domingo, 19 de agosto de 2012

" POEMA DESNECESSÁRIO "

 


A colónia de gaivotas à minha frente ... dezenas e dezenas, e mais as dezenas das suas imagens, devolvidas pelo espelho de água retido na areia, da maré da noite.

Um areal absoluta e completamente liso, de areia molhada, de um extremo ao outro da praia, virgem de marcas que não as das pegadas das próprias gaivotas imóveis, num repouso de quem parece querer prolongar a noite, ou tão simplesmente reunir energia, para o dia que ora começa.

Eu ... dona da praia !
Sabem o que é ser dona de uma praia?  Sabem o que é este silêncio, embalado apenas pelo quebrar das ondas ainda baixas, na areia?  Ninguém mais, apenas a brisa, mas essa não faz barulho !

O  sol assoma agora por detrás da falésia, manso, claro, doce, prenhe da luz da manhã, que é infinitamente mais branca e luminosa do que a luz com que nos ilumina dia afora.

 Este texto que aqui deixo é um poema desnecessário, é uma ode dispensável, à Vida, que já descrevi mil vezes, e que mil vezes é diferente, e que mil vezes por isso é incompleto, imperfeito, insatisfatório ...
Nem o maior poeta, nem o maior pintor, nem o maior fotógrafo, alguma vez traduziu ou traduzirá simplesmente ISTO !...

E "isto"  é o tudo que aqui respiro, vejo, oiço, cheiro, sinto, penso, sonho, sofro ... e "isto", é o espanto que a mão do Homem jamais alterará, vida após vida, vontade após vontade, crer após crer !
De facto, a Natureza ele jamais manipulará ;  esta perfeição e este equilíbrio, nenhum artista conseguiria compor !...

Não se escrevem poemas a quem os não lê, pela simples razão de que não têm destinatário.
A minha sina parece ser esta ... escrever palavras deixadas soltas, pontas de nós desatados ... pétalas largadas em vento que as leve, acordes musicais para ouvidos que não vibram com eles, frases de sentido desconhecido e incompreensível, emoções que não chegam a lado nenhum, porque ninguém as sente, palavras tão desnecessárias, que ninguém daria pela sua falta se elas não fossem escritas !...

E por isso, este poema só é necessário a mim própria, porque só eu o sinto correr nas veias, para cima e para baixo !!!...


Anamar

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