Será um blogue escrito com a aleatoriedade da aleatoriedade das emoções de cada momento... É de mim, para todos, mas também para ninguém... É feito de amor, com o amor que nutro pela escrita...

quarta-feira, 8 de agosto de 2012
" TARDE DEMAIS "
Uma tarde de praia absolutamente espectacular. Sol quente, uma brisa acariciadora, que torna o calor do sol suportável. Mar de maré vazia desde manhã, quando cheguei, e só há pouco começou a encher.
Estou "encarrapitada" no alto de um dos rochedos que por aqui se espreguiçam, não vá a maré pregar-me alguma partida, e desta tribuna onde estou, tenho o privilégio de ter o mar aos meus pés, as ondas ponteadas aqui e ali, por surfistas ( já não está mais ninguém no banho ) e uma estrada de luz que se acende e torna este mar de azuis e verdes, absolutamente iluminado em prata !
São pouco mais de seis da tarde, o sol ainda vai alto, mas decidi que provavelmente vou ficar neste camarote, até que ele beije o horizonte lá ao fundo.
Afinal hoje ninguém me espera em casa ; e entre anoitecer-me no meio de quatro paredes, ou por aqui ... não tenho dúvida !
As vantagens ou as desvantagens de viver só !...
Há pouco, falando ao telefone com um amigo, carpia-lhe as minhas mágoas ... sim, porque o ser humano sempre encontra espantosamente mágoas para carpir, ou não fosse por natureza um ser de insatisfação e incompletude.
Ele só me perguntou : " Diz-me uma coisa : tens saúde, não tens ? Tens meios de subsistência, não tens ? Então és simplesmente uma privilegiada !..."
As palavras bateram forte e feio, como se costuma dizer, tipo "pedrada no charco" !
Claro que eu sei exactamente isso, e sempre o refiro neste espaço, numa espécie de contrição continuada.
Claro que eu sei ser um privilégio estar aqui, sem horas, no alto dum penedo, absorvendo a brisa salgada da tarde, deixando-me envolver pelo calor ainda intenso do sol, ouvindo o vai-vém das ondas ... deixando-me embalar por elas ... e apenas viver !!
Quando reflicto sobre estas coisas considero-me, obviamente uma mal-agradecida, não reconhecida, injusta para com a Vida, e quase um crime, ainda assim achar que possa ter mágoas ...
Apenas, entre muitos, eu tenho um grave defeito : sempre faço depender de terceiros, de factores exógenos, de altos e baixos da existência, a minha felicidade, de tal forma que nunca a vivencio em plenitude.
Devia sim, procurá-la dentro de mim, deixá-la crescer no meu coração e na minha mente, independentemente e ao invés, dela sempre e só se concretizar de fora para dentro, na dependência de outras pessoas.
E as pessoas são gente, com todas as imperfeições, condicionalismos, indisponibilidades, incapacidades, impotências ...
E defraudam-me muitas vezes. Certamente eu também as defraudarei em muitas outras.
Só que talvez elas tenham uma inteligência de Vida, uma maior capacidade de defesa, um pragmatismo e uma sabedoria na gestão dos sentimentos, que eu se calhar não vou aprender nunca !
É como se eu só respirasse até ao fundo, se só respirassem comigo ;
é como se aquela paisagem à minha frente, só ficasse prodigamente colorida, e só fizesse sentido, se outros olhos a admirassem comigo ;
como se aquela música só ganhasse expressão, se representasse algo para mim e para alguém que eu ame ... como se a brisa que corre, só devesse desalinhar-me o cabelo, quando aninhada em braços de afecto ...
Parece que desvalorizo os momentos, as coisas, os cheiros, os sons, a luz e a cor, "de per si" ... parece que eu não sou suficiente para lhes dar significância, parece que eu sou "pouco" demais para ser "alguém" autónomo, um "ser", uma "individualidade" ... por o ser tão incompletamente ...
Isto é um desvio personalístico, é um profundo desequilíbrio emocional, é um erro crasso de "programação" do coração e da alma, ou tão só uma tremenda e irresolúvel carência afectiva ... mas ... não consigo alterar nada disto !...
E "criminosamente" vou deixando passar por mim, muito de VIDA ;
vou vivendo "de menos" muitas emoções, muitos momentos, enfim, vou desperdiçando muita "lotaria premiada" que me vai fugindo pelas mãos ... e um dia, tenho a certeza, vou acordar tarde demais !!!...
Anamar
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