segunda-feira, 17 de setembro de 2012

" O MONSTRO "



Cá estou eu a dissertar sobre banalidades ...
Aquelas banalidades que ocupam realmente muito da minha mente, e do meu espaço disponível para pensar .
Pensar demais, diz a minha filha, quando, segundo ela, eu deveria "centrar-me" em coisas práticas da vida.
Talvez ajudá-la a forrar os quarenta livros ( que, pelo número de vezes que já me disse, já devem ir em cento e vinte pelo menos ), do início do ano escolar dos próprios filhos.

Eu entendo !...
O verdadeiro discurso que ela se coíbe de dizer, seria : "...em vez de teorizares sobre parvoíces ! "
Também entendo, claro que entendo !

Ela é uma pessoa real, centrada, objectiva.  Eu sou uma espécie de "projecto" de pessoa, um espécime raro, muito mais para "fantasma de gente", muito menos para gente de carne e osso.
Ela é pragmática, racional, metódica na arrumação das ideias, e dos interesses.
É assim, porque assim foi forjada, é assim porque quer a vida profissional quer a familiar, a obrigam a sê-lo.

Eu, não !
Eu sou meio enviesada.  Estou por aqui, mas pairo noutro mundo que cultivo .
Realizo, como toda a gente, o que do ponto de vista prático tem que ser realizado diariamente, e depois tenho um "alter-ego" onde me situo, e para onde me "escapulo", até sem dar por isso.
Os meus "jardins proibidos", têm portões dos quais só eu tenho as chaves, têm recantos que só eu conheço, têm segredos que são meus, só meus !

Mas tudo bem ...  Por alguma razão este meu espaço foi baptizado por mim, assim, sem pestanejar, com um título, que não foi sequer pensado ... caíu-me no cólo : "Filosofices" ... o que significa bem, que se trata  daquelas  filosofias que não valem "um caracol " !...  
Mas que são as minhas, ora bolas !!

Enquanto isso, o "Mundo" saíu à rua, o  "Mundo" está na eminência de desabar, o "Mundo", este, o nosso, aquele que conhecíamos, virou estranho, desconhecido, inseguro, carrasco, traiçoeiro ... virou-nos literalmente as costas ...

E eu cá continuo a dissertar, sobre o que não acrescenta nem retira nada, a esse Mundo.
O tempo, o tempo retira ... muito ... retira tudo !
O tempo é o algoz mais sádico que conheço, é o "gozão" mais endiabrado, provocador e ardiloso que nos enfrenta !...
Por outro lado, tem soluções e mezinhas para todo o tipo de mazelas.
Hoje eu não tenho nenhuma dúvida, de que aquela frase gasta de que "o tempo tudo cura", é absolutamente verdadeira.
O tempo resolve, nem que seja à custa de uma "cortina de nevoeiro" que nos lança sobre a mente.
Com ela, como que perdidos no meio da bruma, deixamos de lembrar, de sentir, e as imagens perdem os contornos e a nitidez.  As memórias esvaiem-se, as feridas ganham crostas que hão-de cair um dia, consequentemente a dor aplaca, a Vida vira as páginas ...

Encontrei há dias uma pessoa, que foi absolutamente determinante na minha vida.  Alguém que eu juraria, jamais ser possível desocupar o lugar que ocupara.  Impensável isso acontecer !...
Pois bem, fiquei chocada comigo mesma, fiquei impressionada com a inalteração do meu ritmo cardíaco, fiquei até incomodada e incrédula, sobre alguma "apatia emocional" que experimentei ...

Como foi isso possível ?!...
Que mezinha me ministraram ?  E quem ?

Obviamente, o tempo, o gigante aterrador, o feiticeiro, o monstro ... mas também o grande mestre !...

Sou compulsiva em fotografar tudo e todos.  Momentos, lugares, pessoas, e acredito que também consigo fotografar a brisa, os cheiros, os sons, as palavras, as gargalhadas, as mágoas e as alegrias .
É uma compulsão que tem um objectivo : criar em mim um antídoto contra o tempo, uma vacina contra o "nevoeiro", uma espécie de "aforro mental", para  quando as "economias" da mente e do coração, tiverem ido !!...

Porquê ( já aqui me perguntei muitas vezes ), porquê injustamente, o ser humano "deleta" em curto espaço de tempo, os rostos, as vozes, as vivências, que eram do tamanho de oceanos, sem fim ou horizontes ??!!...
Admito que sejam mecanismos de defesa, biológicos, do foro mental, para nos preservarem e nos subtraírem a sofrimentos, que, acredito, não suportaríamos.
Mas é triste de qualquer forma, porque a nossa vida vai-se transformando num balão, com um furinho imperceptível, por onde se vai perdendo o ar que o enchia, aos poucos e poucos, aqui e ali, ficando cada vez mais vazio e irreconhecível !...
A nossa vida vai ficando como um livro, que fôssemos lendo e esquecendo as páginas que viramos, uma a uma, sem no entanto devermos e podermos esquecer a história toda, apesar de irmos esquecendo os capítulos da mesma !...

Como é isso possível ... continuarei sempre a perguntar-me ??!!...

Anamar

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