segunda-feira, 10 de setembro de 2012

" SONHOS PROMETEDORES "


SONHOS  PROMETEDORES

" Tenho mais pena dos que sonham o provável, o legítimo e o próximo, do que dos que devaneiam sobre o longínquo e o estranho.

Os que sonham grandemente, ou são doidos e acreditam no que sonham e são felizes, ou são devaneadores simples, para quem o devaneio é uma música da alma, que os embala sem lhes dizer nada.

Mas o que sonha o possível tem a possibilidade real da verdadeira desilusão.

Não me pode pesar muito o ter deixado de ser imperador romano, mas pode doer-me o nunca ter sequer falado à costureira que, cerca das nove horas, volta sempre a esquina da direita.

O sonho que nos promete o impossível já nisso nos priva dele, mas o sonho que nos promete o possível intromete-se com a própria vida e delega nela a sua solução.
Um vive exclusivo e independente ;  o outro submisso das contingências do que acontece. "

                                                  Fernando Pessoa


O " Mestre " sempre soube das coisas todas ...  Não vi quem mais entendesse da alma humana !

Os sonhos ... Tanto  os abordei  já  por aqui !  Os sonhos que povoam os nossos dias e as nossas noites, que povoam as nossas vidas .

Sonhar "alto", sonhar razoável, sonhar lógico, dentro das lógicas das vidas de cada um ...
E quer uns quer outros a desfazerem-se, a desmancharem-se como as nuvens lá no alto se desmancham, por cada segundo que passa, como as construções na areia vão ruindo bem na nossa frente, impotentes, por cada subida da maré !
Até os castelos fortificados, aqueles que atravessaram a História, de grandes rochedos, no topo dos montes, vão deixando rolar encosta abaixo, uma e outra das suas pedras ancestrais ;   até as falésias que nasceram com a Terra, não vão morrer com ela, porque vão morrendo todos os dias um bocadinho ...

O sonho é inerente ao Homem ... o "sonho comanda a Vida " - diz Gedeão ...o sonho é o que nos faz levantar por cada manhã, "sonhando" que algo preenchedor nos vai dar sentido àquele dia ;  
é  mola impulsionadora nos momentos difíceis e desalentados.

Então, qualquer sonho serve ... os possíveis e os impossíveis, embora uns possam transformar-se nos outros e vice-versa, e muitas vezes somos simplesmente nós que o fazemos.
Na verdade, por vezes depende apenas de nós, tornar algo improvável em realização objectiva, mercê do acreditar muito, e do esforço que desenvolvamos para isso.
Outras vezes, ao contrário, algo que parecia tão possível nas nossas vidas, e alimentou o nosso ser longamente, vira uma impossibilidade absoluta ...

Esses são os sonhos, como diz Pessoa, que "cobram" à vida a sua concretização ou não, e esses são talvez os únicos que nos ferem verdadeiramente, e nos cortam por dentro.
Os outros, são baralhos de cartas que conseguimos pôr em pé, e que injustamente se desmoronaram,  ou são construções de puzzles que erguemos, e como crianças nos deliciaram, nos fizeram sorrir e nos deixaram brincar ...
E caem por terra ...  Como se isso não fosse lógico e previsível !!!...

Arregalamos os olhos, abanamos a cabeça, e como um menino p'ra quem acabou a brincadeira, encolhemos os ombros e ... continuamos a brincar ... simplesmente !...
Não doem muito esses sonhos !
Talvez apenas nos tenham mantido " crianças ", durante algum tempo ;  e as crianças são fadas para serem bruxas no instante seguinte, são elas próprias e os amigos "imaginários" no mesmo momento, e com a inerente ingenuidade que só se tem nessa fase da vida, acreditam mesmo que o são, e que podem ser tudo o que quiserem ser ...
Por isso também não se defraudam, são imunes à decepção ...

Mas as crianças tornam-se adultos, e os adultos, excepto os saudavelmente loucos, apostam pouco em sonhos de fadas e duendes, constroem ( por defesa ),  cada vez menos castelos de areia na beira-mar, menos torres com os "legos" da sua infância, menos paredes de cartas a segurarem edifícios irreais ...  porque a Vida os obrigou a poisar como garça cansada, a quem resta a babugem das ondas, para a busca de alimento ...

Deixaram de saber ver o Mundo de cima, desaprenderam de ser meninos, desinvestiram no crer e quase no desejar ;  ou então, como eu, passam-se definitivamente para o mundo dos loucos, mundo confortável, sem peias ou regras, mundo onde eu posso sempre ser e crer no que quiser, quando e onde quiser, porque tenho um estatuto que me deixa ser a águia dos penhascos, a cabra montanheira, a borboleta que voeja livre de flor em flor, sem saber quão são escassas as horas que a vida lhe concede para o fazer ...

Por isso, sou e quero continuar a ser uma irremediável devaneadora, com a certeza de que com os meus sonhos,  " músicas da alma e embalo do coração ",  serei certamente feliz, ainda que tudo não passe só de mais e mais SONHOS !!!...

Anamar

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