domingo, 31 de março de 2013

" O FIM DA LINHA - os nossos oito minutos "



Dizem que se o Sol explodisse agora, apenas daqui a oito minutos, a Terra escureceria e gelava.
Esse é o tempo que a sua luz leva a chegar até nós ...

Quase tudo nas nossas vidas tem  " 8 minutos " ;  o tempo entre o acontecer, e o aceitarmos que aconteceu.
E esse intervalo de tempo, pelas mais variadas razões, desejamos muitas vezes "encompridá-lo", tal a negação que fazemos das coisas, por sofrimento, por dor, por incapacidade de aceitação, por defesa, por sobrevivência mesmo.

Durante esse interregno, fingimos que tudo está igual, fingimos que nada aconteceu, fingimos que continuamos a viver, porque recusamos o "baque" que virá a seguir.
É uma hecatombe para a qual não estamos preparados.
Esse tempo de inevitabilidade, obviamente, é o que leva a percorrer o corredor da morte, até à sala da execução, é a pausa que medeia entre a toma do veneno e o seu resultado, os minutos que transcorrem entre o início do terramoto, e o seu fim.
É um período de recusa, uma espécie de suspensão de vida, uma espécie de frase deixada entre parêntesis.
Um período em que "ignoramos" o que vem à frente, e continuamos ligados ao que existia, ao que tínhamos, e ao que vivíamos.

É um tempo de alucinação provocada, de "mise-en-scène" programada, um tempo em que nos agarramos ao que estamos perto de ter que largar, no desespero de o manter !
E por isso tendemos a esticá-lo, a alongá-lo, a perpetuá-lo.
Esse tempo de inverdade, de ludíbrio abençoado, de ilusão construída, de mentira misericordiosa, era o que levava a "rosa" a ser feliz ainda, só porque acreditava que o seu Príncipe voltaria no dia seguinte, para a regar, mesmo sabendo que ele estava de partida, do asteróide do sonho ...
Era o que fazia a Maribel repousar placidamente o seu queixo de menina, no portão, vendo o "Homem das Rosas" desaparecer na volta do caminho, mesmo quando ele lhe deixou uma rosa branca, que já era uma despedida ...
É  o tempo de doçura e paz que degustamos, quando dedilhamos uma mensagem especial de telemóvel, só porque  durante  esse  tempo  que  se deseja longo, temos o destinatário bem ali ao nosso lado, sem poder fugir ...
É o período em que mantemos os ritmos pertencentes à realidade que não queremos perder, e os agarramos com unhas e dentes, porque eles são portadores de Vida ... ainda !!!

No filme "Extremamente Alto, incrivelmente Perto", relata-se a história da relação pai-filho, entre um homem que morre no atentado de 11 de Setembro nas Torres Gémeas, e o seu  filho, um  pré-adolescente, com quem tinha uma ligação muito estreita.
Tinham por hábito, na sua convivência diária, manter jogos destinados a estimular a curiosidade, a perseverança, o espírito de aventura e a disciplina do miúdo.
"Não páres de procurar" ... "Se não procurares, nunca saberás" ... eram frases, que o pai repetia a Óskar frequentemente, para incentivá-lo nas brincadeiras.

Depois da tragédia, Óskar entra num período de recusa do acontecido, e tenta manter, de todas as formas, o pai "vivo", na sua vida.
Para isso, inicia sistemática e persistentemente, a busca  da resolução do último desafio, que nos jogos, o pai lhe havia proposto.
Exaustivamente, Óskar toma como meta de vida, "nunca parar de procurar" a solução para o enigma, que lhes ficara entre mãos.
E  enquanto  durar  essa  intrincada  busca  da  solução, Óskar  vive  os  "8 minutos",  na  sua  relação  com o  pai.
Esses  seus  "8 minutos",  são  desejavelmente  longos,  e  de  preferência,  sem  fim ... obviamente !...

Na verdade, esses "8 minutos" são sempre os "8 minutos" mais curtos, e que mais longos queremos tornar, nas nossas existências, em qualquer circunstância.
Enquanto eles estiverem a decorrer, nada "aconteceu", continuamos a "viver para", continuamos a respirar o mesmo ar, continuamos a ouvir as mesmas vozes, a ver as cores, a sentir os cheiros do que era, e não é mais, mas que não temos força para aceitar que já não seja.
São os últimos  "8 minutos" de "Vida" ... porque depois deles, vem a "Morte", vem a injustificação do "estar", vem o fim das nossas razões e objectivos, vem a perda do tronco que nos mantinha à tona, vem a derrocada do que nos espaldava, e com ela, iremos nós também para o fundo ...

Eles, são o cordão umbilical que ainda nos deixa "ser", são a ponte que une margens, que quereríamos sempre unidas ...
São  os  últimos  "8 minutos",  do  nosso  "fazer de conta" ...
Porque então, quando eles se nos escoarem em definitivo pelo meio dos dedos, teremos mesmo chegado ao fim da linha !!!...

Anamar

Sem comentários: