sábado, 8 de setembro de 2012

" NÃO ACREDITO !... "



" Não chores por ter acabado, dá graças por ter existido ... "

Frase dita, redita, repetida, demagógica, bonita de dizer, sonante ... frase feita, afinal !...
Como todas as frases feitas, encerra efectivamente um princípio válido, uma ideia defensável, por ser algo desejável, uma máxima de vida .
A maior parte das vezes, tão só !...

Tudo que existiu e deixou memórias, foi porque constituíu alguma coisa que nos valeu a pena, foi porque marcou a nossa vida, de uma forma positiva ou negativa.
Mas se choramos porque terminou ... certamente positiva, gratificante, marcante, porque nos aqueceu o coração, a ponto de não querermos nunca que tivesse terminado, e o seu fim nos penalizou profundamente.

A mágoa deixada sabe a um fim de festa, à última colher de um doce que adorámos, ao último acorde daquela sonata que nos toca o espírito, à última rosa daquela  roseira perfumada do caminho ... à última andorinha daquela Primavera que finalizou !
Não é fácil não chorar pelo que termina, se o que termina foi isto !!!

Agradecer que tenha existido ... ser grato a alguém ou a alguma coisa ( nem que seja apenas a designios do destino, ou circunstâncias da vida ), acredito que sempre o faremos, porque nos representou e representará uma fatia dessa vida, que é parte da  nossa história, e essa é feita desses episódios bons e  maus, enriquecedores ou destrutivos ... mas episódios !

Mas muitas vezes ao olharmos para trás, e se o fizermos demoradamente, como quem passa uma tarde a olhar para uma fotografia, a nostalgia dominará seguramente o nosso coração, porque dessa fotografia começa a saltar tudo o que escaparia a um simples olhar, e das nossas memórias no tempo, também ...

Essa fotografia marca uma época, e nessa época, um dia.
Marca um dia, e nesse dia, uma determinada hora, que passamos a lembrar cada vez com maior nitidez.

Essa fotografia vai marcar um local, um sítio que foi nosso, por horas, por minutos, por segundos que valeram vidas.
E nunca mais, olhando para ela, teremos dúvidas sobre esse lugar, e  o  que  esse  lugar  guardou  de  nós, e o  que  nós  guardámos  desse  lugar ...

A luz também emana  da imagem :  o sol, ou a ausência dele ;  as nuvens, feito farrapinhos de algodão presas nas carrasquinhas da mata, ou um céu imaculadamente azul, límpido, transparente ...

E o  cheiro ...  Garanto-vos que aquela foto tem cheiros.  Cheiros de flores ou cheiros de mata, cheiros de maresia ou cheiros de terra molhada ...

E tem cor, muita cor ;  o multicolorido do que está ( esteve ) connosco, quando a fotografia foi tirada, e testemunhou o rubor da nossa face feliz, ou a palidez do nosso rosto, se em sofrimento.
O horizonte, do laranja ao fogo, num pôr-de-sol esplendoroso.  Ou indefinido, se a cerração se abatia sobre tudo, nesse dia ... também não nos falhará na memória.
Sabemos seguramente como era o horizonte longínquo, que tínhamos a emoldurar aquilo que o nosso olhar alcançava ...

E tem som, essa fotografia tem arquivados em si, todos os sons do nosso universo de então.
Tem o canto dos pássaros, ou tem o gorgolejar da água mansa de um regato, tem a rebentação de ondas alterosas nos rochedos e tem o sussurrar do vento nas ramagens ...
E tem o som de todas as palavras que se disseram então, porque as vamos lembrar seguramente ... e tem o tic-tac das batidas dos corações de quem lá estava, também seguramente ...

Essa fotografia vai fazer-nos sentir o calor das mãos que se deram, dos braços que se entrelaçaram, dos beijos que se trocaram, até o calor da emoção que nos dominava.
Ou então vai fazer-nos sentir o gélido no coração, de uma palavra que feriu, de uma desilusão que perpassou, de uma mágoa que se abateu ...
Vai fazer-nos doer bem dentro do peito, pelo quebrar da ilusão de então, como claras em castelo que desmancharam, e se reduziram a líquido ...
Vai  fazer-nos  perguntar  a nós mesmos,  "Porquê ?  Porquê  ruíu o investimento  e ficaram só memórias doídas ??..."
Essa fotografia aquece-nos a alma, ou gela-nos o espírito !

Assim as nossas memórias, quando fazemos a "reprise" do que passou ...

Darmos graças por ter acontecido ... por certo !...
Não chorar por ter acabado ... não acredito !!!...

Anamar

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