segunda-feira, 4 de março de 2013

" ONTEM " ( Este post tem o atraso de um dia )

Ontem coloquei um post contundente.
Um post lamentável, desnecessário, dispensável, um post em que abri os diques e deixei jorrar, simplesmente verter, numa espécie de catarse, tudo o que me vai na alma.
Coloquei-o assim, transparentemente, sem defesas, filtros ou maquilhagens, sem preocupações de preservação pessoal, defesa ou estudada  pré-concepção, sobre os juízos de valor que poderão ser feitos sobre mim, por quem nele topar.

Foi simplesmente um post, em que a raiva, a mágoa, o desencanto, a impotência e a minha inabilidade ou incompetência para fazer a Vida, estão bem patentes, com um indiferentismo frio, distante, sem cuidados ou calculismos.
Esse, foi talvez o post, nos quase setecentos que já escrevi, em que fiquei completamente nua, asquerosa, desinteressante, abominável, o post com menos "decoração" estudada, com menos faxina feita.
Nele joguei  o meu lixo, joguei a minha desistência, joguei a minha ausência total de auto-estima, aos quatro ventos, joguei o pior de mim, sem pudores, num palco aberto.
Abri afinal tudo o que o ser humano inteligente, prevenido, cuidadoso ou realista, e não insano, incontido e desarticulado, tenta prudentemente camuflar, tenta sempre camuflar.
Ontem tirei os "esqueletos dos armários", abri as comportas, e borrifei-me  para os estragos das inerentes inundações,  tirei a "burka", destapei o rosto sem retoques, ontem ( como dizem os brasileiros ), joguei a "merda toda no ventilador", e ignorei simplesmente, o que possam socialmente pensar sobre isso ...

Até pode parecer que não, trazendo aqui hoje esta reflexão ...
A mesma parece reveladora de uma consciência intranquila, insegura, como o menino traquinas que abre a boca, solta o palavrão, e quando consciencializa ... já foi !
E a palavra dita, como a pedra jogada, não retorna, não volta nunca.

Algo me ficou a bater mal .
Não o juízo de valor que possam fazer sobre mim, não aquilo que perderei / ganharei em imagem, ao tê-lo escrito tão desarmadamente, não o "medo" de exibir o perfil do "monstrinho" à solta por aí, não o receio do peso da censura social ( já que o Homem, querendo ou não, está inserido em sociedade ), ou o que seria pior ... o  pavor de olhar o tal espelho  de que  falava, e  recuar assustada, siderada, perante o que visse ...

Também não é uma chamada de atenção sobre mim.
Lá vai haver quem o pense, e por vezes até será legítimo, já que os mecanismos mentais dos seres humanos, são tão intrincados e enviesados, que há muitas formas de enviar "mensagens", muitos meios de atirar foguetes de sinalização, muitas maneiras de fazer sinais de comunicação, e lançar SOSs.

Não !
O meu post também não tem esse intuito, até porque já ultrapassei o limiar da vontade de ser "salva", já passei  a  "red line", a partir da qual se desacreditou de tudo, mas de tudo mesmo, e do "valer a pena" também ...
Estou como a Rita, no fundo da jaula, amarfanhada, sem fazer pela vida, sem que lhe valha a pena reconhecer a mão que a acaricia, pouco abrindo os olhos para o perfil que dela se aproxima, limitando-se a cheirar, talvez a identificar pelo cheiro, um amor que lhe fica cada vez mais longe e ausente.
Estou exausta, num limite de ruptura !

Costuma dizer-se, que quando se bate no fundo, depois é sempre a subir ...

Ontem decorreu uma manifestação social em Portugal, de indignação contra a política desenvolvida pelos órgãos governativos, e pela forma criminosa, como têm conduzido e afundado o país, inevitavelmente para o beco sem luz em que vivemos.
Foi uma marcha calma, convicta, assumida, de muitos milhares e milhares de  portugueses, de todas as gerações, de todos os estratos sociais, de todos os credos, de todas as cores políticas, seguramente.
Tive muita pena de não ter podido estar presente.
Por todas as razões, e sobretudo, porque pertencendo à geração de 60, atravessei, neste país, ao longo da minha vida, conturbações demais, a todos os níveis, assisti a convulsões esperáveis e não, sofri angústias, incertezas e dificuldades, minhas e dos meus concidadãos, faço parte da geração "charneira", a geração que esteve, está e estará entalada, entre princípios, valores, conhecimentos, exigências, caminhos diversos, opostos, em que numa viragem de século, repentinamente, o que era não é mais, tudo foi posto em causa, as linhas norteadoras viraram de 180º, fomos educados e tivemos que educar de formas antagónicas, fomos confrontados com alterações a mutações de estilos de vida, em que as "ferramentas" adquiridas, repentinamente ficaram obsoletas, inapropriadas e inoperacionais ...
É portanto, uma geração sofrida, uma geração de sacrifício, uma geração com história de resistência, de coragem e de fé !

E novamente, sem que o pudéssemos sequer imaginar, atravessamos montanhas ciclópicas de dificuldades, dores e privações ... atravessamos túneis de desespero, de incertezas, impotência e de cansaço, sem luz em lugar nenhum ...

E ontem quando, pela televisão, ouvi depoimentos de muitos dos manifestantes, e ouvi das razões que ali os levaram, senti o poder da solidariedade, a força de ideais e sofrimentos comuns, o amparo que as dificuldades colectivas trazem aos nossos corações .
Senti que de facto, o ser humano não está ilhado, não existe "barricado" em sentimentos, não pode nem deve constituir-se célula individual, e percebi a força e o poder que se tem, quando muitos percebem o mesmo grito interior, que é de todos ...

E essa sensação de não estar sozinha, deu-me alguma resistência psicológica, porque ao contrário de "com o mal dos outros posso eu bem " ... com o mal dos outros,  percebemos  que a carga fica, de facto, dividida, porque mesmo ali do nosso lado, está alguém a vivenciar realidades iguais, aflições iguais, desilusões iguais, falta de esperança, cansaço de vida, prestes a desistir muitas vezes, a depor as armas, outras tantas ... exactamente como nós !!!

Perante a realidade colectiva, na verdade, a minha, pessoal, é de um egocentrismo quase provocador e ofensivo, porque efectivamente, eu não sou ninguém ... ninguém é nada, e a vida corre indiferente, todos os dias !...

Anamar

1 comentário:

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