segunda-feira, 20 de agosto de 2012

SIMPLESMENTE ..."O AMOR" !



"Entre o que aconteceu e o que acontecerá, existe um caos.
Vive-se de memórias : de querer lembrá-las ou de querer esquecê-las...
Quando começam a faltar as palavras, alguma coisa morreu dentro de nós.
Tu procuras o último amor, porque andaste toda a vida a coleccionar pedaços de amor ... Mas na verdade, tu procuras é o primeiro amor e não o último !..."

             in " A casa das portas vermelhas " - Jorge Marques

Este excerto pertence a um livro que alguém me ofereceu, não inocentemente, tenho a certeza.  Uma oferta com a intencionalidade de uma mensagem nas entrelinhas.
A gente sempre percebe isso !
Aliás ao oferecerem-mo foi-me dito . " Tem muito a ver contigo, tem muito a ver connosco !..."

Na verdade estas palavras poderiam ter sido escritas por mim ...  Eu entendo-.as, eu pressinto-as, eu vivo-as .
De facto eu estou e estarei sempre no meio do remoinho do caos, no meio do olho do furacão , no vórtice da loucura.
Eu sou um ser de turbulência, em constante ser e não ser, em constante querer lembrar e esquecer, na busca de uma verdade que eu sei que existe, mas não sei onde.
Sou um ser de inquietação, em permanente busca, em permanente procura, e por isso me falta o tempo.
A jornada é longa, tão longa que nem lhe adivinho o fim, e receio não viver até lá !
Sou um ser de insatisfação ; preciso renovar o meu ar p'ra que não sufoque, preciso que o meu barco navegue por oceanos que não terminem, preciso encontrar a estrela polar que falta à minha noite, preciso que o horizonte não fique lá ao fundo ... aliás preciso que não haja sequer horizonte !...

"Viver de memórias ..."  triste isso, não??!!
Mas certamente concreto, real ;  uma verdade tão absoluta, que só os loucos pensam nela.
As pessoas normais recusam sabê-la, recusam desencavá-la do fundo das almas, porque todos, todos sabemos que ela encerra a maior e mais incontestável certeza do ser humano.
Mas sempre temos medo de a olhar de frente !

Apenas há dias em que assim como hoje, acordamos com o Mundo virado ao contrário ; e ainda na vigília do último sono, naquela fase em que se está e não está deste lado, já percebemos que não temos capacidade para o "alinhar" ...
Se bem que eu não sei o que é alinhar o Mundo ... Pelo menos alinhar o "Meu" mundo .  E é então que consciencializamos o "caos" entre o antes e o depois, e a incapacidade de viver nesse caos.
E é então que já acordamos a chorar, e a droga é que não pararemos de o fazer por todo o dia, e só talvez o negrume de uma nova madrugada consiga abater este aperto cá dentro, esta vontade libertadora de fechar as   portas  e partir ... partir rumo ao desconhecido ... partir, simplesmente ... se calhar apenas partir de "nós" ...

Eu  também procuro o último amor, o primeiro amor, o verdadeiro amor, a reunião de todos os amores possíveis ...
Pedaços de amor espalhados a esmo, dariam tanto jeito que se amalgamassem e criassem "AQUELE" amor.
Mas "AQUELE" amor é exactamente a expressão do não existir, e por isso é que o ser humano caminha, caminha sempre, até à exaustão, porque lá no fundo acredita mesmo, que numa volta de caminho ele está lá, ele aguarda ser descoberto ... acredita que na rebentação de uma qualquer maré, ele se espraiará aos seus pés ...

E se o descobrisse, seria um amor de muitos rostos, com muitos olhos, muitos corações, muitos lábios, muitas mãos, muitas palavras, muitas partilhas e cumplicidades, mas muito mais sussurros e juras ...
Era um amor com todas as loucuras do Mundo, com todos os desejos insaciáveis do Mundo, com sonhos sonhados e não sonhados, e todas as alegrias e também com todas as dores ...
Era um amor que por ser só inventado, reunia todas as utopias permitidas dos corações, todas as fantasias das mentes, todos os desvarios dos corpos ...
Era um amor que queimava porque era fogo e luz ao mesmo tempo, era chama e braseiro ateado, era um valer, podendo não valer, só porque o quisémos muito, o plantámos e germinou dentro de nós, dando as flores das braçadas colhidas pelos campos da Vida.
Era um amor-música, era um amor-templo, era um amor-ninho, um amor-âncora, um amor-amarra de cais ou fateixa de navio ... com a incoerência do não existir, acreditando-se que existe !...

E depois então, como primeiro / último amor, como verdade / mentira, como o tudo e o nada, vai valer a pena não o esquecer, mas recordá-lo sempre, porque a sua imensidão é a de uma onda alterosa sem controle ou dique que a contenha, é a de uma fogueira avassaladora que nada detém, é a de uma torrente que só estanca quando começarem a faltar-nos as palavras para a descrever ...

... porque aí sim ... "alguma coisa terá começado a morrer dentro de nós " !!!...


Anamar

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