domingo, 21 de outubro de 2012

" NOITE DOS TEMPOS LONGOS "


3,50 h da manhã pela hora antiga, 2,50 h pela hora nova ...
Aquela em que nos obrigam a fechar os olhos mais cedo, baixar os estores mais cedo, apagar a lua no céu mais cedo....
Uma noite longa, de bruxas à solta por aqui, horas de memórias, de filmes rocambolescos a desfilar em écrans, esses...que não conseguimos apagar !

O tempo, em que o dia se faz noite, só porque o sol cansou, e quer partir antes da hora ...
Vai  lá para as terras onde as pessoas sorriem  mais, dançam mais ... porque sonham menos ... querem menos ... pedem  menos !

Noite demasiado comprida esta, para que consiga suster dentro de mim, o que vai extravasando de mim.
Tempo em que a alma hiberna, as cores se esbatem, e tudo fica nos cambiantes quentes e adocicados, que deveriam ser xailes que nos cobrissem, mas que são gélidos, porque a solidão é gélida, e essa agiganta-se no firmamento, ao fechar.

O silêncio galopa, como um cavalo à solta. Os sons que não são sons, crescem, e esvaziam-nos os corações, mas lotam-nos a mente.
O sono não chega nunca mais, e há noite e mais noite para dormir ...
Nós e os outros, como nós, que têm histórias mas não contam, porque já não vale a pena contar, e além disso, já não há ouvidos que as escutem !
Restam quartos vazios, embrulhados em quatro paredes, que sempre os vão sufocando aos poucos e poucos, devagar e de mansinho, para não sufocarem também quem os habita.
Restam cigarros que não se extinguem nunca, porque há cigarros depois de cigarros ... sempre !

As madrugadas, daqui p'ra frente serão  rainhas.
E as madrugadas nunca são boas companhias, porque elas são povoadas pelos diabinhos à solta, que nos atormentam.
Eles são meus amigos. Coabitam comigo dia e noite,  mas só saem p'ra danças de roda, quando os ponteiros dos relógios deitaram as crianças e as pessoas normais, e aquelas que pousam as cabeças nas almofadas e descansam com os anjos ... não com os diabos !

Lá fora, só o céu é imutável.
Ele continua escurecido, pontilhado pelas estrelas que as nuvens permitem.  A paz parece reinar.
Mas eu estou farta de saber, que é uma paz a fingir,  só para os que não sabem, o que são noites de tempos longos demais !
 
Muito em breve farei anos ...
Muita estrada para trás, pouca para a frente, a percorrer.
Planos longos que não se cumpriram, sonhos curtos que também não se irão cumprir ...

Muita saudade perdida, pelas noites perdidas também.

Noites irrecuperáveis, porque o hoje é só hoje, e amanhã, já foi !
Muitas saudades do que sei, e do que nunca soube e só adivinhei ...

Ou talvez já não haja espaço para elas ... e eu nem sequer saiba  do que tenho saudades ...
Se calhar, só de mim !...

                                   
Anamar

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