domingo, 3 de julho de 2011

DIA 3

DIA 3




Hoje eu conheci o Jacques, na praia.

Um maurício seco de carnes, alto, uns dentes lindos impecavelmente desenhados e brancos, num rosto obviamente bem escuro.
O Jacques vende pela praia, bijouteria que ele próprio elabora; tem uma filha de catorze anos e não troca as Maurícias por nada!
Esteve há meses atrás na Alemanha, a convite de amigos, mas a fuga do "betão" e o regresso à terra natal, foi o maior desejo alcançado, para alguém que começava a sentir-se espartilhado e sufocado, numa realidade que não era a sua.
Aqui, ele faz snorkeling, e traduziu-me com clareza, exactamente a mesma sensação que experimento quando também o faço: o mergulho não só nas águas mas num mundo seguramente "out" da realidade aqui de cima, a vivência num paraíso que nos faz esquecer as horas, os dias, o querer voltar...
Por ele, por mim, aqueles jardins submersos são mesmo para ficar...

Jacques diz que não tem exigências na vida. Para si, acordar e poder respirar este ar, ver este céu, absorver estes cheiros, comer estas frutas, este peixe, este marisco, viver na amplidão destes espaços....são os únicos requisitos que anseia para a sua existência!

Falámos um bom pedaço, mas a identificação sobre a expectativa do que hoje em dia será qualidade de vida, real qualidade de vida, com a valorização do essencial em detrimento do acessório que persegue o ser humano em tempos de materialismo e consumismo desenfreados, de desumanização total...foi absolutamente notória...

Não o questionei, mas dado o teor e fluência da conversa e a forma de se expressar, indica  tratar-se de alguém, que dificilmente será um simples vendedor de praia.
Pareceu-me uma pessoa culta e com conteúdo...a conversa desenrolou-se duma forma interessante!

Não esquecerei certamente o riso "desarmado" do Jacques! 

Anamar

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