quarta-feira, 28 de novembro de 2012

" COMO SERIA BOM SER ÁGUIA !... "




Eu sou mesmo uma pessoa enviesada, torta e mal acabada ...
Por que será que sempre acho que efectivamente vou morrer assim, e não há volta a dar, a esta minha forma desgraçada de ser ?
Por que será que não aposto, ou dou  "chances", a que portas ou janelas se abram nesta minha alma, que cada vez se encarcera mais e mais, numa concha inapelavelmente agarrada a rochedo do areal da Vida ??!!
A maré tapa-a, destapa-a ... ela nunca vai, ela permanece estratificada, presa, retida ali, e ali fossilizará, tornar-se-á também ela própria, rochedo duro e agreste, dia após dia ...

Dali vê o céu, umas vezes azul ... no Inverno, cinza, mais ou menos escurecido ;   vê as nuvens que pairam lá por cima, ou que giram em turbilhão de vento desgovernado ... e sonha ... sempre sonha !
Vê o sol que muitas vezes é quente, mas mais, muito mais são os meses, em que ele nem sequer sobe acima das falésias, e em que o frio invade o seu mundo .
Vê as aves que poisam perto, em comunhão de felicidade, só algumas vezes.  Quase sempre planam lá bem alto, donde se vê tudo, e onde se experimenta a liberdade absoluta.

O mar vai e vem, umas vezes manso, de "boa catadura" ... acaricia-a ;  outras vezes, quase sempre, altaneiro, duro, insensível açoita as rochas sem dó nem piedade, sem nunca pensar se lhes deixa feridas abertas.
Talvez  não deixe, porque eles não sangram, mas desgasta-as cirurgicamente dia após dia, consome-as noite após noite, e vai deixando a sua marca de morte, nos séculos ...

E a  concha que me dá guarida vai permanecendo, apesar das oscilações e das turbulências ;  sente o apelo dos céus, ouve o chamamento das gaivotas em bandos soltos, livres e irreverentes pelo céu fora, pensa como seria bom romper as amarras e partir, partir na ondulação, ou ganhar asas e subir para o alto, para outros  rochedos, outros penhascos, donde pudesse ver o Mundo,  estender os olhos e soltar o coração ...

Mas fica ... sempre fica, porque lá no fundo, nunca acredita que poderia partir, porque lá no fundo tem uma desistência  instalada,  sabe que jamais ganhará asas para voar, pés para andar, e que de seu, só tem mesmo o sonho, porque esse se soltou há muito, cortou amarras, e anda liberto por aí ..
Esse é irrequieto, é imenso, jamais se acomoda ou confina ao espaço exíguo que a vida lhe destinou.
Esse, deixa a concha onde não cabe, nunca coube, e parte nas marés, ou sobe aos céus, no inconformismo das asas da gaivota, que vive na aragem.
Esse, é o único que acredita, sempre acredita ... porque é sonho, e o sonho nunca pára, nunca morre, não se deixa prender ...
Esse, é o que vê o sol mesmo nos dias de nuvens carregadas, é o que sempre espera a chegada de uma maré promissora qualquer, é o que sabe que sempre vai aonde quiser, sem limites ou horizontes, esse, é o que se sabe potro desencabrestado, solto na pradaria, poeira de estrada dançada  no vento ...
Esse, é o que habita o coração inconformado e corajoso de Fernão Capelo ...

De facto, apenas ainda não desisti da minha capacidade de sonhar.
A insatisfação, a ânsia de mudança, a deliberada vontade de virar a mesa, a provocação latente do  desafio, a energia súbita que sinto para bater o pé à vida, a necessidade de me extremar, o fugaz acreditar na mudança do meu eu, não passam de meros momentos de compensação, em que a águia que há em mim ( como diz o espectacular vídeo que aqui coloco ), abre as asas, e voa dos píncaros aonde consegue por vezes subir.
São contudo voos curtos, inseguros, incipientes, muito precários, suicidas quase sempre, como os voos que Fernão Capelo Gaivota exercitou na ânsia, perseverança e na sua fé, de alcançar o que parecia inalcançável, de atingir a real dimensão da  "LIBERDADE" ... a que reside no pensamento, no coração e na alma ... porque são esses os lugares, que nada, nem ninguém tolhe.

E o tempo passa, e eu não passo com ele, para realizações objectivas, para o reencontro comigo mesma.
Fico no desejo, na vontade, no sonho que sai da concha e sobrevoa o oceano à sua frente ...
No sonho, que leva a águia a encarar o sol e a saber que o mundo é dela , e lá, tem o seu lugar ...

Só que eu não subo nos céus  mais e mais alto, nem saio do terreiro onde as galinhas ciscam, embora olhe o firmamento com um olhar triste e comprido !...

Eu, fico sempre por aqui mesmo, e cada vez acredito mais, que ficarei até ao fim, porque eu sou uma pessoa enviesada, torta e mal acabada ... Eu sou uma perdedora da Vida !!!...



Anamar

1 comentário:

Anónimo disse...
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