sábado, 6 de setembro de 2008

"EU FUI AO PANTANAL..."



Hoje, um pouco mais cedo, vou falar-vos dos sonhos...

Dos sonhos?...perguntarão...Quais??
Aqueles que se têm em plena luz do sol, legitimamente, por cada dia que começa?!...
Aqueles que se comem no Natal e até contribuem tristemente para o despautério da nossa "silhueta"?!...
Ou aqueles que por vezes nos "atarantam" as noites, porque, ou o não são e são pesadelos tramados, ou acabam desgraçando o nosso humor, quando escancaramos os olhos e constatamos que "tudo aquilo" era mesmo só sonho...e afinal já estamos "noutra"?!...


Pois, se calhar poderia falar um pouco de todos, mas o que me trouxe de facto à escrita, foi o inusitado da minha "viagem" na noite passada, ao Pantanal...e que não resisto a descrever-vos, tão fielmente quanto a "vivi"...

Exactamente...imaginem que a minha noite, mais não foi do que uma viagem inacabada até ao Pantanal, onde afinal não cheguei a acostar...e digo acostar...porque a minha viagem era de barco.

Aliás, essa também é uma característica dos sonhos...nunca chegarmos à realização do "bom da coisa"...ou seja, levamos o sonho a saborear por antecipação o seu anunciado "happy-end" e depois...nunca o alcançamos.
Eu tenho p'ra mim, que é da emoção que acumulamos, na expectativa de um desfecho desejado. O coração bate mais forte, a respiração fica descompassada e...catrapumba...acordamos!

Acordamos com uma raiva danada e quantas vezes ficamos bem quietinhos, para ver se com um bocado de sorte "repegamos" o fio à meada e conseguindo "driblar" o inevitável, "reembarcamos" no mesmo sonho...
Mas nada!...Pufftt!...O sonho escapuliu-se da nossa mente com "bilhete de ida" e aquelas imagens que ainda há minutos atrás eram tão reais, tão verosímeis, tão consistentes (de som, de cor, de cheiros), desfazem-se que nem espuma de claras, em farófias mal batidas!...



Bom, mas eu ia ao Pantanal...Eu, a minha mãe de oitenta e sete anos e o António de sete...um "pé de trempe", como vêem, com toda a lógica!...
Ora então embarquem comigo no sonho...



Navegávamos lentamente numa lancha aberta, certamente uma "chalana" (lembram-se?), ao longo de um rio cujo nome retive durante algumas horas e claro, como "convém" a qualquer sonho que se preze, já se me varreu, a esta distância...
Mas também, não interessa muito, porque o rio cujo nome eu sabia, só deve ter existido no meu sonho mesmo.

As águas batiam mansas o casco do barco, numa melopeia doce e embaladora, abrindo uma estrada de ondulação; o sol quente e forte de um Brasil em pleno, envolvia-nos e acariciava-nos; o céu, de um azul esmagador e iluminado, lembro-me que nos feria os olhos...

As margens desenrolavam-se com os verdes profusos e as ramagens em espreguiçamento lascivo, mergulhavam luxuriantes na correnteza; os cheiros adocicados do trópico por vizinho, inundavam-nos as narinas e os sons da mata ou do manguezal (gritos estridentes, cacarejos desgarrados, trinados a descompasso), ecoavam no silêncio quente e húmido da floresta pantaneira.
O olhar percorria, adormentado, a imensidão exuberante, onde as aves rasgavam o espaço em bandos compactos de cores intraduzíveis, ou se dependuravam das ramagens, feitas adornos esquecidos em árvore de Natal...

Não lembro vozes humanas, não lembro movimento de gentes...
Lembro apenas sensações inundantes, emoções incontidas e uma esmagadora mensagem de paz, harmonia, bem estar, equilíbrio, plenitude...um forte sentimento de "miscigenação" e entrosamento quase irreal, com aquela natureza primária, pujante, com aquele santuário em comunhão com a nossa alma...

E pronto...Numa espécie de "vingançazinha" do além, acordei, claro...

Apesar disso, a tela tão eloquentemente pintada pôde transportar-se para o meu dia e acicatou uma vontade/desejo/sonho antigo : poder transformar rapidamente este sonho de noite num sonho de dia...poder deixar-me levar pelo ritmo lento das águas, sem estações, sem relógio, sem tempo...simplesmente ao sabor do marulhar da corrente, ao correr do despenteado do bafo quente e generoso... tal como o é a natureza do Pantanal!...







Anamar

3 comentários:

Barman disse...

adorei os teus posts.
quando os comecei a ler pensei, então mas isto nunca mais acaba? tou aqui tou a fazer Alt+F4, mas demorei a reagir, e ainda bem que assim foi, pois percebi que em cada palavra que lia, em cada letra que provava, ficava mais perto do ecran e mais agarrado a tua escrita.

és uma escritora, ou bloguista, chamemos-lhe como quiseres, muito boa, tanto que fiquei fâ, pode ser? hehe

espero até ao proximo post, para me saciar perante esses caracteres, tão comuns, mas agora tão deliciosos...

Barman disse...

haaa, esqueci me de referir o quanto importante se torna a qualidade e " o momento" das fotografias que acompanham os textos, que pelo contrario os tornam ainda mais realistas.

tambem gosto de escrever mas gosto mais de me considerar um "bloguer estetico, e se vires o meu blog percebes o porqué.

ainda bem que algum dia alguem disse " vale mais uma imagem que mil palavras" para assim eu poder acrescentar " vale mais uma boa imagem com as tuas mil palavras.

beijo e sê feliz.

anamar disse...

Olá
Óbvio que não poderia deixar em branco os teus generosos quanto simpáticos comentários à minha escrita.
Embora o faça porque desde que me conheço não vivo sem ela, ela (a escrita), não se dirige propriamente a um público, embora eu seja muito sensível, claro, ao "feed-back" que ela me dá.
Assim, agradeço ainda mais toda a tua amabilidade e fico feliz por teres gostado.
Aparece sempre que queiras,comenta sempre, quando e como te aprouver.
O teu blogue tem de facto um cariz bem diferente, bastante interessante.Percebi claramente a razão de dizeres que privilegia a "estética" e acho que deves continuar,sobretudo mantendo a qualidade e a diferença.
Um grande beijinho também para ti.
Anamar