quarta-feira, 26 de setembro de 2012

" ENLOUQUECI DE VEZ ... "



O tempo virou cá com "uma pinta" !...

Num dia estava eu esbaforida com calor, a "trabalhar para o bronze", naquela liberdade de corpos nus, cabelos soltos, gaivotas na areia ... e no seguinte, trovejava, chovia de noite ( e dava-se bem por isso ), e a temperatura começou a obrigar-nos a pensar que não é lá muito adequado talvez, ir para a rua de alcinhas, a brincar que ainda é Verão.

E não adianta querer resistir, e fingir que o sol tem o brilho e o calor de antes, e que aquelas nuvens lá ao fundo, são só as nuvens da minha vida, e nada têm a ver com o tempo atmosférico.
O sol arrefeceu, nesta "era glaciar" que começou a instalar-se lá fora, sem dó nem piedade, e que dentro de mim já se instalou há muito, ou é mesmo vitalícia !  Muito mais garantida que as reformas dos políticos ... que nunca falham !

Que fazer??

Eu até sei ... emigraria, fugiria atrás do sol.
Bastava segui-lo quando ele se põe, e não o largar mais.
Evitava esta tremenda injustiça, de por cada dia, ter que anoitecer !
Para quê?  Serve a quem, o escuro ??
Só se for aos gambuzinos, ou a quem queira esconder-se de um delito inconfessável ... e aos gatos, é verdade ... que assim se tornam todos pardos !
Os morcegos ... pois é, esses e as corujas, também gostam mais da noite.
Mas eu,  como tenho o meu lado "lunar" perenemente garantido, dispensava-a cá fora .

Já perceberam que disserto displicentemente, como quem passeia numa "Harley",  por uma estrada sem trânsito, ou seja ... deixando-me ir, se calhar apenas deixando-me ir ao sabor do passeio, pelo meio de campos planos, verdes, dourados, salpicados das cores de todas as flores que existem.
O vento, não chegava a sê-lo.  Seria só uma brisa leve, a refrescar-me o coração.
Pássaros havia-os em bandos, em formações geométricas e disciplinadas, determinados em encontrar um destino qualquer, lá longe ;
ou então endoidavam, brincando de rasar os verdes, subindo quase ao infinito, para se lançarem a pique, como os acrobatas fazem quando se soltam das mãos do parceiro, e o nosso coração cai a pique com eles ... para no último momento, ficarem presos pelos pés ... quando nós já quase morremos de susto !

E sol ... Claro que esse passeio era num dia bem iluminado, com aquele sol que parece prometer mundos com ele, que parece transportar na sua luz uma coisa que não sei o que é, a que chamam felicidade, e com que os meus contos infantis obviamente terminavam  : "  e foram felizes para sempre " !...

Esses  finais, sempre tive esperança de vir a compreender mais tarde, e pensava na altura : " Sou muito pequenina para perceber esta parte, mas depois vou entender bem " !

Por que raio contam estas coisas às criancinhas ? Por que é que nos começam a "engrupir" desde cedo ???

É  certo  que  deve  ser  o  correcto, porque geração  após  geração,  a  " Branca de Neve ",  a  " Cinderela " ,   " Os três porquinhos ",   a   " Princesa da Ervilha ",  a  " Carochinha e o João Ratão", a " Alice no país das Maravilhas ",  o "Gato das Botas " e os outros todos, continuam a pé firme.
Dá ideia que querem que fiquemos lá atrás, imbecilizados, a viajar por ali.
Muito melhor, que percebermos que afinal ao crescer, é que nunca entenderemos mesmo, a frase final das histórias, e que os berços de embalo param de baloiçar, as fadas e os príncipes são invenções,  duendes e gnomos bonzinhos não há, bruxas sim, gigantes e monstros das masmorras assombradas, avançam para nós todos os dias, e que o Silvestre ... o gato simpático e sempre enganado pelo ratinho espertalhão ... come-o mesmo, como faz qualquer gato que se preze !...

Claro que cada conto tinha uma "moral" .
Já na primária, a professora perguntava : " Meninos ... qual a moral desta história " ??

Aí está outro logro !  Porque esse conceito também acabou .  As histórias hoje, são absolutamente amorais, para não dizer imorais, que assim é que estaria certo !
Aliás, hoje não há histórias  sequer,  pura e simplesmente !
O nosso imaginário infantil com que resolveram  rechear-nos as mentes, desde que começámos a pôr os pés no chão, seria razão mais que suficiente para fazermos uma queixa na APAV, ou um telefonema para a linha protectora dos maus tratos infantis ...

Enfim, desculpem .   Vou parar de insanidades.  Isto é nitidamente já, falta de serotonina ou dopamina, porque o sol está de malas feitas, e eu não tenho dinheiro para fazer as minhas, e ir com ele, apesar de lhe ter pedido que me fizesse uma reserva para a viagem, mesmo em classe económica.
Por isso é que o meu imaginário hoje, não é o que me impingiram .   Cresci, e vim parar a uma "selva" antipática,  para  a qual  não me tinham prevenido.
O meu imaginário hoje não é infantil, é senil, e como todas as fantasias, jamais passará disso, vocês  verão !

Mas sonho ( porque no seu preço, o Gaspar não vai poder tocar ), sonho à borla, à revelia da Troika, sem impostos ou cortes, que hei-de morrer no país do sol, da lua sempre cheia e provocadora, do mar, com as algas, os corais, as conchas, os búzios, as areias doces e douradas ... e as sereias pelas madrugadas ... O país do céu azul, das florestas e pradarias, das planícies e dos picos de neves perpétuas,  das flores e dos pássaros multicores ... da música e da dança ...  num lugar onde haja um coração com o meu número, e uma alma maior ainda ...  Um país de cascatas, e rios mansos com peixes vermelhos ... onde finalmente eu tenha razões para sorrir, rir ... gargalhar insanamente ... e onde a minha história possa terminar  justamente com a velha frase das historinhas que me contaram há tantos, tantos anos : " ... e foi  feliz para sempre !... "

Anamar

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