,
deixa-te acariciar por ele.
O calor é para todos.
Sonha com as estrelas,
apenas sonha,
elas só podem brilhar no céu.
Não tentes deter o vento,
ele precisa correr por toda a parte,
ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde.
As lágrimas?
Não as seques,
elas precisam correr na minha, na tua, em todas as faces.
O sorriso!
Esse deves segurar,
não o deixes ir embora, agarra-o!
Quem amas?
Guarda dentro de um porta jóias, tranca, perde a chave!
Quem amas é a maior jóia que possuis, a mais valiosa.
Não importa se a estação do ano muda,
se o século vira, conserva a vontade de viver,
não se chega a parte alguma sem ela.
Abre todas as janelas que encontrares e as portas também.
Persegue o sonho, mas não o deixes viver sozinho.
Alimenta a tua alma com amor, cura as tuas feridas com carinho.
Descobre-te todos os dias,
deixa-te levar pelas tuas vontades,
mas não enlouqueças por elas.
Procura!
Procura sempre o fim de uma história,
seja ela qual for.
Dá um sorriso àqueles que esqueceram como se faz isso.
Olha para o lado, há alguém que precisa de ti.
Abastece o teu coração de fé, não a percas nunca.
Mergulha de cabeça nos teus desejos e satisfá-los.
Agoniza de dor por um amigo,
só sairás dessa agonia se conseguires tirá-lo também.
Procura os teus caminhos, mas não magoes ninguém nessa procura.
Arrepende-te, volta atrás,
pede perdão!
Não te acostumes com o que não te faz feliz,
revolta-te quando julgares necessário.
Enche o teu coração de esperança, mas não deixes que ele se afogue nela.
Se achares que precisas de voltar atrás, volta!
Se perceberes que precisas seguir, segue!
Se estiver tudo errado, começa novamente.
Se estiver tudo certo, continua.
Se sentires saudades, mata-as.
Se perderes um amor, não te percas!
Se o achares, segura-o!
Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala.
“O mais é nada”.


Anamar

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