quinta-feira, 15 de novembro de 2012

" SÓ PARA NÃO DIZERES QUE NÃO FALO DE FLORES ... "



" O amor é um som que reclama um eco "...  ( Júlio Dinis )

Só para não dizeres que não falo de flores, lembro-te as boninas que florescem nos Invernos,
quando o sol partiu, e as mãos já não se tocam ...
Quando o calor tomou outros rumos, e há demasiados espaços vazios nas almas ...
E as camas ficaram desfeitas, e têm formas e cheiros,
mas não têm alma já, a recordarem-lhes as memórias !
Essas, partiram dentro do peito, e levaram também os corações ...

Só para não dizeres que não falo de flores, lembro-te as mãos geladas nos bolsos,
na neblina estendida até ao castelo,
Quando as bagas vermelhas dos azevinhos, floresciam outra vez na Regaleira, porque era Natal de novo ...
E havia um ano que virava as páginas, como sempre ...
Só que a solidão e a nostalgia, se escondiam no calor da lareira acesa,
e o fogo teimava em subir nos corpos, como as chamas galgavam o espaço
e pintavam de vermelho a sala, acesa de velas ...
E havia uma coisa que era e não era, mas que eu acreditava,
muda e silenciosa,
e que se chamava cumplicidade ...

Só para não dizeres que não falo de flores, lembro-te o frio cortante, dos Dezembros a sério,
que embranqueciam os ramos dos castanheiros bravos, já despidos novamente ...
Lembro-te o quente do vinho que descia nas gargantas,
para galgar o corpo, e queimar docemente as entranhas,
apagando o conhecimento do saber,
porque a inconsciência da loucura nos tomava ...
e era doce,
como o mel quente com que me desenhavas
feita uma aguarela de Renoir !...

Só para não dizeres que não falo de flores,
diz-me tu, por que me deixaste aqui, sem olhos para afundar os meus,
sem mãos para entrelaçar as minhas,
sem corpo para me guiar, cega, em caminhos de Infinito ??!!...
Restando-me apenas o gelo das gotas da chuva,
aquela chuva que tão bem sabia embalar-me e adormecer-me,
e que agora esqueceu ... me entorpece, me rasga e me dilacera,
porque cai sobre mim, como punhais de esquecimento ??!!...

Só para não dizeres que não falo de flores, contei-te todos estes segredos,
para perceberes, como as flores amarelas sem nome, das ravinas agrestes, se misturaram com os azevinhos,
casam bem com as boninas, e os ouriços dos castanheiros daquele caminho,
coabitam em mim, com as bagas das tamareiras maduras,
e com todas as flores silvestres e bravas,
a esmo, sem rumo ou norte ... como eu !...

Apenas porque todas foram amores, que eram sons que reclamavam eco ... mas de que, afinal, só sobrou silêncio total !!!...

 Anamar

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