segunda-feira, 4 de julho de 2011

DIA 5


A história do dia de hoje, é a chamada história de um dia sem história!

Já estive duas vezes na praia, e outras duas de lá fui corrida, por uma chuva torrencial, despejada de nuvens negras acasteladas num céu cinzento e escuro.
Tenho que concluir que não foi prudente vir para o hemisfério sul, em época de Inverno por aqui.
Bem me dizia o Pedro, que viveu muito e muito tempo na África do Sul!
Bom, agora nada a fazer...aproveitar o melhor que souber e puder, o resto dos dias da minha estadia, isso sim!

As possibilidades de ocupação do tempo seriam muitas...o hotel tem um pouco de tudo.
Olho "gulosa" para os casais ou grupos que conversam e riem, descontraidamente, indiferentes à intempérie...olho "gulosa" para as mesas de snooker ou ping-pong à minha frente (é preciso adversário...), ou até para o plasma que exibe programas legendados apenas em inglês, claro!
Que falta me fazia o meu computadorzinho (agora é que percebo que a chatice do PC na mão, em viagem, tem um retorno útil, por vezes!)

Dormir...dormir seria uma hipótese, no entanto descartada, pela irritabilidade com que sempre acordo se o faço durante o dia. E aqui, então, sentir-me-ia como estando a pagar os minutos, excessivamente caros.
Assim, por aqui estou, sentada no lobbie, com os sofás dispersos a esmo, escrevendo alguma coisa de coisa nenhuma, esperando, com a remota esperança do Babalás, que o sol, o tão desejado e famoso sol tropical, se condoa e desça até nós, para me deixar no dia de hoje, só um pouquinho menos...infeliz!!!


Bom, e condoeu mesmo!
Pela tarde deste dia, mais Março que Junho em Portugal (Março, marçagão...manhã de Inverno, tarde de Verão!...) o sol veio em força, e a tarde de praia, valeu por um dia inteiro!
Só que nos trópicos, no Inverno, anoitece muito cedo e o sol mergulha vertiginosamente na linha do mar, lá ao fundo, e extingue-se perante os nossos olhos impotentes, que querem retê-lo.
O céu fica repentinamente entre o laranja e o violeta, tudo vira sombra, e todas as sombras são-no esfíngicas, em contra-luz. Tudo se torna particularmente belo e misterioso, com cores que não se descrevem; o contorno da folhagem dos coqueiros e palmeiras, em fundo mal aceso ou mal apagado, são sombras chinesas, a brincar de esconde-esconde na aragem que corre.

Ainda me deitei numa espreguiçadeira, perdida no horizonte distante. O olhar também por lá estava, no imenso desse horizonte, e o pensamento, para lá dessa imensidão...

Na praia, bem lá ao fundo realizava-se talvez o quarto casamento que já presenciei, nos cinco dias que por cá estou!
Será sem dúvida, para estes noivos, a realização de um sonho particularmente romântico neste cenário, nesta ambiência, neste contexto. Descalços na areia, fotografias nas rochas, pés na água...um bouquet de particularidades dignas das melhores realizações de Hollywood!

Dei comigo a questionar-me e a falar sozinha: "Porquê tenho hoje uma reacção tão adversa, tão desacreditada, tão amarga, sobre esta instituição?? Porquê (dei comigo a dizer entre dentes) "deixem passar os dias...depois verão!!..." ou então : "este ainda é o primeiro...quantos mais virão, com menos cor, menos romantismo, menos aposta??!!"
Mas as pessoas continuam militantemente a casar. Será que acreditam mesmo no que ali está a passar-se? Será que o fazem pelo "folclore" associado ao evento? Será porque acham valer a pena apostar apenas no momento, independentemente do que venha a acontecer no futuro?

E eu? Por que estou eu, sou eu, tão amarga com a vida? Por que pareço ter deixado de apostar nela há muito tempo?
Ou será uma pontinha/muita inveja, despeito, desdém?
Porque, se calhar eu queria ter ainda a ingenuidade deles e não sou capaz...porque se calhar queria continuar a pensar que posso agarrar uma vida para valer...porque se calhar queria ter a fé e o crer da juventude, e já não tenho, não terei nunca mais!!!

Bom, e escureceu! Escureceu definitivamente...na linha do horizonte, neste firmamento que de violeta já passou a negro...e escureceu dentro de mim...

Afinal, aqui "dentro", o dia começou num Março do hemisfério norte, e terminou-me num Junho do hemisfério sul !!!...


Anamar

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