terça-feira, 23 de outubro de 2012

" LIMITES .... "

 

Num destes dias, um conceituado político afirmava : "Atingiu-se o limite da razoabilidade ;  não é possível mais ! "  ( a propósito das sucessivas e inclementes exigências a que o Governo, mais e mais, submete o povo português )

Na Física, diz-se que os materiais têm coeficientes de elasticidade, de alongamento, de dilatação ... limites inultrapassáveis.

O açúcar, tem os "pontos" ( de pérola, de cabelo, de estrada ... ) .  Se ultrapassados ... desanda tudo !

O ser humano tem o limite de resiliência, a sua capacidade ( que se deseja grande ), para suportar as dores da Vida, as contrariedades, as adversidades diárias.
Quem melhor estiver artilhado com ela, terá uma sabedoria facilitadora da existência, e da subsistência.

Há rupturas de ligações afectivas que surgem aparentemente do nada.   Apenas, porque foi ultrapassado seguramente algum limite, muitas vezes não percepcionável ...

Deixa de se ver alguém, no justo momento em que dobrou uma esquina ...
A página do livro fica indisponível aos nossos olhos, quando a viramos ...
O copo de água entorna-se, com uma simples gota a mais ...

Enfim ... limites, limites, limites !...

De repente, nas nossas vidas percebemos que atingimos um, e que dali em diante, nada poderá continuar como estava. É obrigatório mudar alguma coisa !
Terá de operar-se uma qualquer revolução em nós, como afinal as revoluções na História dos povos,  quando também foi atingido algum pico inultrapassável.

O "pico", o "ponto", o "coeficiente", são limites, são balizas, que, atingidas, já independem da vontade humana, até mesmo dos desígnios do seu coração.
São efectivamente pontos potenciais de ruptura, contra os quais, pouco ou nada se pode já fazer...

O Homem, por acomodação, por opção, por capacidade de resistência, ou falta dela, por interesse, por estupidez ou por inteligência, por amor ou até por ódio, por tédio ou por indiferença, sempre tende a deixar arrastar muitas vezes, o que vai apodrecendo no caule, como fruta bichada.
Até ao dia ...

Ainda na Física ( e todos sabemos, ou temos consciência mais ou menos clara disso ), se ensina, que vencer a inércia, ou seja, ultrapassar o limite do repouso ou do movimento, exige dispêndio acrescido de energia.
Por isso, o ser humano se "defende", tendendo a manter o seu "estado", caótico ou não, o quanto pode, para protelar o pagamento da "factura".

Mas de repente  ( como o copo cheio de água que ainda não transbordara ), há um clique, que precipita tudo, à revelia de tudo também, e pronto, atingiu-se uma situação irreversível.
Não há volta a dar !...
Houve uma "saturação" do sistema, momento em que a quantidade de açúcar dissolvido, passou a precipitar, por incapacidade, de naquelas mesmas condições, se continuar a dissolver.

Atingido esse limite, o "stato quo" alterou-se completamente ;  na "pintura" harmoniosamente elaborada, caíu um borrão final de tinta, que a inutilizou ...
A pintura inutilizou-se, e o pintor terá ficado marcado com isso, também sem remédio.
Afinal, provavelmente, investira emocional e afectivamente naquele quadro, esforçara-se o mais que pôde e soube, sonhou-o dias e noites seguidos, foi feliz fazendo-o, em cada traço, em cada cor, em cada matiz que acrescentava.
Aquela obra de arte, era ele levado à tela, era uma realização sua, era vida sua, era sangue seu ...
Fora uma aposta em que acreditara e que falira, um insucesso com que era obrigado a conviver ...
Repentinamente, atingiu-se uma situação limite inesperada, não calculada, uma linha proibida ultrapassada, que desencadeou em consequência, inevitavelmente, a ruptura do instituído, sem volta atrás !!!

Há quem pense, não se deixar atormentar com limites.
Há quem tenha a veleidade de pensar, que sempre os ultrapassa incólume, como quem dança nos intervalos da chuva !
Há quem suponha ser invulnerável a barreiras, a muros, a proibições de sentido ... porque terá capacidade de prosseguir ...

Engano seu !  Engano meu !...

Como qualquer mortal  ( desafiando embora tudo o que já está na cota máxima, achando que ainda o domino e controlo ), também eu sinto os efeitos do sopro da ventania, também eu me vergo ao sabor da tempestade, como os canaviais das falésias,  também eu sou arremessada contra os rochedos, na época das marés vivas, sem que possa fazer nada !

E claramente me pressinto,  folha de romance acabada de virar, me sei a dobrar a estrada, perdendo para trás o trilho percorrido, me transbordo em enchente ou enxurrada de comportas rasgadas, por  um só pingo de chuva a mais, que tocou o meu coração !!!...


Anamar

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