segunda-feira, 4 de julho de 2011

DIA 4



O dia amanheceu com uma noite muito pouco dormida...

Passo a explicar: depois de mais um serão passado ao som de canções intemporais, interpretadas espectacularmente pelo conjunto responsável pela animação do hotel (cujos vocalistas são dois jovens que têm uma voz de dar inveja aos legítimos intérpretes dos temas escolhidos)...entre dois "Maitai", uma lágrima teimosa que espreita (porque afinal o clima que se respira é amor esbanjado por todos os poros, nos toques, nos olhares, nas cumplicidades nada escondidas...no calor de corpos em sedução permanente, ou não estivéssemos nos trópicos)....depois de todos estes condimentos que me deixam de rastos, nostálgica, "molinha", "molinha"...com ganas de roubar para dançar, qualquer par a uma qualquer dama (porque isto ou há justiça, ou comem todos....) bem, lá recolhi aos aposentos e procurei dormir, porque o corpo chega moído e as emoções afogam o coração!

E dormi até às quatro e meia, hora a que precisei por razões óbvias, de me levantar e desgraçadamente...oh pontaria das pontarias, coisa que nem é hábito meu...resolvi acender a luz do quarto.
Eis senão quando, apesar das minhas dioptrias estarem bastante agravadas e não ter as lunetas colocadas, visualizo junto ao tecto, esfingicamente, algo que não me deixava dúvidas: uma osga tamanho XL (pelo menos para mim são todas XL ), que resolvera dividir o quarto comigo.
Ora isso é questão que não se coloca...ou ela ou eu !...

Estaquei absolutamente "vidrada", e reflecti sobre que hipóteses eu teria àquela famigerada hora.
Ligar para a recepção pedindo socorro...um pouco impensável, talvez ridícula até, num local, onde evidentemente se convive pacificamente com estes "quadrúpedes"... (amanhã todo o hotel saberia do inusitado - já me estava a ver ser alvo de sorrisos disfarçados...) ; ser eu a "justiceira"...como, sem vassoura ou outra arma de arremesso, dado a alimária estar junto ao tecto??!!...  Passar a noite em pé, a controlar-lhe os movimentos??... Pois, pareceu-me ser a única alternativa, apesar ...das 5 da matina apenas!!
E se ela resolvesse dirigir-se para "ponto de mira", ou melhor, "ponto de queda"...por sobre a minha cama??!!

Resolvi puxar a cama para o meio do quarto, evitando o contacto das almofadas com a parede, não fosse o diabo tecê-las...
Só que tudo não eram mais do que técnicas de remediação!...

Olhei então para a mesa de cabeceira, onde, de outra matança da noite anterior, um empregado do hotel me deixara um spray anti-mosquitos...e pensei : "E se eu a adormecesse ou drogasse, ou quiçá matasse, com tal químico"??
Claro que isto seria como matar um elefante com uma pressão de ar, e foi exactamente o que aconteceu!
Despejado que foi  o spray em causa, o que presumo deva ter deixado os meus pulmões em petição de miséria (e se não morri esta noite, não morro tão cedo...), a minha visitante nocturna pôs-se a milhas, correu vertiginosamente para o local onde se sentia talvez mais protegida (as traseiras do frigo-bar), e ficou...

Ora isto é o pior que me pode acontecer: não ter um um cadáver para exibir, comprovativo do crime... e pensei : "e agora?? Não posso apagar as luzes, senão não sei o que se irá passar ! Não convém deixar acesa nenhuma junto à cama (porque elas procuram a luz, como se sabe) ! Talvez deixar a luz junto à porta de entrada do quarto (local mais afastado da cama) !

Como o sono me atacava forte e feio, resolvi : "vou deitar-me mesmo assim, e nos entretantos vou controlando a "fera"!
Claro que dormir mais, foi mentira... Ainda por cima, o "estafermo" anunciava-me que continuava viva, porque cada vez que o frigorífico disparava, ela resfolegava lá pelas traseiras, mexia e remexia, o que me fazia levantar o pescoço da almofada, cada dois minutos.

Bom... a cegada terminou, quando felizmente, o despertador tocou às 6,30 h, hora de todos os acordares.
Desta vez abençoei-o, e decidi avisar os camareiros para virem armados da respectiva G3, encaminhando-me para a praia.

O dia prosseguiu sem demais atropelos, e hoje foi o dia do Babalás!

O Babalás surgiu-me na tentativa de me vender, na praia, umas t-shirts.
Mais um maurício médio-escurinho, que calcorreia as areias, de cá para lá, de lá para cá!
Claro que para vender t-shirts, a técnica de marketing impõe uma aproximação pessoal, invariavelmente idêntica "Donde veio?....É a primeira vez que está nas Maurícias?...Está a gostar? E o tempo?...humm...não está grande coisa...mas é Inverno!" (e eu a pensar : "realmente, ninguém me mandou ser burra !..." ) etc, etc...

Babalás (nick name ou apelido, segundo ele) é um "puto" de trinta anos (eu havia diagnosticado menos dez à vontade), um puto gordinho, mal "enjumbrado", de boné na cabeça posto àdoque, todo "pendurão", "sapudinho", "anafadinho", aquele estilo de puto que na escola é alvo de gozo do pessoal, estão a ver??!!...

A conversa deu para o Babalás se sentar na areia ao pé de mim, o que lhe fez esquecer as t-shirts (aliás, os meus interlocutores acabam sentando-se, porque a conversa dá pano para mangas...).
Um puto puro, absolutamente transparente, ingénuo , sem malícia!
Queixava-se que não tem "girlfriend"... Só teve uma...(e eu a pensar : " mesmo assim, como foi possível??!!...)  porque todos os rapazes bons, não têm sorte nessa matéria"...Mas tem esperança que ainda há-de encontrar a cara-metade.
Falou-me da pobreza do povo, das curtas rupias com que tem que sobreviver; falou-me da vida faustosa dos governantes...(lá como cá...como em qualquer ponto do Mundo parece...), falou-me de ter deixado a escola para ganhar a vida  (quatro irmãos em casa...)

O Babalás não foi de modas, e como já éramos quase "tu cá tu lá" (rsrsrsrs), logo ali me convidou para dançar, se eu quisesse, e beber rum com ele...porque, "quando me vira ali na praia, sozinha, supusera que eu não seria pessoa de chegar às falas e ficara muito feliz por se ter enganado"...

Fui assim uma espécie de prémio de consolação que saíra ao Babalás, para esfregar nas "fuças" dos colegas de praia e t-shirts, que quase haviam apostado que o Babalás era mas era um lunático!!!

Enfim...histórias de pessoas... histórias de gente simples, "naïve", autêntica, genuína...
Nem sempre se cruzam nos nossos caminhos!!...

Anamar

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