domingo, 19 de junho de 2011

UM JARDIM DE "ATÉ BREVE"......

A horas de vos deixar...extremamente cansada hoje...não queria fechar a porta, sem que antes deixasse as minhas flores bem regadas.

O calor está aí a apertar...e elas afinal são o meu jardim de todos os dias!...


Por isso, a proteia do amor, o amor-perfeito da saudade, o ouro-sol do narciso, ou simplesmente a margarida singela da simplicidade...vão ficar com vocês como os meus beijos de afecto e  agradecimento por mais seis meses, os primeiros de 2011, passados espreitando-me, auscultando-me, comentando-me às vezes...
Mas seguramente sempre fazendo-me sentir, que aí desse lado há gente, há corações...há olhos que olham...mas sobretudo que vêem!....







Para vocês, um abraço. Fiquem bem!

Anamar   

sexta-feira, 17 de junho de 2011

"Tantas pessoas em PESSOA !..."



Postei Pessoa nos meus anteriores escritos.
Sempre o refiro, nunca me canso de o parafrasear...Afinal, ele está em muito das nossas vidas do dia a dia.

"Por que é que tu consegues sempre dizer as coisas de uma forma mais perceptível que eu???" - dizia-me um amigo um destes dias.

"Por que é que Pessoa consegue sempre exprimir tudo de uma forma tão mais eloquente que eu, se sentimos os dois igual ???" - digo eu.

"Que empáfia" ! - dizem vocês. "Olha-me esta fulana a comparar-se com......Pessoa, o MESTRE!.... Logo, com Pessoa...não faz o caso por menos!"...

Juro que não! 
Seria imbecil se o fizesse, jamais me atreveria...não sou alucinada!
Apenas, sinto-o em cada frase, em cada pensamento, em cada texto, em cada reflexão, em cada poema, em cada devaneio, sonho, esperança, dor...

Pessoa, 123 anos depois...Junho de 1888...
Actual, cada vez mais actual, ou não exprimisse ele magistralmente, as inquietudes do ser humano, as suas incompletudes, angústias, sofrimentos, dúvidas!
Essas são intemporais, essas não têm época, atravessam gerações, simplesmente porque são.....Humanas!

Em jeito de homenagem ao poeta do AMOR, em mais uma efeméride do seu aniversário, coloco humildemente neste meu varandim, dois excertos seus, absolutamente notáveis, aliás como toda a obra daquele, que para dar alma e voz a todo o ser humano, se desdobrou e assumiu uma panóplia de alter-egos, de muitos rostos num rosto só, de muitas personalidades numa única, de muitos corações, tendo só um dentro do peito...

Não carecem de palavras...seriam redundantes!
Convidam à análise e à reflexão!
Façamos portanto com ele, a "TRAVESSIA"....

" O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis..."   
                  F. Pessoa

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.

É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

F. Pessoa                    
Anamar

quarta-feira, 15 de junho de 2011

"UM CASTELO DE PEDRAS..."

"Pedras no caminho?                                                 
Guardo todas, um dia vou construir
um castelo…".    

                                      Fernando Pessoa

E estou no ir...

Dentro de dias, muito poucos,  vou apanhar mais umas "pedras do meu caminho".
Não estritamente no sentido de Pessoa, em que "pedras" poderão até ser obstáculos, dificuldades...turbulência...
Aqui, espero que o não sejam, mas sim novas e espectaculares vivências, novos céus e novos mares, outro vento que me despenteie o cabelo, sempre o cheiro dos trópicos a trespassar-me (amante que o sou), sempre o sol e o calor da água a aconchegarem-me, novos sorrisos, nova "luz" de rostos diferentes, mas que deixarão de o ser por passarem a ser meus...

 Repito-me...eu sei. Mas ainda assim é todo este "frisson" que já me perturba, e me faz as tais cócegas gostosas na barriga, me torna docemente ansiosa, curiosa, solta, mais menina!

Sendo doces e saborosas, espero, são contudo "pedras"....
Também as há adocicadas...
Afinal, aquela pedra onde  repousamos na beira da estrada, numa sombra abençoada, não tem que ser agreste...
Aquela pedra que a criança inventa de bola de futebol e com a qual estraga os sapatos da escola...é uma pedra "feliz"...
Aquela pedra atrás da qual nos escondemos no alto da serra para trocarmos aquele beijo de amor interminável que nos fará história, porque nos fez vida...é uma pedra de sonho e de esperança...
Aqueles penedos da Estrela, de Monsanto, do Gerês, de Marvão, de Monsaraz, de Óbidos...são pedras de existência...a nossa existência deixada por lá, para a eternidade...
A pedra onde, adolescentes, a ponta de canivete, talhámos aqueles dois corações entrelaçados com a seta do Cupido a juntá-los ainda mais, é pedra de esperança e de fé, porque então acreditamos que isso vai ser sempre assim...como poder ser de outra maneira???!!!...

Reparo que ando a escrever pouco.
Não sei se ainda aqui virei antes de partir. Na verdade ando um pouco "dispersa", um pouco "fora de mim", e fora de mim não ausculto o meu "dentro de mim", onde estão os tais "jardins proibidos"...nem para lhes abrir as cancelas e lhes capinar as ervas...nem para regar as trepadeiras...

Bom, prometo na volta contar-vos...contar-vos como foi...contar-vos como "fui"...contar-vos das expectativas que se cumpriram ou não...
Também vou trazer uma "pedrinha", mais uma...na bagagem.
Não deve ser a areia de Punta Cana, nem da Tailândia, nem das Maldivas...nem desse "meu" mundo... para o armário das memórias. Desta feita não há tantas "razões especiais" assim....
A vida surpreende-nos, contudo...

Pedras, pedrinhas...areia...com todas elas, como o MESTRE (um dos meus, senão o meu poeta preferido como homem...o homem que mais entendia de mulheres...)... seguramente farei o meu "castelo" !!...

Fiquem bem!

Anamar

segunda-feira, 13 de junho de 2011

"OH VIDINHA !!!...."

O ser humano é complicado!

Parece viver mais facilmente em situações conflituais do que em aparente acalmia. Contra mim falo, sobretudo contra mim  falo!...

De facto, eu tenho uma remota tendência a não me movimentar muito bem naquilo que me é oferecido em "bandeja de prata", comparativamente ao que tem custos penalizantes para mim.
Parece que as coisas que me têm sabor, devem vir envoltas em sangue, suor e lágrimas...e mais, é tudo aquilo que não me vale a pena, que me vale a pena!...

Oh pobreza!!! Que gosto eu tenho em "avacalhar" a minha vida tantas e tantas vezes, sem lhe dar pelo menos de quando em quando, uma lufadazinha de ar fresco para que ela respire...sem a deixar "tirar o ar" até ao fundo!!!
À conta disto, e duma forma negligente, quantas e quantas vezes deixo passar o "comboio" da vida, sem que o tome na estação adequada.

Mas ainda há pouco eu lia uma crónica do meu jornal de sábado, que sempre compro (sobretudo para ler os artigos desassombrados de uma jornalista colaboradora do mesmo) e em que ela referia exactamente isso.
O ser humano deprecia o bom e privilegia o menos bom, quiçá o medíocre, nesta falta de pragmatismo que aliás é a "minha cara".
Eu sou assim...e depois choro as "pitangas"...sempre choro sobre o leite derramado!!!
E nunca aprendo, raramente aprendo...essa, a parte pior da coisa, mostrando-me ser uma aluna relapsa, a quem pouco falta acontecer, para perceber que talvez não devesse ter ido "por ali"!!...

Na vida, como na circulação do dia a dia....De facto, eu sou um espanto!
Quando ao volante do carro, seguindo num percurso que não domino, me surgem hipóteses alternativas de itinerário pela frente...é certo e sabido que sempre escolho o errado....e costumo dizer a brincar, que o remédio p'ra esta falta de "pontaria", seria sempre contrariar o palpite "bichanado" ao meu ouvido, por vozes das profundezas!!!! Eheheh
Se é pela esquerda que estou tentada a ir.....JAMAIS....o certo mesmo é seguir pela direita...porque a esquerda certamente não me conduzirá a bom porto!

Não sei se este tipo "anómalo" de característica é tão generalizado quanto estou a tentar passar, ou se sou apenas uma "avis rara" na coisa, embora eu conheça uma mão cheia de pessoas com esta postura.

Deverá ser, isso sim, apanágio de gente confusa e indefinida, indecisa das suas vontades, céptica nos seus creres, com pavor de errar (errando já....).
Em suma....realmente gente complicada que nem eu!!!....

Vá lá ter uma pontaria assim "nos quintos dos Infernos" !!!!....

Anamar

quinta-feira, 9 de junho de 2011

HOJE É O TEU DIA...SABIAS???



Hoje é o "dia dos amigos"....

Detesto esta mania que o calendário tem, de nos impingir as coisas!

Cá p'ra mim, "dia do amigo" é cada dia do ano, já resolvi!.....
Cada dia que eu falar ao telefone e disser: "Olá amigona! "....é dia de amigo para mim!

Cada dia que chamar e disser: "Quero colo....hoje eu preciso do teu colo !"...é dia de amigo para mim!

Cada dia que eu rir de tanto chorar e chorar por tanta merda que a vida me aprontou...e tu estiveres aí....é dia de amigo para mim!

Amigo, é amor, é amante.  É aquela coisa doce e descomprometida de nos sentirmos protegidas, de vararmos uma noite em torno de copos já vazios, cigarros já fumados...e conversas que já o não são, porque quase não precisaram de o ser, por adivinhadas!...

Amigo é lareira...é pôr-de-sol a dois...é lua sussurrada no céu estrelado!...

Amigo é bênção, é honra, é privilégio.
Amigo é para hoje e deverá sê-lo para sempre!
Falta dele é orfandade....a mais profunda orfandade que um coração pode sentir!

HOJE É O TEU DIA...SABIAS???  Hoje e mais os trezentos e sessenta e quatro que hão-de vir a seguir!!!!....

Anamar

quinta-feira, 2 de junho de 2011

SONHOS



Depois de velha consegui um milagre na minha vida : apaixonar-me pela VIDA...

Coisa aparentemente impensável no meu caso, reincidente que sou em desgraça, militante que sou no negativismo, aficionada mais ainda por uma boa "auto-novela" melodramática...

Pois hoje, não sei se por este Verão presenteado, não sei se porque a "viagem", mais uma dentro da "viagem", está por aí mesmo, dou por mim a sorrir, mais por dentro que por fora, é certo (não fossem chamar-me "maluquete"), mas ainda assim me aflora aos lábios um ténue sorriso que acho não ser "amarelo"...

É certo que de hoje a um mês já terei ido, já terei vindo ou melhor, devo estar a "voar" aqui por cima a esta hora; mas a minha bagagem humana, o meu recheio do coração deve vir seguramente mais enriquecido, mais recheado, eu serei uma pessoa mais e mais afortunada, seguramente...
Os locais, as pessoas, outros céus e outros mares, outros verdes e o amarelo de um outro sol, terão dado mais uma risca ao meu arco-íris, por certo!

Realmente, por cada dia em que acordo respirando, e apesar de claudicar muitas e muitas vezes, em que à minha revelia o pensamento voa p'ra longe e o olhar o mostra, traindo-me...concluo que de facto a minha existência é uma bênção que me é presenteada pelo tal "Arquitecto", que tão bem arquitectou tudo isto.
Todos os dias há cada vez mais um valer a pena espreitar esse mesmo dia, exaurindo-me, exaurindo-o até à exaustão.
As pessoas, todas, as boas e as más, diferentes umas das outras, sempre acrescentam, nunca diminuem o nosso enriquecimento pessoal, o nosso estar, a nossa dimensão interior!

Nos anos que levo de VIDA...e nessa matéria acredito ainda não ter atingido a adolescência (não quero esclarecer mais por que o digo), angariei e estou rodeada de facto, por uma caixinha de Pandora, qual arquinha de brinquedos, de afectos, sonhos, também mágoas, também dores, esperanças e desejos...
Dela, ao abrir a tampa, saltam o polichinelo, o cavalinho de baloiço, a pipi das meias altas, o sapo Cocas e o monstro das bolachas...
Sempre me desafiam para a dança de roda, sempre me querem levar para o País das Fadas, para o País das Maravilhas, por onde ainda anda a Alice, com a Princesa da Ervilha tão delicada, a queixar-se da ervilha a molestá-la, por debaixo do colchão!!
O Gepeto e o Pinóquio, a Cruela e os seus 101 cachorrinhos também vêm para esta orgia, que sempre termina numa bebedeira de vida, no país do sonho, em que de menina-mulher, me torno apenas menina...

E poderá haver melhor nesta Vida, que ser apenas menina??!!...

Anamar

sábado, 28 de maio de 2011

"COISA DE MULHER....haverá quem não me entenda?? rsrsrs"



Pois...uma tarde no seu melhor em matéria de todas as agressões possíveis, climatericamente falando : chuva torrencial, trovoada de fugir, granizo a dar com um pau!!...
Ah pois...porque agora estamos muito finos... Cada vez que chove, vem uma "saraivada" a anunciar-nos que a próxima "era glaciar" está aí à porta!!! Ahahah

Tirei parte da tarde ( que remédio), para levar a bom porto algo que é das maiores "estuchas" por que passo duas vezes ao ano, e que sempre adio enquanto posso: trocar as roupas, os sapatos e as malas, de roupeiros...inverno-verão.....verão-inverno, estão a ver?

Isto é uma tarefa de fazer suar as estopinhas a qualquer um, dado o recheio "substancial" p'rá troca, como ainda porque é um verdadeiro feito, "enfiar o chamado Rossio, na Rua da Betesga"!...
Eu empurro, eu subo a bancos, eu espicho-me quanto posso para chegar ao topo do armário, eu transpiro que nem uma doida, eu blasfemo e eu pasmo também...
Aliás, a estupefacção é o primeiro "abanão nas bases" que experimento.
"Como é possível, meu Deus, como é possível...aqueles trapinhos todos e sempre acharmos que não há nada para vestir??!!..."

Eu deliberei que não mais olho montras, até porque já tenho "roupinha" inclusive que chegue à "mortalha", mas ainda assim...lá se claudica de quando em vez!!

Ultrapassada a fase da estupefacção, há depois o êxtase...
Aquela tralha do ano passado, do antes do ano passado, de há cinco, se calhar com um bocadinho de jeito, de há dez temporadas atrás, "renasce das cinzas" qual fénix!!

Tudo ( por esquecido pelo menos meio ano no roupeiro), surge totalmente "reabilitado"...novíssimo em folha...Ficaremos um deslumbre, seguramente...
Pelo menos... pelo menos, até ao momento em que começarmos a tirar as pecinhas do "encavalitanço" das cruzetas. Porque aí, serão "outros quinhentos"....
O nariz torce-se porque afinal a toilette não "brilha" lá essas coisas...os quilitos que entretanto bem provavelmente acumulámos, já não lhes dão "aquele toque" que esperávamos, aquele "glamour" desejado, e...voltamos ao princípio : "Afinal, não tenho lá grande coisa p'ra vestir!!!..."

Oh gente da moda...que "pisam e dançam em cima"!!....Oh imaginações de um raio!  Se fossem gozar p'ra....p... q...os....p.....!!! (Isto tem que levar o "ózinho" no canto do monitor)...
É que se no ano passado era amarelo, este, seguramente será azul.... Se a saia era comprida...agora será curta...Se os sapatos eram de bico...este ano, quanto mais redondos melhor!!!
Não há quem aguente!!!

Neste momento, estou exausta!!

Não almocei sequer, comi uma droga de uma fruta que não se chegou bem ao corpo e dois bombons (essa, a parte deprimente da coisa, ou a mania que as mulheres têm, de se compensar com chocolate...)
Bom, o tempo não melhora. São seis da tarde; por este andar, daqui a pouco anoitece e eu pergunto : "O que é que me sobrou deste sábado, a brincar de esconde-esconde a Verão???!!!...

Anamar

quinta-feira, 26 de maio de 2011

SEM COMENTÁRIOS..... SIMPLESMENTE..."MAGNIFICENT"!

Chegou-me via e-mail.

Chegou-me e "esmagou-me" literalmente...
Óbvio que não comento....óbvio que é mesmo SEM COMENTÁRIOS, pelo simples facto que é   "MAGNIFICENT"....
 
PARA VOCÊS REFLECTIREM E SE SENTIREM PEQUENOS como eu me senti.........



Anamar

"AVULSAS"

Saiu de casa e viu o cachorro ao sol, preso a um banco, com a trela quase a sufocá-lo tantas voltas já dera em desespero, de ali estar só, do calor impenitente, da sede...
Já vinha a ouvi-lo desde casa, antes mesmo de descer à rua. Os seus ganidos já a haviam trazido até junto da janela, para tentar perceber  o que se passava, o que eram aqueles gemidos de aflição.

A revolta avassalou-a, o sol era implacável para quem a ele se expunha, mesmo sendo um cachorrinho.
Estava muito assustado, era demasiado meigo, excessivamente dócil e portanto não reivindicativo.
Tentou desembaraçar-lhe a trela, de início a medo, porque não conhecia a possível reacção; o coração do bicho, o seu arfar, o cansaço do "choro" que o dominava havia tempo e tempo, levaram-no a encostar o seu corpo ao dela, submisso, doce, agradecido...
Trouxeram-lhe água, tentaram localizar o "dono"...um indivíduo completamente "out"....drogas, químicos evidentes, que o impediram de reagir quando questionado...
De novo junto ao dono, o cachorrinho preto dessedentou-se ...e foram embora...

Viu-os seguir e pensou..."até para se ser cão é preciso ter sorte!!..."

Regressou um par de horas depois. No mesmo banco, estavam outra vez, ao sol de mais de 40ºC, agora, dono e cachorro preto.
O dono continuava "pedrado" e não dava pela canícula que se sentia. O cachorro deitado a seus pés, em paz, apesar do calor, apesar da ausência de água, se calhar de comida, se calhar de afecto...

Sempre a maldita "fidelidade canina..."



"Os homens não nos ligam nenhuma!..." - dizia uma à outra, frente a um prato de caracóis, entre dois goles de cerveja bem gelada.

Trabalho terminado por hoje, "portas" encerradas até outro dia repetido a papel químico, amanhã.
Mágoas carpidas à fresca, debaixo das ramagens do Campo Pequeno.
Falavam de tudo e de nada, muito mais de desencanto do que de encanto.

"Estamos nós preocupadas com a celulite, as banhas, os pelos...eles nem vêem!... Iludimo-nos a pensar que podemos contar-lhes as nossas mágoas, falar-lhes dos buracos do coração....eles "pairam" por cima de tudo isso!...
Não é nada disso que os interessa, nada disso que os preocupa, esses não são os "laços" que procuram. Aliás...eles não procuram "laços"!...
As pessoas hoje não querem "correntes". Não há mais "nós", dados com duas pontas bem apertadas. Só há "retalhos", pedaços, peças de puzzles que nunca o serão..."

À medida que a cerveja "subia", a alegria "descia" e uma nostalgia dolente como a tarde fervente, instalava-se.
O olhar de ambas também atraiçoava o que se calhar queriam esconder..."Bolas...é isto a VIDA??!!"...



Esperava no Centro de Saúde que a chamassem para a consulta. Janelas abertas, ar irrespirável, tanto mais, à medida que a "colmeia" enchia.

Na rua, uma caravana eleitoral anunciava-se aos berros, como convém, naquele gasto de gasolina inerente, megafones ao máximo. Música e frases bombásticas a esmo, agressoras dos nossos tímpanos.
Ridículas, no mínimo ridículas...

Perguntou-se: "mas será que esta gente acredita mesmo neste circo? Será que aceitam pacificamente esta forma debilóide, esta figura de palhaços tristes que encarnam??!!
Não haveria maneira de, nesta altura do campeonato, em que o país está de "calças na mão", em que estendemos miseravelmente a mão aos de fora que nada nos são, e por isso nos sentenciam sem dó nem piedade, não haveria maneira (até porque conhecemos as atoardas de tantos outros carnavais), de pelo menos nos pouparem a esta poluição sonora??!!...."

Anamar

sábado, 21 de maio de 2011

OS VELHOS "MENUS"....


Um dia de chuvinha no meio de dias de sol que pareciam convencer-nos que o Verão viera já para ficar.

Estou particularmente irritada hoje. O tempo mudou, as minhas maleitas também, eventualmente o meu treino foi p'ro espaço. Dou por mim no "tal" pequeno almoço "ajantarado" que conhecem....sentada à mesa do "tal" café, a "soprar", como quando se alivia a panela de pressão.

Há alturas, momentos, dias na rotina diária, em que há verdadeira conjugação de factores trucidantes sobre o nosso estado de espírito.
Parece criar-se uma conjugação "astral" qualquer, francamente negativa, que consegue pôr "em franja" a nossa melhor boa disposição.
É coisa aqui, coisa ali, coisa além...nenhuma na verdade importante, mas todas juntas a formar um bouquet de margaridas murchas...

Outra coisa que me está a irritar, para melhorar o estado de espírito, é exactamente este "chove não molha" deste meu nada para dizer e necessidade de o fazer, o que prevê um futuro negro para esta crónica de hoje.

Passei agora pelo "Escudeiro", sempre passo diariamente... As obras estão em fase de finalização.
O espaço interior está muito agradável, tenho que ser honesta, moderno, maior, luminoso, convidativo...
Mas faltava lá o "meu" Escudeiro!!

Olhava o actual, e visualizava o antigo...
Olhava o que serão as pessoas ali, futuramente...e via-me a mim, ao balcão...
Imaginava os novos empregados no atendimento e "estavam lá" o sr. Alexandre esperançoso e o sr. Veloso, rabujento...

Falhou-me, em relação ao Escudeiro, algo que se não conseguir ainda realizar, me deixará desasada do coração!!  Porque deveria ter-me lembrado!!
É o tipo de coisa que ou se faz agora, ou nunca mais se consegue fazer...do género das despedidas aos nossos defuntos. Ou se diz em vida o que há a dizer, ou vamos remoer-nos no resto da nossa, por nunca o termos feito e ficamos amargos pela impossibilidade de não o poder fazer nunca mais.

Passo a explicar este puzzle de ideias:  Na porta de madeira pesada, rústica e conventual, de aldrabas de ferro, que dava para a rua, sempre estavam diariamente expostos, os menus do dia.
Vi hoje que a porta também não foi aproveitada pelos novos donos.
Aliás, nestas reformulações sempre se descarta até à exaustão, a "velharia", como algo, que por o ser, já não é aproveitável.
Pode ter sido bonito, ter sido útil, ter sido de bom gosto e continuar a sê-lo...mas é apenas "velharia".
Parecem os carros a saírem dos stands. Passou a porta, desvalorizou num ápice!
Ou a frota do Governo...mudou de "gerência"...mudaram os carros....quase "zerinho" quilómetros...mas meras "velharias"!!...
Afinal, já houve alguns rabos que se sentaram neles...
Não os suficientes para os tornarem poídos, para lhes tornar o veludo "ruço", sequer para lhes deixar lá a marca dos tamanhos...mas são "antiguidades"...acabou!!...

Bom, dizia eu que neste momento, o Escudeiro é detentor de uma porta nova, incaracterística, mais "chapa 3", do meu ponto de vista....mas nova!!
Com a antiga, foram-se os últimos menus, e com eles, o resto das minhas recordações materiais objectivas (porque as outras, essas nunca mais se irão.... porque eu não sou pessoa de conseguir "descartar" grande coisa!! Não elenquei ainda o Governo, é o caso!!...)

Vou tentar recuperar um que seja. Ficaria muito feliz com isso.

Já procurei por informações donde possam estar, e se for preciso irei atrás....ao contentor, ao papelão, à "lixeira da vida"....ao "Velhão"...

Com um bocado de sorte, os velhos menus, do velho Escudeiro, voltarão a ter vida  no meu ficheiro de afectos, voltarão a ser "novinhos em folha", porque imortais...no meu coração e na minha alma!!...

Anamar                                   

domingo, 15 de maio de 2011

"30 ANOS DEPOIS..."


30 anos depois o "rei" continua vivo na Jamaica...

Bob Marley morreu há exactamente 30 anos e até hoje, o "rastafari" mais carismático daquelas terras, o ícone musical do raggae, dança-se em cada terreiro, em cada praia, debaixo daquele sol abençoado, em cada "dance-café"....ecoa no embalo daquele mar sem ondas, que é apenas berço de ninar !

O rei da liberdade, da "paz e do amor", continua adorado, inviolado, venerado pelo seu povo.
Os seus temas..."One love"..."No woman no cry"...sobem-nos até à alma...
Com eles, hoje "voltei" à Jamaica, para concluir dentro de mim, que ainda terei que voltar à Jamaica...para lá das asas do sonho, para lá da força da vontade, para lá da ilusão que "aquela Jamaica" continue ali...a Jamaica de 2006 continuando à minha espera!!!...

Sei que não é nada disto!

Sei que eu hoje já não sou "aquela".....sei que a Jamaica hoje...também não!...
Mas o "rei" ainda é o mesmo, a sua voz continua a arrepiar-nos o coração!  No "Rick's cafe" todos os dias, muitos, estarão ao som e ao ritmo inesquecível do raggae, a dançar, a fumar "marijuana" e a ver o sol...aquele sol incrível, do laranja ao roxo....a tombar de mansinho na linha do horizonte...

Em "Martha Bréa", o "Ray"...o rastafari mais emblemático ...ao sabor da corrente, continuará rio acima e rio abaixo, a navegar naquela jangada!
Será ainda a jangada onde eu me passeei? O marulhar das águas nas ramagens silenciosas terá ficado suspenso até que eu regresse?

A Terra continuará a dar os únicos frutos que o homem pode usufruir, porque os rastafari sabem que Jah, o seu Deus, não lhes permite violar a natureza pródiga...apenas aceitar a sua pujante generosidade!...

E a paz da tarde abençoada pelo cair do calor implacável, os cheiros dos trópicos, a nudez e a leveza dos corpos, a dolência que os envolve e o ritmo bamboleante...tornam Marley, tornam a Jamaica, um local só MEU!!!!....

Anamar

sábado, 14 de maio de 2011

"AO ALCANCE DE UM CLIQUE"

Todos os dias àquela hora vestia o seu melhor vestido, maquilhava-se a rigor, perfumava-se, abria as portadas e esperava.
O Mundo estava à sua frente....Espantoso, como as pulsações se aceleravam, como por vezes um calor gostoso lhe subia...

Procurava uniformizar os diálogos. Não podia ter versões frágeis ou menos convictas. Regredia mais de década na idade, mudava de emprego, passava a ter metas, projectos...sonhos.
Punha-se noutra pele, "montava-se" noutro rosto...
Apenas, porque o coração era o mesmo, o "ar" sofrido, a nostalgia interior de alma, acabavam atraiçoando-a, denunciando para o "outro lado", à sua revelia, um pouco da imagem real que desejava apagar.

Esse era um lado, daquele "dois em um", que atraía muita gente, porque muita gente se identificava com ele, porque muita gente andava sofrendo por aí, andava em silêncio e em solidão pelas esquinas...

Quando soltava sem comportas essas "torrentes" e se punha a nu, deixava suspenso quem lhe admirava o "verbo" fluente, desinibido, quente e cativante, eco de vozes e vozes das noites sem fim...
Porque ela falava do que muita gente não conseguia verbalizar, embora sufocada até à garganta;  porque ela punha dúvidas, inquietações, mágoas, duma forma simples, procurando identificação do lado de lá, miscigenação com os "zombies" das noites sem lua...mas também aconchego, ombro, cólo, calor...

Pelas madrugadas não se regateia o cólo, não se questiona o companheiro de travesseiro, não se escolhe em demasia o ouvinte...sobretudo se o ouvinte nem tem rosto visível...apenas aquele que ela criara na sua cabeça.

Aquela varanda tinha dessas coisas : a construção de imagens sobre imagens, de rostos, de sons, de hálitos, de timbres de voz, de mãos, de cheiros, como num caleidoscópio alucinante, num fractal maravilhoso!
Aquela varanda deixava  que flutuasse pelo éter, sem limites ou fronteiras, apenas regida pelo sonho, apenas comandada pelo instinto, apenas impelida pelo coração!
Era, mas já não era mais ela, anonimamente saltitando de nuvem em nuvem, de estrela em estrela, rodopiando num baile lúgubre, de mãos dadas com os esfomeados de afecto, com os desencantados dos sonhos, com os cépticos dos amanhãs...
 
Por isso, àquela hora, ela sempre vestia o seu melhor vestido para ali assomar.
Jamais sairia dessa varanda...
Se o fizesse, destruiria o fantástico, o imaginário, o extraordinário e incrível que era, ter o Mundo apenas ao alcance do clicar de uma tecla!!...

Anamar

quarta-feira, 11 de maio de 2011

AFINAL HOJE ESTOU PARA "ALFORRECA"!!...



Constato que ando a escrever muito pouco.

Devo andar naquela fase lunar em que a Lena diz que "alforreca"... 
Eu não "alforreco" exactamente, se é que o "alforrecar" dela é tanto quanto o entendo...
Em relação a mim...acho que "encaracolo" ou "entartarugo"...muito mais adequado.
Entro na fase atípica de uma hibernação morna, e fico assim, em banho-maria, até que...até que...pois, essa a questão.
Não me ocorrem ideias, nem decisões, não sinto nenhum "frisson" a amarinhar-me...logo eu, que sou a mulher que vive de prego a fundo, no máximo das rotações emocionais...

Não é que na minha vida não aconteçam coisas, não haja balanços do barco que quase me deitam borda fora. Nada disso...De facto neste "turbilhão" nada temos de sossego; os desafios colocam-se-me diariamente, a necessidade de satisfação e de paz interiores não me dão folga.
A escolha de caminhos, as encruzilhadas a desfilar à minha frente, as rotundas que contorno, contorno para vislumbrar a melhor saída, deixam-me como barata tonta, mais baralhadinha das ideias do que nunca, de "olhos em bico" e neurónios em "baile de máscaras"...

Realmente na minha vida, e se calhar na vida de toda a gente, raramente nada tem o timing certo, raramente nada tem os condimentos desejáveis para preparar consentâneamente uma boa refeição.
Se há isto, não há aquilo, se há aquilo, quem sabe não era melhor haver isto??!!

E o ser humano no arame da vida, a olhar entre o equilibrar-se lá em cima e o abismo que o espera, mesmo por baixo!...

Estou, para variar, naquele café do pequeno almoço, aquele café de população fixa e reconhecidamente "típica"...já vos falei sobejamente!
Agora pensava eu: "Nem sei como o país ainda está em crise...Tanto "economista" bom a apontar saídas!... Tanto "político" credenciado a parir ideias brilhantes... Tanta solução a dar "sopa" e ninguém aproveita!!!"

De facto, este café, se calhar este Portugal, resume-se a política e futebol.
Sobra pouco espaço devoluto, muito pouco espaço para sonhar, para escancarar os olhos e ver o que está à nossa volta, muito pouco espaço para pensar, pensar com o coração...muito pouco espaço para "sentir" e deixar penetrar até à alma este sol de Verão, que parece ter vindo sem bilhete de ida...

Talvez seja este clima de solução adiada "sine die", de túnel de luzes fundidas, de inquietação de coisa que espera em fogo brando, que está em mim, que estará em muitos de vós, que está na sociedade e se calhar no Mundo...que me deixa assim, tipo no banco da estação a "vê-los" passar, tipo no "banco da Vida" a vê-los escoar...tipo doente de hospital com respiração assistida...

Uma droga...isso sim!!!...

Constato que ando a escrever muito pouco...e que acabo de parir um texto pobrezinho, pobrezinho, irrelevante que dói, junção de palavras com estados de espírito, de estados de espírito com melodramas pessoais sem solução à vista...

Bolas....Acho que afinal sempre atingi o meu melhor estado possível de "alforreca"!!...

Anamar

quinta-feira, 5 de maio de 2011

SONHAR ACORDADO ! ! ...

Olhava há tempo perdido para uma revista de viagens, daquelas que no sonho, se buscam nas Agências, sempre a pensar que se arranja dinheiro para se ir por aí...concretizar o que prende nas brumas do sótão, no nevoeiro do coração...
Olhava da direita, da esquerda, sublinhava, calculava os recursos cada vez mais parcos que a crise instalada lhe deixava.

Quem diz que não se viaja assim, numa mesa de café, entre um pão e uma chávena, com uma revista à frente, ou numa cama, com o "Travel Channel" aos pés a fazer "negaças"...ao deitar??!!

Anda por aí e já tem "barbas",  um e-mail humorístico, negramente humorístico, que se denomina : as "férias dos portugueses"...
Tristemente humorístico, diria, quase macabro!
Nele, está um "português", deduz-se, devidamente equipado em traje de praia, óculos escuros, chinelas nos pés, uma bebida de palhinha à frente, refastelado numa poltrona, frente a um PC que lhe mostra imagens de ilhas paradisíacas do imaginário de todos nós.
E o portuguesinho, de charuto na boca, deixa voar o sonho por aí fora, até ao Índico, ao Pacífico, às Caraíbas...e fica sempre por ali, naquela sala ou naquele quarto...

Num filme revisto um destes dias - "Colisão" - um taxista tem consigo, na pala do tabelier do carro, um postal com uma vista das Maldivas, e nos momentos de repouso, entre dois clientes, visualiza, ao jeito de carregar baterias, aquela paisagem onírica...
Também ele sonha, também ele se deixa ir para lá daquelas viagens, nas noites escuras de LA...

A mente e o seu "vaguear", o sonho, a liberdade individual de ir....o Governo, a Crise, o FMI...ainda não conseguiram penalizar, tributar, "cortar".....já que os jornais, esses, todos os dias são mais pequeninos, quase minúsculos...se os avaliássemos pelos "cortes" com que nos infernizam a vida!!!...

É um crime não poder de facto amarinhar para as asas da sua gaivota, "acertar" com ela o preço da "corrida" ( se calhar só de ida ) e simplesmente ir com o vento de jeito, numa "emigração" sem retorno...que este país não está para nada!!! - pensava.

Se pudesse, deixaria de comer...hibernava...até poder deitar a cabeça de fora e seguir...
Tantos destinos a visitar, tantos pores e nasceres de sol à sua espera, tanto mar de águas mansas e quentes, tanto verde esbanjado, tanto céu de turquesa, tanta natureza pródiga e gratuita, essa sim, ao alcance de uma mão...ao alcance de tantos euros....

Pensava em como curta era já a "viagem"...para desejos tão compridos....em como os sonhos eram do tamanho do Mundo, com o Mundo a encolher a olhos vistos!!!....

Anamar

quarta-feira, 4 de maio de 2011

"ESTA NOITE TIVE UM SONHO...."



Esta noite tive um sonho.

Não foi um sonho qualquer;  a sua intensidade foi na proporção da insónia que o havia antecedido, e "retratou" tudo aquilo em que matutei durante o tempo de vigília, em que rebolei na cama, com posição, sem posição, com frio, com calor...sei lá!! 
Era um sonho tão vívido, mas tão vívido, daqueles que nos passam com total fidelidade tudo o que se calhar não queríamos que fosse apenas sonho. as imagens, as sensações, os sons, os desejos, a paz...

Desses sonhos, o pior é acordar e constatar isso mesmo: que embora os lembremos em pormenor ( o que normalmente na maioria das vezes não acontece, porque mal abrimos a pestana o sonho já foi, e já não estamos lá para lhe juntar os retalhos...), eles foram, de facto, só isso...uma miragem que nos povoou a alma, um afago que nos "massajou" o coração e uma raiva daquelas, por termos sido indecentemente "ludibriados" por uma história bem contada demais!!!

Foi exactamente o que pensei ao acordar, já depois de ter saído do torpor ou do embalo desse sonho : "Era bom demais para ser verdade!!!..."

E senti-me usada e devassada abusivamente pelo reino de Morfeu!!!

Ontem pensava eu também : os defeitos da visão desfocam e adulteram essa visão...todos sabemos. Quando a vista começa a ficar desfocada para lermos o jornal da manhã, tentamos compensá-la afastando o jornal, "encompridando" o braço...e depois, até isso, já não chega!

Para nos vermos no espelho, exactamente igual; a nossa imagem nítida de outros tempos, fica "providencialmente" (digo eu), mais e mais indefinida.
Se pudéssemos sair do espelho e vermo-nos cá de fora era mais fácil, teríamos maior rigor e acuidade de análise.
Como se pudéssemos abandonar a "moldura", e de fora observássemos acutilantemente o "boneco". A objectividade trazida pela distância, seria por certo, maior.

Por vezes vem-me à cabeça uma teoria defendida por quem acredita na reencarnação, e portanto na multiplicidade das vidas após as vidas....e em que se diz que cada ser, ao morrer, liberta a sua "essência", alma, energia, o que quiserem, a qual, abandonando o corpo que "habitava", "assiste" ao seu próprio enterramento.
Paira e observa...

Não me pronuncio sobre isso, não tenho opinião, ideia formada a propósito.
Penso no entanto que gostaria de me poder observar também, com distanciamento, porque ele trar-me-ia maior isenção e análise, estou certa.
Assusta-me muito a miscigenação ou "promiscuidade" de mim comigo mesma, porque me tira capacidade de saber onde "começo" e onde "acabo"...
Assusta-me muito a perda da noção de fronteiras, de realidades, de conveniências até!

É como se as dioptrias se fossem estendendo dos olhos à cabeça, toldassem irremediavelmente a razoabilidade, os princípios e até valores...
E a droga é que para o coração ainda não inventaram óculos adequados...e o meu, está cada vez mais cego!!!...

Olhem, isto hoje está demasiado hermético???  Não sei...só pode ter sido porque esta noite tive um sonho...

Anamar

sexta-feira, 29 de abril de 2011

"GOD SAVE THE QUEEN !...."



Dia modorrento, tal como eu!
Acinzentado, um sol com vergonha de se anunciar...parece que cá e lá...
"Lá"... refiro-me a Londres, Londres refiro a chuva que haviam previsto cair, para "abençoar" aquele casamento, que de tão falado já vai estando gasto!

Café quase deserto ( as pessoas resolveram ficar placidamente em casa, a desfrutar da exaustiva reportagem de todas as televisões, comodamente nos sofás, fazendo "zapping" com frenesim, não fosse alguma das estações ter captado melhor este ou aquele flash imperdível ) ;

Eu, fui acordada e como consequência "atirada" para a rua, pelo telefonema, exactamente de Londres, do meu amigo David, que tem exultado com o casamento do seu príncipe.
David brincava a perguntar-me se eu já estava em Westminster, que não me havia encontrado, se eu havia recebido a sua encomenda esta semana, com bolinhos, chocolates, a adequada bendeirinha e até "wedding drops for cats", para a Rita...tudo à volta do "circo" mediático  de "souvenirs", montado a propósito do evento.
Claro que recebi, claro que "desgraçadamente" até já comi alguma coisa...enfim, o David, de meu "bom amigo" anda a passar-se para um verdadeiro "amigo da onça", colocando-me à força em regime de "engorda".

Bom, o casalzinho do ano, quiçá do século, realmente é merecedor de simpatia.
Quer William, quer Kate, são figuras carismáticas, pela aproximação inevitável a Diana, pela aproximação inevitável ao povo, à gente anónima que "acampou" literalmente, há vários dias, para não perder pitada da união dos seus príncipes e de os prestigiar.

São realeza e parecem gente comum. São simples de postura e simpatia.
Não têm a frieza dos britânicos, pior ainda, das figuras quase fantasmagóricas (algumas), da coroa tradicional que por lá ainda está.
Por eles parece perpassar uma lufada de ar fresco, de despretensiosismo, de quebrar de regras e rigidez de protocolos bafientos da monarquia...

Digamos que por eles, Diana fará finalmente a "sua justiça"!!...

A nós por aqui, ancestrais aliados que sempre fomos dos britânicos, estamos de tal modo "de tanga", que nem o "nosso D. Duarte", de tanga  poderia comparecer ao evento ...
Tudo nos corre às avessas e nem sequer temos um casamentozinho que nos possa valer, à entrada de algumas divisas, que tanto jeito nos fariam!!...

Resta-nos atordoarmo-nos com as imagens sempre de "conto de fadas" que envolvem de mistério e magia qualquer casamento, mais ainda se for  de uma princesa.... e desejar a Kate que

                           "GOD MAY SAVE HER!!..."

Anamar                                                                                                        

"REPEGANDO..."

 

Falava-vos ontem do artigo de Clara Ferreira Alves, ao semanário EXPRESSO, há algum tempo atrás, infelizmente sempre actual.

Aqui vo-lo transcrevo e deixo à vossa consideração/ reflexão.

Só me ocorre dizer: "POBRE PAÍS!!..."


Clara Ferreira Alves

Mas vale MESMO a pena ler... Aqui fica:

"Não admira que num país assim emerjam cavalgaduras, que chegam ao topo, dizendo ter formação, que nunca adquiriram, que usem dinheiros públicos (fortunas escandalosas) para se promoverem pessoalmente face a um público acrítico, burro e embrutecido.

Este é um país em que a Câmara Municipal de Lisboa, desde o 25 de Abril distribui casas de RENDA ECONÓMICA - mas não de construção económica - aos seus altos funcionários e jornalistas, em que estes últimos, em atitude de gratidão, passaram a esconder as verdadeiras notícias e passaram a "prostituir-se" na sua dignidade profissional, a troco de participar nos roubos de dinheiros públicos, destinados a gente carenciada, mas mais honesta que estes bandalhos.

Em dado momento a actividade do jornalismo constituiu-se como O VERDADEIRO PODER. Só pela sua acção se sabia a verdade sobre os podres forjados pelos políticos e pelo poder judicial. Agora contínua a ser o VERDADEIRO PODER mas senta-se à mesa dos corruptos e com eles partilha os despojos, rapando os ossos ao esqueleto deste povo burro e embrutecido.

Para garantir que vai continuar burro o grande cavallia (que em português significa cavalgadura) desferiu o golpe de morte ao ensino público e coroou a acção com a criação das Novas Oportunidades.


Gente assim mal formada vai aceitar tudo e o país será o pátio de recreio dos mafiosos. A justiça portuguesa não é apenas cega. É surda, muda, coxa e marreca. Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso, apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção. Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo normal" e encolhem os ombros. Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada. Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia, que se sabe que, nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas Consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado.


Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou, nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve.

Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços de enigma, peças do quebra-cabeças. E habituámo-nos a prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal em Portugal, e que este é um país onde as coisas importantes são "abafadas", como se vivêssemos ainda em ditadura.

E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogs, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade.

Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Braga Parques ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém quem acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muitos alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente punidos?

Vale e Azevedo pagou por todos?
Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência de Leonor Beleza com o vírus da sida?
Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático?
Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico?
Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana?
Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?

Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma.

No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível, alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar alguém?
As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia espalha rumores e indícios que não têm substância.

E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou?

E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns menores, onde tanta gente "importante" estava envolvida, o que aconteceu?
Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu.

E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê?

E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára?

O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.

E aquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Exerce medicina?

E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca.

Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento.

Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade.

Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.

Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças , de protecções e lavagens, de corporações e famílias , de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.

Este é o maior fracasso da democracia portuguesa."
                                                                                            Clara Ferreira Alves - "EXPRESSO"
Anamar

quinta-feira, 28 de abril de 2011

"UM SONHO SONHADO P'LA METADE !...."

Uma amiga enviou-me um e-mail com a transcrição de um artigo de opinião de Clara Ferreira Alves.

Chamava-se ele "O MAIOR FRACASSO DA DEMOCRACIA PORTUGUESA" e foi publicado no semanário EXPRESSO.
Talvez alguns o tenham lido.

Clara Ferreira Alves não carece obviamente de apresentação, quer como personalidade, mediática que é, quer como jornalista, comentadora política, clara, como o seu próprio nome, contundente, esclarecida, desassombrada, pragmática.

Ela não fala para elites, linguagem hermética, precisando de descodificação. Ao contrário, tem um discurso escorreito, objectivo, esclarecedor.
Depois de a ouvir chamar as coisas pelos nomes, é usual concordar-se com a sua exposição e forma de análise crítica construtiva.

Durante a tarde, e porque a minha mãe se encontra convalescente aqui em casa, para a distrair, liguei o televisor, tentando cativá-la para o programa que passava, e assim, retirá-la da apatia que tem estado a instalar-se-lhe.
o programa era um filme/documentário sobre o 25 de Abril de 74, os acontecimentos que o dominaram...os bastidores da História...

A minha mãe é a tal que quer viver "até ver o país reerguer-se", como vos contei...e ficou "presa" ao écran, apesar do mal-estar que ainda a domina.

Eu, no PC, de costas para o televisor, ia ouvindo, decibéis muito acima do razoável ( o que me deixava os miolos quase fritos ), histórias da História.

Desde o discurso inflamado de então, aos slogans gritados em uníssono por multidões, que eram verdadeiras correntes com elos indissolúveis, às canções/bandeira erguidas por uma só voz, por um só povo, por uma só esperança...de tudo me chegava aos ouvidos.
As figuras carismáticas, rostos da revolução dos cravos, eram os genes de uma nova era que se pretendia de mudança, de fé, de muita esperança!

As cartas estavam finalmente na mesa, o "jogo" começava a fazer-se, mas ninguém, seguramente nesse dia, de todos os que anonimamente se felicitavam nas ruas, sorriam, se abraçavam, numa alucinação colectiva, acreditaria, que trinta e sete anos depois, a revolução de hoje, como lhe ouvi chamar, com bastante propriedade aliás...é a Revolução dos ( Es ) cravos!!!..

E senti dentro de mim, a raiva da criança que acreditou no sonho de alcançar a lua, a raiva da fé gorada nos poderes de Aladino e da sua lâmpada, ou tão só a fraude que se sente dentro do peito, quando demos tudo, mas tudo mesmo, por um sonho ou miragem que pareceu estar ali tão perto, e que afinal, não passou disso mesmo, uma miragem, um sonho sonhado p'la metade!...

Os custos emocionais acarretados para dentro de cada um de nós, acredito serem desmedidos, o fracasso para que fomos arrastados, sem tamanho...

E a "geração do desenrasca", que creio sermos também nós, os mais velhos, confrontados com o curso desta água podre por entre escolhos, faz como eu...fecha o televisor para não chorar!!!....

Anamar

domingo, 24 de abril de 2011

"OUTRO" 25 DE ABRIL.....



O meu país de Abril virou Inverno!
O meu país de esperança e cravos rubros
virou sonho, virou nuvem, virou mágoa...
O meu país azul aqui tão perto!

A canção de "ninar" não se ouve mais...
Hoje as mães de Abril não têm pão...
O meu país de Abril virou Inferno,
e não há já, quem diga "NÃO" !...

O meu país de esperança e cravos rubros
está a parir dores, injustiças, solidões...
O sonho já sonhado estiolou,
Até de Abril, se calaram as canções!...

Virou sonho, virou nuvem, virou mágoa,
A gaivota não voa mais no nosso céu!
Pobre gente, pobre terra de diáspora,
que hoje nada tens que seja teu!!...

O meu país azul aqui tão perto
E tão longe que parece que o inventei
Os cravos não existem, não perfumam...
Mas juro, que nele um dia acreditei!!

O meu país de Abril virou Inferno!...
O meu país de esperança e cravos rubros...
Aqueci-o, embalei-o junto ao peito...
Mas perdeu-se ... mesmo estando aqui tão perto!!!....

Anamar

sábado, 23 de abril de 2011

"E QUANDO JÁ NÃO HÁ AMANHÃ??..."

Outra madrugada "desgramada" sem sono durante horas e horas, em que a pestana corrida, não impede que a vigília se instale por debaixo dela. O pensamento voa, voa por debaixo também, e tudo, mas tudo é "desencantado" com as cores da noite, que como sabem, nunca são muito coloridas...

Pensava eu, nestas deambulações, que há quase um mês o Norberto "bateu a porta"...
Do Norberto já vos falei. Continua-me no coração...
A esta hora já ele matou a curiosidade que me transmitiu na minha última visita a Sta. Maria : "Ver como era aquilo lá do outro lado!"..
É portanto, muito mais "sábio" que todos nós que por aqui continuamos em Via Sacra, apesar da Semana Santa estar a acabar!...

Neste momento reflicto que ao contrário do que devia, a minha hipermetropia está a aumentar a olhos vistos...
Passo a explicar: "Hipermetropia é um defeito da visão que prejudica a visão ao perto, a curta distância..."
Pois é...eu "vejo" muito melhor para trás, o que por lá ficou, e também o que há-de vir, que é como quem diz, trago sempre o futuro antecipado, ao pescoço, como a moeda de Bali que o Miko me ofereceu na despedida.

E ver o presente, o hoje, o agora, que é lugar comum saber-se ser o "certo", o único certo....népia!

E depois, quando menos se espera, dão-nos ordem para "bater a porta" e confrontamo-nos com o ridículo que foi, a dramatização de tudo isto! Porque, nesse dia, inapelavelmente, fica tudo por fazer!!...

Pensava eu...se calhar, no frigorífico do Norberto ainda ficou o resto do jantar da véspera, fruta na fruteira, a viola encostada a um canto, acreditando pacientemente que ele de novo a faria vibrar, aquele CD que era para ouvir depois, aquele filme que estava na "calha" para ser visto ( se calhar em boa companhia ), o vinho que não bebeu...e com um bocado de pouca sorte, alguma camisola ainda dependurada no estendal...

Depois, houve as palavras que sempre adiou para dizer, as gargalhadas que não deu, apesar de o Norberto ser de gargalhada fácil, de riso franco, as lágrimas que talvez tenha chorado às escondidas...e até o almoço que havíamos combinado, espera "sine die"...mas "sine die" mesmo...

Não sei como vou resolver isto...O Paris continua à nossa espera, a promessa ficou a pairar à espera de melhores dias...e agora??
Vou almoçar sem o Norberto?
Parece-me injusto! Parece-me uma "pirraça" de mau gosto...uma aleivosia do caraças...Que droga!!!...

Se fosse eu, então...acho que "TUDO" tinha mesmo ficado por fazer!!
Como sabem, as "minhas coisas" sempre esperam melhor oportunidade, que parece nunca chegar.
Eu deixaria tudo dependurado nos "cabides" da VIDA...seguramente...

Anamar