sábado, 24 de julho de 2010

" DILO....ES LO ÚNICO QUE IMPORTA"...

       "Di tus cosas más íntimas, dilas, es lo único que importa.
         No te avergüences, las públicas están en el periódico"
                                                                               Elias Canetti

Recebi num mail que uma colega e amiga me enviou, esta frase, que vinha inscrita num livro, que por sua vez lhe havia sido oferecido por uma amiga espanhola....

Fiquei longamente a meditar sobre ela e em como seria mais fácil, se nas relações interpessoais as pessoas seguissem este princípio e se "defendessem" menos!
Mas não, até vulgarmente se ouve meio a brincar, meio a sério, que os maluquinhos é que dizem tudo o que lhes ocorre, sem peias ou limitações.
Já se soltaram desta realidade de conveniências e já ocupam outra dimensão!...

Também se diz que de ´"médicos e de loucos, todos nós temos um pouco"...( e eu acredito piamente na ciência milenar, que da sabedoria dos simples criou uma verdadeira bíblia ), e penso que vem daí esta minha veia inconsequente de exposição das minhas ideias e dos meus estares...

De facto, nesta altura da vida, muito pouca coisa limita já as minhas posturas (desde que razoáveis, óbvio), e cada vez é menor a preocupação que tenho com opiniões alheias. Certo ou errado, se qualquer coisa é "a minha verdade", então é-o mesmo, ao arrepio de convencionalismos, modismos, correntes, conveniências...

Quem costuma não me poupar muito a esta minha forma de algum risco, fio de navalha, salto de pára-quedas (chamem como quiserem), é a minha filha mais velha, que me lê religiosamente, e que no verdor dos seus trinta e sete anos quereria ter uma mãe mais enquadrada e "normal"....e descobriu agora, que tem uma mãe, que neste momento é muito mais sua filha, que mãe, e uma avó para os seus filhos que também não encaixa no figurino...

.....mas ela amanhã vai para o estrangeiro.....

Estou convicta, que se as pessoas deixassem falar a alma, tudo era mais fácil...menos mágoas arquivavam, menos dúvidas mantinham, mais partilha dividiam, mais amor e amizade espalhavam à sua volta...

Mas não, o ser humano caminha mais e mais para o ostracismo, para o bem estar e parecer, para o ocultar o "flanco", e parece ter medo ou vergonha de por as suas dificuldades e dúvidas aos seus semelhantes, porque infelizmente conhecemos o aproveitamento hipócrita que é feito do seu conhecimento ; e assim, caminhamos para um mundo de solidão, de individualismo, de "cada um que se amanhe"....sendo o ser humano à partida, um animal gregário, que só teria paz, felicidade e se sentiria pleno e completo, em comunhão com os seus semelhantes!!....

Anamar

quinta-feira, 22 de julho de 2010

"O RAPAZ DOS OLHOS VERDES"

Nunca vos falei dele...
Raro é o dia que não nos "esbarramos", quer dizer, que os meus olhos não batem nele, e têm feito germinar em mim um sentimento de revolta, de indignação perante a vida, de tristeza, de profunda inquietação...

O Miguel, soube hoje que se chama assim, é mais um dedo social em riste, apontado a todos nós....
Vive na rua, dorme onde calha, de comer, pouco me apercebi, deambula com um saco de plástico cujo conteúdo desconheço e permanentemente com pacotes de vinho ou cerveja na mão...permanentemente....

As pessoas evitam-no, porque a sujidade, a degradação, a miséria são de tal ordem, que deixam de mal consigo mesmos, os corações mesmo os mais empedernidos.
Muda-se de passeio, troca-se de calçada, enxota-se daqui para ali, como um cão vadio.

O Miguel não fala com ninguém, não pede sequer esmola...o Miguel tem uns olhos lindos, verdes, inocentes, de criança, mas que já não vivem por aqui....estão perdidos algures num vazio distante, em que recordações, não sei, com que imagens, também não...mas que afinal...fiquei perplexa....sabem chorar...

Hoje acordei muito cedo, eram pouco mais de sete horas.A essa hora, a minha cabeça ainda está leve, ainda tem energia, projectos, forças...e sabe-se lá porquê,  "saltaram-me" à frente a limpidez daqueles olhos que me incomodam.
O ser humano é cobarde. Eu acho, que o ser humano defende-se daquilo que puder agitar-lhe a consciência...e é hipócrita também.... Não estou a excluir-me, não me interpretem mal.
Normalmente recuso esmolas, excepto a idosos, e há dentro de mim uma espécie de vergonha, ao dizer não, um certo acabrunhamento, por eu ser uma privilegiada e eles não....eles, aqueles que de facto se sujeitaram a ouvi-lo...e não consigo encará-los nos olhos....
Decidi, que se os meus caminhos  se cruzassem... com os do rapaz de olhos verdes, hoje iria aproximar-me dele, e tentar perceber a complexidade daquele cérebro, que eu acho que ficou muito lá atrás....

Miguel estava sentado num daqueles bancos das paragens dos autocarros, que partem e chegam constantemente à minha praceta.
Comprei uma sandwich (sou franca, receava a forma como iria ser recebida....). Não queria que se sentisse humilhado, não queria magoá-lo mais que a vida já o fez.
Abeirei-me e estendi-lha...disse-lhe:"coma...agora, ou mais logo....não ponha só álcool no seu estômago...isso faz-lhe muito mal!" perguntei se me podia sentar e conversei longamente com ele, arrancando-lhe a custo algumas palavras....
Trinta anos da maior miséria inimaginável...não vou aqui expor o nosso diálogo...mas fiquei a saber que ele se considera sozinho no mundo....e fiquei a saber que aqueles olhos verdes de criança, sabem chorar...

As lágrimas rolaram-lhe pela face... e não me contive sem lhe dar um beijo e afagar-lhe a cabeça...."Força Miguel....só um dia de cada vez....prometa-me que vai tentar",,,

Demagogia...poderão dizer....Um coração de mãe a falar, isso sim....direi eu!...

Anamar

domingo, 18 de julho de 2010

"AO SABOR DAS LETRAS..."


Saramago encontrou Deus...o Deus que procurou a vida inteira, tenho a certeza, embora se dissesse ateu...
Onde ele estiver, Deus está a agradecer-lhe a forma enviesada como ele lutou por Ele, em vida.
Pelo humanismo, pela luta pelos desfavorecidos e marginalizados socialmente, pela denúncia corajosa e desassombrada das injustiças e arbitrariedades, duma sociedade que está a cair de podre, de uma forma frontal e livre...

Depois, vem a faceta de Saramago, que sou franca, desconhecia, de homem sensível, capaz de rasgar um sorriso aberto naquela cara circunspecta, capaz de se emocionar com aquele mar, aquele vento de Lanzarote, capaz de falar com o carinho, como o faz, da avó Josefa, ou do avô, que lhe mostrou a vida, capaz de querer que as suas cinzas repousassem quase anonimamente, sob a oliveira que plantara na ilha que o viu morrer...

Vem o Saramago, que, de miúdo humilde, quase miúdo de rua, teve que lutar pela subsistência da própria família...

Sou agnóstica, portanto, talvez religiosamente, não tão radical quanto Saramago.
Sou suficientemente egoísta e corrompida pela vida mundana de uma cidade descaracterizada, de um país triste, para nem sequer me poder agarrar a convicções que me dessem razão de vida.
Eu acho que isso, está de facto, entregue aos grandes seres...

E assim, a minha vida é de incoerências entediantes, em que defendo, admiro, vejo, analiso grandes causas, mas o vazio toma-me e tolhe-me...
"Alugo" as pessoas, e depois penalizo-me por isso. Isolo-me o mais possível, e depois sofro horrores...os dias cansam-me de vazios e ausência de horizontes...o silêncio, a quietude, a solidão...são os meus aliados preferenciais, e depois, desejo morrer, porque isto não é viver...

Hoje, acordei convicta que era segunda feira, e pensei que pelo menos, haveria mais vida lá fora, sente-se buliço, sente-se gente...
Depois lembrei que era domingo, e isso causou-me um mau estar que não se entende.
Neste momento, a minha vida é passada entre acordar, não ter nada para fazer e dormir...dia após dia...
As pessoas amigas e são algumas, as fiéis, e até algumas mais recentes, me parecem sinceras na disponibilidade que me oferecem de ajuda, porque acham que não me esforço, porque que tenho que reagir a esta apatia, e tentam de tudo para me tirar deste lodaçal....Não percebem que eu não tenho força para me reerguer....Estou entupida de químicos, e os dias são cópias uns dos outros.

Imaginam o que é (como hoje, por exemplo), pensar: vou fazer o quê, daqui a pouco? E excluir todas as hipóteses que me ocorrem, porque parece que os pés ou o coração estão grudados a este quarto, a esta cama, a este sono doentio, por contínuo?

E penso muitas vezes, embora tenha consciência que não é mais que uma infantil utopia, como desejaria ir embora, não sei para onde, nem por onde...mas depois também sei, que carregaria comigo todo o mal que faço a mim própria, mesmo sem querer...só porque ele está dentro de mim!...

Anamar

sábado, 17 de julho de 2010

"A MINHA CASA"

A minha casa é uma casa sem alma ; está tudo demasiado arrumado, demasiado estagnado, demasiado imóvel...

Um dia destes, a Lena dizia-me que a minha casa não têm fluência de energias...
O meu ex-marido dizia que era um "museu"...
Eu sinto-a como eu, quieta, estática, adormecida...se calhar morta...

É bonita a sua decoração, pelo menos eu gosto dela, clássica, fui eu que a escolhi, era uma casa onde viviam quatro pessoas...mas hoje, efectivamente não tem vida, "calor"...poucas pessoas entram, poucas saem, eu própria, de toda ela, frequento quase a tempo inteiro o meu quarto, onde reuni "as minhas comodidades", televisão, DVD, o PC, música, um sofá debaixo de um candeeiro de leitura ...e a cama, onde neste momento da minha vida passo grande parte do tempo, enroscada...

Depois, de lá vê-se Sintra, na linha do horizonte, vê-se a minha gaivota, quando por aqui circula, vê-se e sente-se a tempestade no Inverno, que normalmente é deste lado que fustiga a janela, e agora, vê-se o sol que se despede de mim todos os dias, naquela meia hora de silêncios e mistério, que já vos contei, em que não me mexo, só contemplo, não querendo perturbar o "milagre"...

Tudo está nos sítios, ninguém desarruma, as coisas têm lugares cativos.

Às vezes não percebia por que há pessoas que têm por hábito trocar as coisas de sítio, de local...e dizem que gostam de fazê-lo...Eu não entendia, e pensava "se estava tão bem como estava, agora ficou pior, para quê mexer?"'
Mas as pessoas só diziam que gostavam de o fazer...nunca me explicavam porquê...
Talvez agora eu perceba melhor. Dinamismo é vida...e eu, se calhar já estou  morta sem saber!

A minha relação com a casa tem variado ao longo dos tempos, desde que estou só. Houve um período em que me sufocava, e era martirizante viver nela, como se as energias negativas tivessem tomado conta de tudo isto....Depois houve um período em que a casa, era simplesmente para eu viver o tempo necessário por dia (tinha coisas mais motivadoras para mim, que me preenchiam), agora, é refúgio, é toca, é buraco...e apesar de eu saber que me não é saudável no período que atravesso, menos ainda solução para a minha vida esta auto-clausura, é um esforço titânico eu "arrancar" daqui....eu creio mesmo que ela é novamente uma espécie de conforto uterino que me protege...

Hoje é sábado, acordei de um sonho estranho que não recordo, como é típico dos sonhos, mas lembro a última frase que eu dizia a alguém :" A vassoura das bruxinhas é equivalente à varinha mágica das fadas"!....

Será que eu pressinto, que para resolver a minha vida, preciso de uma qualquer varinha mágica ou vassourinha de bruxa ???!!!...

Anamar

sexta-feira, 16 de julho de 2010

"PARA QUÊ?..."


Há dias li num jornal da manhã uma notícia, cujo título era :"Equipa médica demorou sete horas a reconstruir a  mão decepada a um sexagenário"....
Li, voltei a ler e pensei de mim para mim, qual a relevância de "a um sexagenário", no título da notícia, e por que não poderia o mesmo, realçar simplesmente o mérito da intervenção cirúrgica da equipa médica, que em sete horas, reconstruira a mão de um homem que, por negligência se decepara ?

Por que descrimina a sociedade os cidadãos a partir de determinada idade?
Porque os considera já ineptos, inválidos, incapazes?

"Idoso é colhido por um carro em passagem de peões"...."mulher idosa é brutalmente espancada ao entrar em casa"....etc, etc, etc....

Parece que existem os válidos, aqueles a quem jamais aconteceriam estas coisas, e depois, a classe vulnerável que é preciso realçar...

Como sabem, e já o tenho aqui reiterado vezes sem conta, lido muito mal com o declínio inevitável e perturbador da vida.
Sou, efectivamente uma revoltada com a perda das capacidades que nos reduzem a figuras fantasmagóricas, quantas vezes parecendo retiradas dum filme de terror....Para quê então, ser reforçado ainda mais o grotesco do irreversível, com afirmações do género das que referi?

Nós sabemos que cada dia tudo piora (e nisso, o Arquitecto, finalmente foi imparcial e justo - toca a todos ), é o ouvido, é a vista, é a mobilidade, é a força, a memória, a destreza, a capacidade de se fazer isto ou aquilo que se fazia com "uma perna às costas" ainda ontem....
Perdem a  identidade....deixam de ser um homem, uma mulher, para serem um idoso, um septuagenário...

Mas deixem-nos viver ao seu ritmo, não os minimizem, não lhes façam constantemente sentir que, como diria a minha mãe se aqui estivesse : "A vida tudo nos dá e tudo nos tira!..."

Anamar

terça-feira, 13 de julho de 2010

"REVOLUTIONARY ROAD - OU A LUTA POR UM SONHO"

Lembro com nitidez o domingo em que visionei "Revolutionary Road", num cinema de Lisboa...
Não lembro quando, se 2006, 2007, ou até 2008 ou 9....nem lembro em que cinema foi...mas isso era o de menos!...
Bom mesmo, era dissecar o filme num jantarzinho calmo, bom mesmo, era acertar ou desacertar o passo nas opiniões sobre o que se vira.

"Revolutionary Road" foi alvo de total e absoluta coincidência de opiniões...

Mau mesmo, foi tê-lo revisto  há pouco, num canal de TV, aqui neste meu quarto vazio, e por isso, só agora estou a jantar, também neste quarto vazio, onde apenas sinto  a multiplicidade de emoções....as que o filme me voltou a impor, e outras, que de novo me levaram a reflectir.

Para quem não viu a película, esta linguagem talvez surja um pouco codificada, mas na sua essência, o que o drama foca (porque de um drama se trata), é o lutar ou o acomodar de um ser humano, a perseguir ou a desistir dos seus sonhos e do alcançar de um significado para a sua existência.
No fundo, é a luta entre o cinzentismo ou o colorido que uma vida possa apresentar, dependendo do sonho, da sensibilidade, do acreditar do ser humano...é a tentativa da não acomodação, e o desafio  à fuga do "vazio mortal", do quotidiano da maioria de todos nós...

Esta frase é dita intencionalmente, percebe-se, por um personagem que também faz parte da trama, supostamente louco ( e por isso se encontra internado num manicómio), e que simbolicamente encarna o papel do abanar das consciências, levanta a questão da insatisfação do quotidiano que arrastamos, nos agrilhoa e de que não conseguimos evadir-nos.

O sonho, o objectivo, a meta, a razão para lutar, não desistir, acreditar....têm que estar em cada manhã nos nossos espíritos, e será com eles que a vida poderá ser comandada com alguma consistência.
O reverso disto, é o vazio duma vida que só se finge viver...

Anamar

domingo, 11 de julho de 2010

""APRISIONAR SONHOS..."


Ontem fui ao monte...
Com uma temperatura tórrida, fui encontrar o meu Alentejo, com outro rosto diferente daquele que ostentava da última vez que lá estive.
Com o Verão a pino, os amarelos, os ocres, os castanhos, dominavam, o silêncio era só audível pelo resfolegar do restolho bem seco, com a brisa que perpassava.
Até ao fim da tarde e a paz de alguma frescura  se instalar, reinou aquele silêncio que eu tão bem conheço. O calor não deixa as almas vivas darem qualquer sinal, mas sobre o fim do dia, quando a paz do abatimento da canícula impera, o Alentejo ganha vida...acorda da sesta...

Os abelharucos (em bandos), as garças reais, as rolas, as pôpas, as cegonhas, reiniciam o seu ciclo vital, procurando insectos na terra revolvida pela charrua.

Não me faz bem ir ao monte.
A angústia que me domina e que trago comigo na alma, ao regressar a Lisboa, justifica o silêncio que se me instalou em todo o percurso de volta....A solidão daquela casa, a solidão que aquela mulher deve carregar de volta, sem que o transpareça, para não incomodar, parece que sou eu que estou a senti-la; É um desalento e um abandono compungido que me aperta, muito apertadinho, o coração, e pesa "arrobas"....

Sinto isso em espaços que tiveram vida e deixaram de a ter. Sinto isso também, embora mais atenuadamente, ao ir à casa, fechada há seis anos, da minha mãe ;  sinto isso também um pouco na minha casa, que mesmo estando lá eu e a Rita, já foi uma casa de gente....e já penso, como será, quando também a Rita "desertar"...

Esta tarde, tenho destinado, fazer algo que precisa efectivamente ser feito, e que tenho sistematicamente (por defesa pessoal), adiado de dia para dia.
Já comprei fita de cetim azul, para atar as arquinhas que estão cheias  até à borda, de algo que não tem tamanho, peso, ou medida...Vou "aprisionar sonhos" ....

As minhas noites, que agora se dividem entre o "antes da insónia" e o "depois da insónia", dão-me exactamente por isso, períodos vazios, de reflexão e meditação.
A insónia tanto pode ser às três, às quatro...às cinco.
Levanto-me por necessidade, e de imediato sinto que o sono já era...; Depois, é uma prova de força -  rebolo, rebolo na cama até não dar mais, e já verifiquei que só consigo conciliar de novo o sono, tomando algum leite morno.

Pois foi na insónia desta noite, que pensei que teria que enfrentar mais uma "provação" na minha vida, ter a coragem que me tem faltado, para arquivar definitivamente sonhos que povoam essas tais arquinhas, a esmo, antes que eles me fujam...

É assim: há pessoas que "coleccionam" pensamentos, outras, memórias,  outras, palavras, outras, sonhos... sem receio que o vento os leve.
Eu, como sei que a mente é traiçoeira, colecciono, já vos tenho dito, pedacinhos felizes de vida...e assim, pedacinho aqui, pedacinho ali, uma folha, um galho, uma rosa seca, um poema, um guardanapo de papel com uma data escrita, uma esferográfica, um sabonete pequenino, um bilhete de cinema...tudo está nas minhas arcas e tem que ser definitivamente arrumado, antes  que os anos ( que têm subterfúgios dolorosos na vida ), me traiam e aquelas arcas fiquem "imprestáveis"...

Escolhi a fita azul, cor do céu, cor do mar que tanto amo...vai "selá-las", e acho que não voltarão a ser abertas nunca mais, porque os sonhos que têm lá dentro, já não têm força para entreabrir as tampas...

Por isso, hoje, vou "aprisionar sonhos"!...

Aliás, ou porque é esse o meu trabalho desta tarde, ou porque o trabalho desta tarde é que me deixa assim, sinto uma solidão tão doída dentro de mim, uma tristeza de morte anunciada, uma mágoa de desesperança, que não vos consigo traduzir...

Hoje, eu sou aquele barquinho de papel, que aquele menino de seis anos pôs a flutuar na água, que sobe, que desce e que se vai afastando com a maré, até se perder definitivamente, até se afundar...
Hoje, eu sinto que me afundarei...é uma questão de tempo...
E sinto que não vale a pena fazer de conta que vivo, que luto cada dia ( o que me dá um cansaço atroz ), porque as pessoas não percebem que eu faço teatro o tempo todo...até para mim mesma...e começo a ficar realmente cansada, porque sei que o que está estruturado, dificilmente é alterável!
Só tenho uma mágoa enorme, de envolver mesmo sem querer, pessoas que eu amo, numa preocupação acrescida às suas já complicadas vidas...

Meu Deus, por que terei eu que ser assim??!! Que raio de pena estou a cumprir em vida, por um mal que terei cometido sem saber??!!...

Peço desculpa pelo texto de hoje...não se angustiem por mim.
Apenas, eu tinha que por no papel ( o tal buraco na areia ), tudo o que, como as minhas arcas, me vai enchendo, enchendo, e que acaba por me saltar do coração...

Afinal, eu não tenho fita azul a selar a minha alma!!...

Anamar

Nota: Foto retirada da Net (o autor está identificado)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

"O QUE FICA E FICARÁ..."

 
Acham que é possível ter saudades de alguém, ainda estando com esse alguém?
Ter saudade de algo que acontece, enquanto ainda acontece?
Ter saudade da Vida, estando a fazê-la todos os dias?

Pois é...foi o que aconteceu comigo ontem (já tem acontecido noutras circunstâncias, mas ontem foi notório)...

Realizou-se a Festa anual "da Begónia", de encerramento do ano lectivo, como vai sendo habitual, entre os professores que na minha Escola dão aulas no período nocturno.
"Da Begónia", penso que já vos expliquei, porque, a brincar se criou a "Confraria da Begónia", que é anualmente engrossada, por todos quantos se aposentaram nesse ano escolar (os "begoniandos", que dessa forma, assumem  a categoria de "Barões e baronesas da Real Ordem da Begónia", ou seja passam a "begoniados"....)
É uma confraternização de muito mais que colegas, que transcende a relação meramente de cariz profissional, é uma confraternização de irmãos, uma partilha de afectos, em que é oferecida uma begónia (que é uma flor particularmente bela, aos aposentados nesse ano lectivo, como disse.

Pois bem, o ano lectivo 2009/2010 foi para mim um ano absolutamente distinto e marcante , em toda a minha carreira.
Primeiro, porque estive afastada da escola desde fins de Novembro, por razões de saúde, e depois, porque a falta de saúde era do foro psicológico , deprimindo-me, incapacitando-me, exaurindo-me e causando-me uma mágoa e uma tristeza que ainda carrego como cruz.
Acontece que há cerca de uma semana tornei-me eu, também, begoniável,  porque saíu a aposentação antecipada que requerera em Dezembro, e como tal, este ano, a festa do fim de ano "bateu forte", visto que a senti como sendo particularmente um adeus ou despedida minha (embora também o fosse p'ra outra "companheira de estrada" de há muitos anos).

Penso que, desde que esta "brincadeira" se iniciou, este, foi o ano em que mais colegas se reuniram. Entre os que estão e os que estiveram em actividade, seríamos perto de quarenta pessoas...e eu estava tão feliz!...
Uma felicidade que me fez esquecer por horas, todo o sofrimento por que tenho tenho passado, que me apagou a longa "invernia" que atravessei, pelo calor humano que me foi transmitido, pela amizade que senti, pelo sentir-me querida e acarinhada...pelo perceber, finalmente, que tinha importância para as pessoas...

Ao mesmo tempo, amordacei na garganta a emoção que me assaltava, pela "despedida", pelo virar de página, pelo fecho de um ciclo e um recomeço de vida...com tudo, de bom e de mau que ela me poderá dar daqui para a frente...
Mas a partilha, o estar ao lado de, a cumplicidade, a amizade, as palavras que recebi, no fim, de alguns colegas (e que jamais esquecerei), deixaram-me por demais, com um nó no coração...

E à medida que o jantar se aproximava do fim, a saudade e a nostalgia já me invadiam, e eu já estava a vivê-lo no passado, ele já me estava a fugir, porque tudo é assim na minha vida...nunca vivo nada em pleno...vivo sempre com a angústia do fim à vista, e a tristeza de não poder perpetuar tudo o que me conforta a alma...

Eu sei que esta filosofia não é correcta, porque como dizia John Lennon: "o passado já foi, o futuro não sabemos se será...o presente é o que temos", e em vez de o saborearmos, por vezes não o agarramos sequer, como um "oferta" com laço e tudo...porque as sombras dos pensamentos erróneos nos dominam...
 E como nada é mais efémero que a própria Vida, se não sorvermos estes pequenos/grandes momentos com que ela nos presenteia...então não fica mesmo nada...e nada disto fará sentido!...

Deixo aqui a foto da minha begónia, porque ela poderá morrer, como uma planta que é... mas o que ela representa, estará sempre vivo na minha memória para todo o sempre!...E é amarela...a cor que mais gosto...a cor do sol que amo e que saúdo todos os dias...

Anamar

terça-feira, 6 de julho de 2010

"AQUELE PÔR-DE-SOL..."


Apenas a natureza me não decepciona...
Sentada na minha cama, entre as oito e meia e as nove da noite, e porque moro num sétimo andar com Sintra na linha do horizonte, guardo um período de absoluto silêncio, de um misticismo respeitador, de um êxtase de reflexão...

Durante essa meia hora, todos os dias, o sol me tem presenteado com um espectáculo que nunca é igual, de dia para dia, de local para local, mas que é sempre pujante, glorioso e nos reduz a um grão de poeira no espaço...
Eu fico quietinha, a vê-lo descer, lentamente, como um lenço a acenar num cais...aquela bola de fogo que vai do laranja ao vermelho, até que a linha do horizonte o engole...

O "rei" foi dormir, e deixa atrás de si, uma cor no firmamento, indefinida, entre os rosas e os laranjas....sabem do que falo, claro.
Não estou a falar de nada novo...tudo isto é uma descrição banal...mas digo-vos...é tão grandiosa, que é impossível depois de um pôr-de-sol, é impossível que fiquemos os mesmos!

Assisti já a tantos, da falésia de S.Lourenço, à varanda das Furnas....da Jamaica às Maldivas....ou aos mais inesquecíveis para mim de Sta. Lucia....e todos eles, dentro de mim, são um ritual que eu respeito duma forma avassaladora, porque afinal trata-se dum morrer para um renascer horas depois...

A vida decepciona-nos, o ser humano maltrata-nos, os desgostos consomem-nos... a Natureza, essa, nunca nos falha nos presentes que nos dá, quando o borboto deu uma flor para nos perfumar o dia , quando a crisálida deu uma borboleta de cores deslumbrantes, quando daquele ovo sai uma nova criatura que se faz à Vida, quando o vento nos canta nas searas, aquela canção de embalar ....quando a onda traz e leva até à praia os sonhos que lhe contámos...

Desculpem a falta de conteúdo...ou talvez do conteúdo a mais....
Isto hoje está assim...

Anamar

segunda-feira, 5 de julho de 2010

"TARDE DEMAIS...."

A minha vida, hoje, é um pouco esperar que um dia acabe e comece outro.
São iguais os meus dias...sem cor (ou eu tornei-me daltónica, que é o mais provável). A mente pede-me casa, refúgio, toca, buraco...o corpo está ocioso, não dá um empurrão.
Acho que recomeço a atravessar outro deserto...e para mim, deserto, é sempre ausência de afectos.

Há pouco pensava, enquanto tomava duche (e não sei se se passará o mesmo com mais pessoas, ou se sou simplesmente um ser execravelmente único nesta matéria), que há já tanto tempo que não manifesto ou sou alvo do afecto de alguém. Afecto, refiro-me àquele afecto do toque, do colo, do abraço, do beijo, da pele, do calor...

Passei a tarde de ontem com a minha filha mais velha, o António, a Vitória, o Frederico e a minha  mãe.
Essa minha filha é profundamente pragmática. Extremamente sensível, mas daquelas pessoas que não conseguem traduzir por gestos, o que lhes vai no coração.
O pai dela, foi e será ( ? ) exactamente assim.
É extremamente, demasiado até, preocupada comigo, que eu sei, excessivamente...mas ninguém lhe "arranca" uma palavra de amor.

Pensava eu, dizia...há quanto tempo não sento as minhas filhas no colo e lhes dou um beijo, um abraço bem apertado, ou digo que, no meu jeito enviesado de ser, as amo e são ainda, junto com a minha "velhota", a única herança com que a vida me presenteou?
E tive vontade de o fazer...mas parece que a partir duma certa idade, se levanta uma barreira de uma espécie de "vergonha" ou timidez, um receio de "pieguice" inexplicáveis...que nos tolhem os movimentos...
Damos um beijo de cumprimento e de despedida...mas isso, também fazemos aos de fora, àqueles que não carregámos nove messes na barriga...

O mesmo em relação à minha filha mais nova, e com essa até tenho uma certa empatia de ideias, falamos de tudo  (porque ela se aproxima mais da minha maneira de ser), sem pudores ou tabus, de mulher para mulher, como se fôssemos colegas ou irmãs...talvez...(ela é menos formal que a irmã).
Mas damos um beijo à chegada e outro à partida também, e o resto parece que está "atado" dentro de nós e não sai cá para fora.
Eu bem sei que ambas estão na casa dos trinta anos, mas de qualquer forma, estranho fenómeno este, que nos tolhe o mais genuíno que o ser humano pode ter: a felicidade da manifestação do afecto, do mostrar quanto o outro nos é importante, nos faz falta, que nunca seríamos mais os mesmos sem ele...

Mas eu, também sou da mesma forma com a minha "velhota", de tal forma que, se por qualquer estranha razão lhe dou um abraço mais apertado ou a beijo mais, ela deixa as lágrimas escorrerem pela face, porque ela, eu acho, ainda era capaz de me propor que eu me sentasse nas suas pernas descarnadas de noventa anos...mas também não o faz...

Será assim com as outras pessoas?
Quando, porquê, a partir de que idade, se levanta esse muro impiedoso que nos algema o coração,  e nos faz sofrer, afinal???
E como seria importante sentirmo-nos de novo crianças, recebendo as meiguices, as manifestações reais de afecto, que só temos até uma certa altura da vida!!!

As crianças, essas são extremamente generosas. Estes problemas existenciais obviamente ainda não se lhes colocam.
Passei, como disse, parte da tarde de ontem com os meus pequeninos...
Sou omissa com eles, já aqui disse noutros posts. Não fui "talhada" para avó...tristemente...e carrego as "toneladas" dessa culpa.
Por isso, talvez a presença deles me obrigue a confrontar-me comigo mesma, como um dedo acusador e me faça sentir pior ainda do que eu já sou.
No entanto, as crianças são regeneradoras; elas aceitam-me como sou, acho...
Falam-me sem ressentimentos ou estranheza, sem recriminações, correm para mim para me abraçar, querem brincar e conversam comigo, sem ofensa ou rejeição...
Parecem entender o meu jeito desajeitado de ser, a minha incapacidade de "peixe fora de água"...Contudo, como gosto deles!...

É sempre assim...
Depois, um dia, lamentamos as palavras que deveriam ter sido ditas, não foram...e já não as podemos dizer...
Sofremos por as termos amordaçado nas gargantas, por os braços terem ficado tolhidos nos movimentos, os olhos terem sido inexpressivos quantas vezes, as mãos inertes, o coração sem força para bombar o calor que guardava e não deu...e já é tarde!!!

Por isso, é que, totalmente "rasgada", lembro até hoje, como disse ao ouvido do meu pai, minutos antes dele partir, bem baixinho, enquanto lhe acariciava o rosto e lhe pegava na mão : " Pai, gosto e sempre gostei muito de si...toda a minha vida"...
E ele, mesmo com olhos que não abriram mais, deixou escorrer uma lágrima pela face e foi......Já era "tarde demais"!!                              
                                                                                                
Anamar                       

quinta-feira, 1 de julho de 2010

"A LENA"

Nunca vos falei da Lena.
A Lena é uma das minhas quatro amigas. Sim, porque eu sou tão sortuda, que tenho mesmo quatro amigas daquelas que se escrevem com A maiúsculo.
Mas, de todas elas, a Lena é talvez a mais próxima de mim, não só porque moramos a dois minutos uma da outra, (quase casa com casa), como porque partilhamos profissão e vida , há mais de trinta anos...
Demos aulas na mesma escola, a vida toda, tomamos o pequeno almoço, o almoço ou simplesmente um cafézinho com muita frequência nos cafés da nossa zona, dos quais o Escudeiro, já sabem, também é um pouco "pertença" da Lena.

A Lena é uma criança grande; tem a pureza de alma, a ingenuidade, a generosidade e o sonho, entranhados em si, como as crianças...
Nunca conheci ninguém que se esquecesse que existe, vinte e quatro horas por dia, em prol dos que a rodeiam. E os que a rodeiam, posso ser eu, pode ser a família, pode ser o velhote que ela sabe que está triste e vive só, pode ser aquela senhora com dificuldades económicas, pode ser a mãe duma aluna que está desempregada...pode ser o aluno que precisa de ajuda porque tem que acabar a escola para melhorar de vida, ou a empregada que lhe trabalhou em casa, teve um AVC, e a Lena fez de tudo para depois a recuperar!...

Ela não é deste mundo, tenho a certeza...
Acho que ficou aqui esquecida, como o pequeno príncipe, vinda de um qualquer asteróide, de uma qualquer galáxia, e ficou por cá, para "cativar" todos quantos cruzam o seu caminho...
Dela, emana sempre uma luz, que ela não vê, mas que se sente; uma luz que aclara um espaço escurecido, como aclara um coração apertado, como "levanta" do chão sempre, quem não tem força para o fazer...

O seu riso infantil, a sua boa disposição contagiante, os sonhos que leva aos que já os não têm, fazem dela, um ser que perpassa, mas que não pertence a este lugar...
No momento exacto,  ela lá está....dos seus lábios saem sempre palavras regeneradoras e esperançosas, com as quais, é impossível ficarmos os mesmos...

Ela é mais mãe da minha filha mais nova, do que eu própria, e penso que também "adoptou" como um pouco netos seus, o António, a Vitória e o Frederico!

Eu costumo dizer : "nada é impossível para a Lena"!
Se queremos ter força e não desistir num momento em que tudo parece sem sentido, a Lena ( como um mágico), tira o coelho da cartola e consegue ter as palavras exactas que precisávamos ouvir, ou o carinho que precisávamos receber naquele momento...
Por vezes pergunto-me se o dia, para ela, não terá quarenta e oito em vez de vinte e quatro horas?!
Apesar de todo o trabalho que desenvolve ao longo do dia (profissional, doméstico, familiar), ainda arranja tempo (e nunca olha para o relógio), se percebe que alguém lhe lançou um SOS e precisa dela.
Lá está para  ouvir, dar o ombro, dar a bênção, dar a força, se for o caso, chorar junto, rir junto...sempre disponível, como se o tempo, para ela,  fosse destinado a isso...

A Lena é muito "gente", muito "coração" e pouco "razão"...
"Não", é palavra que não conhece conhece!

Sempre que penso nela, vejo uma árvore enraizada, que oscila, oscila e não verga com a tempestade. Tenho a certeza que pela vida fora, ainda os seus ramos me abraçarão e não me deixarão cair,  a sua folhagem me dará sempre sombra, na canícula do Verão e os seus frutos me matarão a sede, quando estiver exausta na caminhada!...
Sempre assim o foi, é, e certamente o será...e sinto em mim aquele ímpeto que se tem, de acarinhar uma criança, sentá-la no colo e dizer-lhe : " Lena, não tenho o teu dom, não tenho a tua aura, não estou no teu patamar de perfeição....mas deixa-me ao menos, nesta vida, ser a rosa que alegrava e perfumava o pequeno príncipe e que ele regava amorosamente todos os dias!"...

Anamar


                                                         Com um beijo, para a Lena

terça-feira, 29 de junho de 2010

"ESVAZIADA..."



Dia estranho o de ontem!

À subida para casa, depois do  cafezinho matinal no Escudeiro, levantei o correio da caixa, como habitualmente ( tinha apenas uma carta ). Olhei e li no logotipo do envelope Caixa Geral de Depósitos.
"Que chatice" (pensei, mais verificações para fazer...sim, porque sempre penso que faço os encontros dos extractos com os talões de movimentos, que religiosamente guardo na carteira, e depois, quando esta já não fecha, dá-me a fúria e espeto com tudo no lixo - mas a intenção é que conta...).

Ao abrir a carta, já em casa, deparo-me com uma carta sim, mas da Caixa Geral de Aposentações, dizendo-me que a minha aposentação havia sido aprovada...

Fiquei...não fiquei...ou fiquei sem nenhuma reacção, ou melhor, o que recordo com clareza, foi uma sensação estranha de "esvaziamento"...sensação desagradável, devo dizer.

"Isto é incoerente", pensei.
O meu ex-marido, quando lhe telefonei a contar, dava-me os parabéns e dizia-me : "Então, estás contente, claro, não era o que querias"?

Era, era o que queria, mas se calhar não era o que queria, ou se calhar o que eu queria na verdade era ter menos dez ou quinze anos e poder virar a vida de cabeça para baixo; o que eu queria era não ter esta sensação destrutiva e idiota, de inutilidade...mas tenho!

Uma psicoterapeuta e amiga que tive há alguns anos atrás (ecoam-me neste momento as palavras dela), sempre me dizia, sabendo dos meus "podres" : "Margarida, prepare a sua reforma com antecipação!"...

"Reforma" ....reforma então, mata-me! Reforma não! Por isso inventaram "aposentação" ; é como substituir, com vantagem, "puta de hotel" por "acompanhante de luxo"...salvo as devidas proporções!

Acreditam que já passaram vinte e quatro horas, e a carta continua no envelope e o envelope dentro da  mala, tal como ontem o deixei?
Dizia-me a Lena, minha colega/amiga/irmã, que estava em trabalho no liceu quando lhe telefonei (aliás foi a única colega a quem o disse) : "Margarida, nem imaginas, ficou tudo maluco por ti."...e houve até um "companheiro de jornada" que me telefonou a parabenizar.
Bom, bom, foi mesmo isso!...A solidariedade, a amizade, o companheirismo, que senti dos colegas, o apoio, como se todos torcessem por uma causa comum!

Parabéns?! Talvez!!... Tenho outros apertos no coração, que esses sim, é que me matam...

Lá vai a minha filha, "matriarca" da família, prática, pragmática, objectiva, que entende tudo, mas só valoriza o que realmente quer, ou dito doutra forma, é inteligente, sabe viver...e se preocupa comigo por demais, dizer:
"Bolas, mãe, nunca estás contente com nada! Menos uma preocupação! Tomara eu!... Já viste, teres todo o tempo livre para fazeres tantas coisas giras que há por aí??!!...Assim não é possível!!..."

E eu, mais uma vez a entendo, mas cá dentro...estou mesmo "esvaziada"...o que poderei dizer??!!...

Anamar

sábado, 26 de junho de 2010

"DE TUDO E DE NADA..."



Mais um sábado aparentemente sem história, com um sol difuso...aquele sol que parece ter uma neblina a cobri-lo, como as cortinas das banheiras, que deixam adivinhar, só adivinhar as formas dos corpos de quem toma duche...

O que é indiviso, quase sempre, assume proporções mais desafiadoras nas nossas mentes, do que o que é óbvio, claro, transparente...

Tive que vir escrever, não sei sobre o quê...porquê, sei!
Porque sinto aquela compulsão que me sobe do peito à garganta e me sufoca. Nesses momentos, a escrita é a única coisa que me acalma um pouco.

Ontem, aqui mesmo nesta cadeira face ao PC, mas também face à janela, sobre o casario à minha frente, assisti a um dos mais belos pôres-de-sol que se pode ter, de um lugar não exactamente privilegiado para isso, uma cidade.
Fiquei como que hipnotizada, e só me mexi, quando o astro-rei desapareceu no horizonte, tão longe quanto o meu sétimo andar alcança.
Era uma bola de fogo que passou do laranja ao vermelho, lentamente, como que a despedir-se para mais uma noite de sono....

Já aqui disse vezes sem conta, e por isso já me repito, se calhar fastidiosamente, que o pôr-do-sol é um dos momentos sublimes com que a vida, a Natureza, o "Arquitecto", seja lá o que for, nos presenteia.
É um momento de interioridade, de introspecção, de reflexão, de emoção incontida, tudo num mix de sentimentos que não se descrevem.
Eu, fico entorpecida, anestesiada, "fulminada", repleta com tudo o que sinto e não há palavras que cheguem para dizê-lo..

Fui depois até ao outro lado da casa. Já tinha escurecido completamente....e levei outro "soco no estômago"...Num céu apagado, praticamente já anoitecido, estava uma lua cheia que me deixou louca!
Também já vos falei do sortilégio que a lua cheia exerce sobre mim....Do fascínio, ao êxtase, da volúpia à emoção, que me deixa sempre boquiaberta, das lágrimas que me assaltam e um sentimento quase carnal, físico, devasso...a lua cheia fervilha-me o sangue...

Mais tarde, revi um filme na TV, de uma forma agradada mas doída, que quem o viu sabe do que falo, e tenho a certeza, não esquece :"Closer", com Júlia Roberts, Clive Owen e Jude Law, cujo tema musical, de Damian Rice é "lindo de morrer"....
Por todas as razões e mais uma, quando perto das duas da manhã apagava a luz para tentar dormir, estava emocionalmente, completamente "desarticulada"...pondo tudo em causa, questionando-me, revoltando-me, desesperando-me....

Por isso, e porque depois de tudo, uma insónia me acompanhou entre as quatro e pouco e quase as sete.....sufoco, e tive que vir aqui.

Perdoem-me, pelo vazio do que aqui deixo...uns perceberão, outros não....realmente, espremida, esta é uma crónica de tudo e de nada!!...

Anamar

quinta-feira, 24 de junho de 2010

" AQUELA CASA"



Faz-me mal ir àquela casa.
Eu, era eu, e a casa era a casa....Não estou portanto a falar de como eu vivia naquela casa.

Tinha um portão e uma cancela de madeira, em tabuinhas, estão a ver como é? A lembrar aquelas cercas do gado, no meu Alentejo.
Depois era branca, despretensiosa, simples mesmo, as janelas, de portadas verdes, eram emolduradas por amarelo ocre...também como nos campos do Sul....
Acho que tentei "carregar" para ali, o meu  pedaço de Portugal, ao construí-la assim. Sim, porque aquela casa foi saída do meu lápis! Do meu lápis misturado com o meu sonho, claro!

E tinha potes de barro, grandes, bem grandes, com plantas. Uns erectos, outros a espreguiçarem-se na relva e a deixarem sair por eles fora, as sardinheiras da minha mãe...

Depois, aquela casa tinha sempre flores, muitas flores, algumas árvores, arbustos e trepadeiras, cujas cores eu não escolhi ao acaso....
Não! Eu "pintei" aquele quadro, para que as cores do arco-íris estivessem sempre presentes.

A "casinha dos passarinhos" como eu dizia ao Óscar....(o Óscar, já sabem, era um gato meu, mais dono daquela casa que eu...da casa, e dos pinhais circundantes, porque ele não me ligava nenhuma, e quando lhe dava na gana, ia vasculhar os pinhais e os jardins por ali....)!
Não quero falar do Óscar, porque senão vou chorar....É a primeira imagem que tenho, hoje ainda, quando transponho o portão : o Óscar, deitado debaixo das hortenses à procura da fresca, nos Verões quentes...
Pássaros, apanhava, se pudesse, e vinha oferecermos, depois de "judiar" com os pobres....
Foi o primeiro "desertor" da casa....o Óscar!

Depois "desistiu" o Gaspar...Faltava-lhe falar, para ser tão humano como nós. Mas a minha mãe é que nunca desistiu de ter longas conversas com ele. E entendiam-se lindamente!
Ainda eu estava fora do jardim, e já o Gaspar exultava de alegria, no abanar do rabo, na correria maluca, na felicidade que transpirava, nos latidos, no ladrar no anunciar-me....

Hoje, aquela casa é um pouco "fantasma"....
Estive lá há dois dias....as buganvílias são "chuveiros" de flores de todas as cores, as azáleas, a glicínia, as sardinheiras da minha mãe, claro, os agapantos, as cinerárias, o alecrim, o rosmaninho, a lavanda....tudo quanto pôde se abriu à luz e ao calor deste sol abençoado....

A minha mãe varre religiosamente a tijoleira todos os dias; a minha mãe, como não tem o Gaspar e como tem quase noventa anos, garanto que falará então com as suas flores...
E a casa, é quase uma casa "fantasma"!...
Uma espécie de tumba, onde estão sepultadas, tantas e tantas memórias, boas e más...que não fecha nunca!...

Faz-me muito mal ir àquela casa!!...

Anamar

segunda-feira, 21 de junho de 2010

"DA INCREDULIDADE À INDIGNAÇÃO! "




Muito originais estes meus domingos!
Estou junto à estação fluvial de Belém, de onde os cacilheiros partem e chegam, a usufruir de um Tejo que ainda não me defraudou em termos de tempo, nem de beleza.
Está um sol esplendoroso, com um ventinho agradável, o céu mistura-se com o rio, no mesmo azul-safira.
Os veleiros ponteiam este cenário, e eu estou sentada no paredão, duas maçãs, uma barrita de cereais, uma garrafa de água (tenho que acabar com estes pneus...), papel e esferográfica.
Estou completa... eu e a minha solidão!
Aliás, neste momento o meu "poiso" mais provável ao fim de semana é mesmo este.
Alguns pescadores (hoje não muitos - não deve estar favorável), e uma gaivota, que volteia e plana aqui por cima, na aragem da corrente...
Esta, não é a "minha", por certo...

Até sair de casa estive a acompanhar, via TV, a chegada dos restos mortais de José Saramago ao cemitério do Alto de S. João, onde, por vontade sua, viria a ser cremado, e essa reportagem desencadeou em mim um misto de sentimentos, que vão da vergonha, à indignação, à incompreensão, à revolta...

O nosso destino como portugueses é realmente ser sempre "pequeninos"! Ser sempre mesquinhos! Sempre uns "tristes na imagem que damos, nas atitudes, nos actos!...

Foram registadas as ausências inexplicáveis ou talvez não, do Presidente da República, e do Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, na cerimónia!...

A Saramago, ( se pudesse escolher ), só faria falta o povo mesmo, e esse, esteve; esteve em número, esteve em alma.
Os cravos vermelhos e os punhos no ar, confirmavam a sua conotação política, mas foram as palmas (quando a urna se dirigiu e entrou no forno crematório), indistintas, que confirmaram o valor da sua figura e traduziram o obrigado dos portugueses, a alguém que levou o nome de Portugal ao Mundo.

Como todas as figuras controversas,  pelas posturas assumidas sempre ao longo da vida, contudo sempre coerente, "sem preço", corajoso e determinado, inquieto e frontal, a quem as "estruturas" implantadas nunca amordaçaram, teria as simpatias de uns e a discordância de outros, contudo, ao nível de Camões, Pessoa e Jorge Amado na pátria-irmã, levou e elevou o nome do nosso país, porque Saramago era de facto um cidadão do Mundo...

Será que Cavaco Silva teve "medo" que o confundissem com um militante comunista, estando presente nas eséquias????!!!!....
Triste país este, tristes dirigentes que ocupam os mais altos cargos nesta terra, e a quem os destinos desta nação estão entregues!
Entretanto, "pagamos" horas e horas de cobertura de campeonatos de futebol, assistimos à imposição de medalhas, pelos governantes desta nação, a figuras mais ou menos duvidosas de as merecerem, com pompa e circunstância, verificamos que o Presidente da República honra com a sua presença eventos discutíveis na importância....e Saramago era "SÓ" o nosso Prémio Nobel da Literatura....

Por que será que a única voz que se ouviu claramente e sem medo, e se insurgiu e indignou, foi, até estranhamente, diria, Francisco Louçã?...

Como homenagem à figura, ao cidadão, mas também a tudo o que Saramago representou, representa e representará para Portugal....com o meu humilde reconhecimento, um excerto do seu livro de poemas "Os Poemas Possíveis"   -  1982 :

 «"Este mundo não presta, venha outro. / Já por tempo de mais aqui andamos / A fingir de razões suficientes. / Sejamos cães do cão: sabemos tudo / De morder os mais fracos se mandamos, / E de lamber as mãos, se dependentes. "»

Anamar

sábado, 19 de junho de 2010

"ERA UMA VEZ..."




                 "Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra.
                   Era uma vez a gente que construiu esse convento.
                   Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes.
                   Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido.
                   Era uma vez."
                               (in "Memorial do Convento )


   Era uma vez, José Saramago, nascido  na Azinhaga, Golegã, falecido a 18 de Junho de 2010 em Lanzarote, Canárias, cujo corpo chegou há pouco ao aeroporto de Figo Maduro em Liboa.
Não vou alongar-me em dissertações sobre a figura de Saramago, Prémio Nobel da Literatura, no ano de 1998.
E não me alongo, porque tudo será escalpelizado pelos mídia neste momento.
Membro convicto e assumido do Partido Comunista Português, por quem sempre deu a cara, numa coerência que lhe custou por vezes dissabores, ateísta confesso, o que também lhe conflituou a relação com a Igreja, Saramago, era escritor, contista, poeta, dramaturgo, argumentista e sobretudo, como referi, um homem de uma coerência, de uma coragem e de uma verticalidade invejáveis, o que deve, por todas as razões, orgulhar-nos, como cidadãos portugueses que somos!...

De facto, "Saramago, ou se ama ou se odeia!!!i ( penso que esta definição é a correcta para a sua personalidade)...

Deixo aqui um pequeno excerto mais circunstanciado, mas obviamente sucinto, da sua biografia, que me foi  enviado por um amigo destas lides da Net, e a quem agradeço.

Saramago nasceu em Azinhaga, no Ribatejo, de uma família de pais e avós pobres. A vida simples, passada em grande parte em Lisboa, para onde a família se muda em 1924 – era um menino de apenas dois anos de idade – impede-o de entrar na universidade, apesar do gosto que demonstra desde cedo pelos estudos. Para garantir o seu sustento, formou-se numa escola técnica. O seu primeiro emprego foi serralheiro mecânico. Entretanto, fascinado pelos livros, à noite visitava com grande frequência a Biblioteca Municipal Central - Palácio Galveias na capital portuguesa.




José Saramago no Festival Internacional de Filmes de San Sebastián (segurando a tradução em língua persa do seu livro Ensaio sobre a cegueira.
Autodidacta, aos 25 anos publica o primeiro romance Terra do Pecado (1947), mesmo ano de nascimento da sua filha, Violante, fruto do primeiro casamento com Ilda Reis – com quem se casou em 1944 e permaneceu até 1970 - nessa época, Saramago era funcionário público; em 1988, casar-se-ia com a jornalista e tradutora espanhola María del Pilar del Río Sánchez, que conheceu em 1986, ao lado da qual continua a viver. Em 1955, começa a fazer traduções para aumentar os rendimentos – Hegel, Tolstói e Baudelaire, entre outros autores a quem se dedica.

Anamar

quinta-feira, 17 de junho de 2010

"NADA DE NADA"

Vénus estava no seu auge, que é como quem diz, estávamos naquela fase do dia/noite, em que é apenas ele, que domina um céu ainda um pouco aceso da luz do dia que está a findar...
Céu completamente limpo, mais nenhum ponto luminoso, e ele, Vénus, bem de frente da sua janela.

Isabel viera fumar, por forma que o cheiro do tabaco não conspurcasse o seu espaço, as suas plantas, bem verdes, como quem quer plantar a Natureza dentro das suas quatro paredes.
Já jantara...voltou à janela, e agora a lua, em quarto crescente também já ali se postara.
Pensou que mais um dia findara, pensou que o ano estava exactamente a meio, e o estado de espírito inexplicável que ultimamente a assaltava, começava a cansá-la já.

Acorda como quem tem esse dia para celebrar, não sabe bem o quê, mas dentro de si há um entusiasmo, uma excitação de dia de anos, antes de se receberem as prendas...

Ela espera, espera alguma coisa que não identifica, acredita em alguma coisa diferente para esse dia, como quem está convicto que o prémio da lotaria lhe vai sair logo à noite, quando "andar à roda"...

E espera, espera, espera....obviamente de uma forma inglória...porque o dia é tão comum como os demais...(embora Isabel finja que não irá ser assim...)
E aquela agitação de criança face aos embrulhos de Natal, vai decaindo, decaindo, decaindo, junto com a luminosidade da luz do sol, que passa de clara e ofuscante de manhã, para cálida e sucessivamente mais apagada, à medida que o tempo passa, e nada acontece na vida de Isabel, em mais um dia...

Apagou a "beata"...olhou o céu agora já completamente escuro, com uma poalha de "pirilampos"a piscarem lá em cima e pensou: "até quando?..."

Amanhã Vénus voltará a mandar nos céus, a lua estará um pouco mais cheia, o cansaço de Isabel também terá aumentado, porque nada de nada lhe terá trazido mais um dia...

Anamar

terça-feira, 15 de junho de 2010

"SEIS VELINHAS A APAGAR..."


 Pois é....já lá vão seis anos desde que o elemento do meio da escadinha dos meus "pestinhas", chegou a este mundo....
Era então o ano de 2004, um ano particularmente difícil na minha vida, por razões pessoais e familiares, era um período dos mais dolorosos que atravessei na minha existência, mas lembro com muita nitidez, aquele quarto da Cruz Vermelha, onde eu já estava a esta hora, lembro a minha filha  com uma bata vestida, na cama, já semi-preparada para a cesariana que faria mais tarde, e lembro muito bem as olheiras de mulher grávida que vai parir dentro de poucas horas...calma, perfeitamente calma, eu achei.

A família comparecera em bloco ao "chamamento" do coração, a pé firme, sem arredar pé, embora "esse"bloco já não  fosse exactamente um bloco....mas o sangue era o mesmo, e tenho a certeza de que os corações de todos, sem excepção, batiam em uníssono pela mesma causa: que a "princesinha" chegasse a este Mundo tão conturbado, fazendo jus ao nome que teria - Vitória!...

E aí a temos, de bata de escolinha e mochila às costas,  já de números e letras à séria, que exibe orgulhosamente, doce que só ela, maria-rapaz que só ela (ou não estivesse "no meio" de dois irmãos)!

A Vitória é dengosa, simpática, sabe, e dá sempre, a volta ao texto...quando os ventos não lhe estão de feição....
Tem um "charme" próprio, todo seu, muito particular, e assim amolece o coração mais empedernido...
Já partiu duas vezes a cabeça (a jogar à cabra-cega, vejam bem), já "despachou" um dente incisivo noutra malandrice qualquer....mas continua "coquette", ciosa dos laços, ganchos do cabelo, toiletes, o que lhe confere a dualidade de ser também, bem feminina...ou não fosse ela do signo de "Gémeos"...

Ela ainda não irá saber ler tudo isto....talvez o António lhe resolva o problema.
De qualquer forma, ela terá que saber, que deste lado, está alguém que "torcerá" sempre por ela, que acreditará nela, que tem uma imensa esperança, que o nome que ela carrega, se concretize em tudo ao longo da sua vida....que ela alcance a vitória que outros antes dela, não puderam, ou souberam alcançar!...

Anamar

domingo, 13 de junho de 2010

"NADA DURA PARA SEMPRE..."



Que espectáculo de sábado!...

Um dia que amanheceu dum cinza carregado, com nuvens e chuva de quando em vez, alternando com um sol fraco para não desanimar totalmente. Um dia que parecia mesmo que ia "fechar", ou seja, que ia ficar com chuva persistente.
Já vos disse que odeio estes fins de semana...não há dias em que sinta mais a inutilidade de viver, que nos fins de semana!
Os fins de semana são óptimos para quem tem projectos. Para quem os não tem, fica isto, este vazio total, isto que foi o meu dia de hoje, destrói, mata!
Dormi em cima da cama, com uma das tais nesgas de sol a inundar-me....pensei ir ao cinema e fui adiando a ideia de sessão em sessão. Neste momento (9,30h da noite), claro que não irei.

Quando penso em ir a um Centro Comercial, a inutilidade do vaivém de gente, de montras de produtos que não podemos ou queremos comprar, arrepia-me....ou melhor, entristece-me.
Quando penso numa esplanada com rio ou sem rio, com mar ou sem mar, eu e uma revista, uma revista e eu, óculos escuros a esconder pelo menos as lágrimas que sempre são inconvenientes, também me arrepio, ou melhor, ainda me entristeço mais...

Por um lado, é difícil conciliar interesses de algumas (poucas) pessoas que conheço, que pudessem estar disponíveis (muitos têm as suas vidas), por outro lado, estou numa fase em que me canso da inutilidade forçada que advém de pessoas que se juntam, porque carregam solidão!
Eu acho que a afinidade de interesses, gostos, cumplicidades, tem que vir lá mais de trás....se não, temos apenas pessoas  com um denominador comum, que não é seguramente a partilha desses valores...

É praticamente noite, neste sábado... o que é a vida?

Uma sequência de dias em que se espera que o astro-rei vá dormir?
Quando analiso tudo o que ocupou o meu dia, não encontro uma "coisinha" só, que fosse, que tivesse realizado.
Se me tirarem as drogas, este amorfismo (apesar de tudo), descamba. As drogas são o "colete de forças" psicológico, que me tira o direito à intensidade real daquilo que sinto...e volta tudo ao início.
Mas esta gente não percebeu ainda, que são arames enferrujados, o que prende as peças do que sou neste momento? Tal como aquelas bonecas de porcelana antigas, que tinham a cabeça, os braços e as pernas, articuladas com arames, lembram-se? Eu sou uma espécie de dominó de peças sequenciais ; a de trás derruba em cadeia todo o jogo!
Estou diplomada em macacos e tubarões!... O que eu sei de crocodilos e lagartos das Comores e Galápagos....nem imaginam!...De chitas, antílopes, ursos e rinocerontes tenho o "Master"!...

O tempo passa e com ele, a Odisseia, o Discovery, o National Geographic, consomem-me felizmente muitos minutos.

"Então! É a vida que temos, queres o quê? Não tens idade e arcaboiço para aguentar as realidades, porra??!!...."- dizia-me alguém  que vive no Porto, nunca vi, mas que do outro lado, no Messenger, falava comigo.
O Jorge  (parece ser esse o seu nome), pelos vistos está feliz com a vida de que dispõe...
O Jorge não deve ser muito exigente, tenho a impressão, ou então, é simplesmente normal...

Eu não vou nunca conseguir meter-me numa "forma" destas...

Há pouco passei na rua por dois amigos (percebi), homens de setenta e muitos anos. Até esbocei um sorriso para mim mesma, porque com o maior vernaculismo, dizia um para o outro: "e vamos vivendo! Um dia de cada vez...e com calma!"
E o outro repetia as mesmas palavras...como que a reforçá-las.

E sorri mesmo..."e com calma!"...

Será isto que me espera???
Ter calma para esperar que chegue a artrose, as dores nos ossos, a surdez, as cataratas, o desnorte no espaço e no tempo, já para não falar num cancro, num Parkinson...e com calma??

Estou cansada!
Hoje sinto-me extenuada interiormente. Que pena não poder ir dormir já, para pelo menos, "apagar"!
Tomei as drogas milagrosas que não operaram milagre nenhum, porque o sono demorou a chegar...
No computador, ninguém... (sábado à noite), na TV, toneladas de marchas populares de Sto. António, em Lisboa. Já lá vai o tempo em que eu as via do princípio ao fim, como as noivas de Sto António, como o compacto semanal do Pantanal, como o Festival da Eurovisão..naqueles tempos em que eu não vivi, vegetei.

Acabei finalmente por passar por um filme que vi no cinema no ano passado, "O estranho caso de Benjamin Button", que dispensa comentários, penso.
Revi-o com muito agrado, apesar de já o ter apanhado a meio,  mas a temática voltou a mexer comigo, como então, entristecendo-me ainda mais...."Nada dura para sempre"- dizia e repetia vezes sem conta, a Daisy..."Nada dura para sempre"...digo eu, também.

O filme terminou e o sábado também...

Desculpem a recaída!
Recaída...uma gaita! Aqui, tenho sempre o poder de pôr o que quiser. E cada um poderá sempre pensar o que quiser, ler o que quiser...chamar-me louca...se o entender!

Anamar
 

sábado, 12 de junho de 2010

"O TER E O SER..."

    "E de repente, vi-me diante de mim, como se o deserto fosse o estado de espírito de cada um que busca o ter, esquecendo-se de ser" - José Teixeira

Escrevi esta frase num guardanapo de papel, copiando-a de jornal, ou revista (daquelas com que diariamente complemento o meu pequeno almoço), há já tantos dias, que não identifico em que contexto foi escrita e nem sequer, se quem a proferiu é (de acordo com a Net), um artista plástico da actualidade, ou um outro José Teixeira....

Estes preâmbulos também não contam muito, neste momento....

Conta sim, o impacto que ela me causou, os cordelinhos em que ela tocou , a forma como ela se me impôs....
Aquele guardanapo de papel, manteve-se ali, bem "escarrapachado" na mesa, junto ao computador, já engelhado das limpezas da empregada, as vezes que lhe peguei e o reli, para o deitar fora, sentindo ao mesmo tempo que não podia fazê-lo, que ele me obrigava invariavelmente a  (como fazemos com algo que nos diz alguma coisa),  virar, revirar, ver o seu direito e o seu avesso, ver os pormenores e os defeitos....em suma, neste caso reflectir sobre o que lá estava escrito, impunha que eu trouxesse ao prelo, a minha opinião a propósito.

A minha interpretação (não sei se será a que corresponde à que estaria na cabeça do autor ao escevê-la), é provocar e colocar o ser humano, perante a realidade nua e crua dos valores que presidem à sociedade consumista , insensível e anónima, actual;
é colocar o ser humano versus ele próprio, para valorar o seu desempenho enquanto agente racional  e responsável no Mundo que habita...

Para mim , José Teixeira remete-nos para a prevalência dos valores materialistas e de consumo, "impingidos" pela sociedade do "ter", em detrimento do aperfeiçoamento dos valores intrínsecos de cada homem, enquanto "ser" na comunidade dos seus pares.
Para mim, o "ter" insaciável do ser humano, abana a sua estrutura que deveria levá-lo a preservar e desenvolver os valores ético-sociais, de acordo com a inteligência com que foi bafejado, fazendo-o anular o que nele deveria fazer a diferença, tornando-o num homúnculo, desprezível e indigno...

A sua vida, a sua consciência, os seus comportamentos, a sua moral, posturas e valores, reduzem o seu espírito, a um deserto... provavelmente sem oásis!...

Anamar

sexta-feira, 11 de junho de 2010

"DOIS ANOS JÁ LÁ VÃO!!!..."




Faz dois anos que iniciei exactamente no dia de hoje, aqui, esta diáspora, que é o debitar de estados de alma, é o narrar de alegrias ou tristezas, é a análise, a crítica sobre acontecimentos...enfim, é a partilha convosco, de muito de mim...

Sempre me expressei desassombradamente, se calhar com uma ingenuidade que os anos  já não me permitiriam, ou que a prudência  dos mais avisados não aconselharia.

Não fez mal!

Não me arrependo...o que quiserem ler e ler nas entrelinhas, pois que o façam. Eu sou sempre igual a mim própria, e não o sei ser de outra forma.

Comecei por amor à escrita, por piada, porque este espaço também foi tribuna de luta, dádiva de amor, e até à data de hoje, já compilei, em suporte de papel, seis volumes, que valem o que valem, não têm quaisquer pretensões, apenas facilitam a leitura e ficarão, palpáveis, reais, irão amarelecer com o tempo, junto com o legado da minha vida.
Depois de eu partir, o seu destino deixa de me pertencer....

Agradeço a quantos perderam o seu tempo a ler-me, embora talvez o não manifestassem, agradeço o incentivo de todos os que mo deram e acreditaram que "isto" poderia ser qualquer coisa de concreto na minha vida...logo eu, que nunca acredito muito, naquilo que seja capaz de fazer!

Depois, agradeço também aos que me comentaram, positiva ou negativamente, não importa; todas as críticas construtivas sempre foram consideradas por mim.
Aqui, sem querer excluir ninguém, que me perdoem todos, mas tenho que enviar um beijo muito especial a uma pessoa igualmente especial, atenta sempre, minha colega e amiga, que talvez por isso não tenha sido muito isenta...a Maria Romã!!!
Eu perdoo....ela foi a minha leitora número um!!!

Agradeço muito à minha "gaivota", que em dias como o de hoje, que eu costumo dizer "não serem carne nem peixe"...em que estou só, é feriado, e à minha frente apenas o casario incaracterístico desta terra, se desenha....a minha "gaivota" dizia, rasa a minha janela, de asas bem esticadas, parecendo querer dizer-me que não existem limites para a imaginação e para o sonho, que eu acredite que vale a pena viver, porque à semelhança da liberdade que ela transporta, uma coisa nunca ninguém me tirará...que é a liberdade de deixar voar tão longe quanto eu quiser, o meu pensamento e os meus desejos!!!...

Anamar

terça-feira, 8 de junho de 2010

"HISTÓRIA DE UM DOMINGO SEM HISTÓRIA..."

Um fim de semana absolutamente devastador.
O efeito das cápsulas milagrosas hoje não está a surtir efeito...esqueci-me de tomar ontem as do jantar, talvez seja essa a razão. Mas isso leva-me a concluir que ainda dependo completamente delas.

Talvez vá ver o Tejo, embora, apesar do sol lindo que nos ilumina e do céu profundamente azul, como abóboda a cobrir-nos, esteja um vento dissuasor da ideia...
Que me resta então? Não sei...

Qualquer pessoa que me leia, comentará o ridículo desta observação!
Afinal de contas, há quinhentas mil coisas interessantes para fazer...se calhar...eu é que, sozinha e sem força anímica (que de facto hoje não sinto), não tenho motivação.
Ficar em casa, também não pode ser opção, penso, porque logo, na "hora das bruxas"...nem eu me aturo, se agora já me sinto deprimida assim...

Estes domingos não deviam existir...

Para variar estou a tomar o pequeno almoço, no café dos "velhos", já sabem, são duas e tal da tarde...
Qualquer dia é Agosto, as férias aproximam-se a passos largos.
Férias...este ano nem poderei verdadeiramente falar de férias já que, praticamente não trabalhei o ano todo, mas aquele entusiasmozinho que se começa a sentir à medida que Agosto se aproxima, merecidamente ou não, sinto-o na mesma ( o homem é de facto, um animal de hábitos), mas estes tempos, são na verdade outros, muito especiais para mim...

Começo literalmente a sentir-me condicionada.
Hoje escrevi, li o conteúdo, irrelevante efectivamente,vazio efectivamente, sem nenhum tipo de interesse efectivamente, mas eu tinha necessidade de o colocar aqui ( e é desta forma que este espaço também é terapêutico...) e hesitei, pensando no juízo de valor que dele farão.
No entanto, o meu interior hoje é um barril de pólvora, ao qual, chegando um fósforo, explodiria.
Os níveis de ansiedade, há tempos que os não sentia tão incontroláveis, uma espécie de tristeza ou melancolia dava-me um nó na garganta e aflorava-me lágrimas aos olhos de quando em vez.
Sei que preciso racionalizar, sei que não posso perder o autocontrole, sei que não me posso deixar dominar por valores ou pensamentos negativos que me matraqueiam, não me levam a nada, apenas me destroem, até porque nem correspondem a nenhuma realidade objectiva...mas hoje, de facto estou sem forças...
Decidi...vou ver o rio...o vaivém da água sempre me acalmou...

E vim...
O Tejo estava glorioso...o vento, era mais uma aragem do que propriamente vento, a água estava daquele azul pujante, enquanto que os imensos veleiros que bordavam o rio e lentamente o desciam e subiam....eram miosótis que salpicavam liberdade e paz!...

Encontrei um local que parecia feito para mim...de muita solidão, embora com gente por perto, muito silêncio...aliás, quase só se ouvia o rebentar da corrente no empedrado do paredão.
Parecia um local fora do mundo, feito para a reflexão, o encontro, o balanço, a análise, a interioridade...

Vim, e vou ficar, até que a brisa se transforme em vento , e aí, a casa me esperará, neste domingo sem história, mas que de alguma forma, teve a "sua" história...

Anamar

domingo, 6 de junho de 2010

"AQUELAS ROSEIRAS..."





Há sonhos que se sonham acordados, e sonhos que se sonham , que são aqueles que nos acompanham pela noite fora, verificamos que o foram quando acordamos e é frequente esquecê-los na hora...

Tal como os pesadelos; há-os a fazer acordar de supetão, tão reais se representam, e pesadelos que se vivem em vida, se arrastam, nos arrastam com eles e devido aos quais, sofremos que nem uns desgraçados....
Dos primeiros, guardamos um enorme alívio porque verificamos que se tratava disso mesmo, um pesadelo onírico e não uma realidade...


Ocorre o mesmo com as "penas".Toda a vida ouvi a minha mãe dizer que as "penas" vivas são muito piores que as "penas" mortas. Ela dizia: "as penas mortas já nos mataram e as vivas matam-nos um pouquinho todos os dias...", que é como quem diz que o sofrimento que nos é infligido pela morte de alguém é devastador, mas a tendência natural é que o passar do tempo o aplaque, por inevitável, ficando uma doçura doída na alma, da recordação desse alguém, que se foi deste Mundo.

Já as "penas" vivas vivas são mais dolorosas, porque não terminam nunca.
São desgostos infindáveis, são sofrimentos sempre punjentes, e presentes, porque também sempre está presente o objecto alvo dessa "pena"...

Está ali, perto de nós, mas inalcançável por qualquer razão....ou sabemos que continua vivo num mundo do qual fomos excluídos ou nos excluímos, ou que não conseguimos atingir....
Por acaso, também concordo com estas considerações, que, aliás, como sempre acontece sabiamente, com a voz do povo, normalmente não erra...

Conheço e como conheço, os dois tipos de sonhos e pesadelos, conheço e como conheço os dois tipos de "penas"...infelizmente...
Acho que todos, acabamos ao longo das nossas vidas, em algum momento, a conhecer igualmente!

Antes de ontem fui ao Alentejo, fui a um monte , no Alentejo, com amigos.
Não era o "meu" Alentejo da planura e acalmia. O monte ficava numa Serra alentejana, que, como sabemos, têm pouca expressão em altitude, como serras.
É uma uma paisagem de altos e baixos,  que impedem que a vista se perca, como no mar, é uma paisagem de montado, de sobreiro e azinheira, de urze, esteva, tojos, giestas, rosmaninho, mais selvagem e agreste.

Por essa razão, não "senti" ali, aquele clique que o vento na seara me dá, que o dourado da macela ou da urze, o branco dos pequenos malmequeres, o roxo, o vermelho das papoilas ou o resmalhar dos "pandeirinhos" (cujo nome lhe advém da forma que têm)...
Mas vi o gado a pastar, porque este ano, ano de invernia a rigor, há muita erva e água em pequenas represas, e vi (e isso encheu-me a alma), as cegonhas, verdadeiras colónias de ninhos nos postes de alta tensão, como é habitual....
Como sabem, e por razões que conhecem ( quem acompanha o meu blogue sabe ), tenho uma relação  muito particular com esta ave, e uma ternura muito especial por ela....
e ouvi os chocalhos dos rebanhos, as rôlas, e vi garças brancas e garças boieiras, e ouvi o cuco e vi as pôpas....


Enfim, foi um outro rosto do Alentejo, que se me estendeu à frente dos olhos...

Íamos, para lá do passeio, arejar a casa, que sendo de veraneio está permanentemente fechada, ainda por cima num local inóspito, e íamos especialmente numa missão muito particular que, sempre que penso nela me enternece.
A dona do monte enviuvou há cerca de um ano, de um homem lindo, bastante novo ainda, com quem tinha uma relação mais linda ainda. A cumplicidade, o fogo do amor que coexistia, os projectos que fizeram juntos, aquelas doces e pequenas recordações, aqueles momentos que não se descrevem porque não há como, ficaram para sempre, na mente e no coração daquela mulher.

E porque entre eles, fora estabelecido esse pacto em vida, ele (que infelizmente teve tempo para se aperceber que lhe restava pouca), pediu-lhe que as suas cinzas fossem depositadas debaixo de uma determinada árvore, no cabeço, donde, em noites de lua cheia, contemplavam o montado, e onde as estrelas parecem brilhar mais no breu do céu lá em cima....

Pois bem, ele partiu, como disse, há cerca de um ano, partiu deste Mundo, não do mundo deles, e ela cumpriu o prometido. E fez mais, nesse local plantou duas roseiras vermelhas da cor da paixão que os uniu, vermelhas da cor das lágrimas de sangue que o coração dela certamente chorou.....e por isso foi ao monte regá-las...

Em silêncio, discretamente, vimo-la ir, monte acima até desaparecer no cabeço, com um balde de água na mão. Discretamente, em silêncio, como quem vai a um santuário, como quem entra numa igreja, em recolhimento, partida, certamente esfrangalhada por dentro, com o peso do Mundo nas costas...eu imagino....aliás, só imagino o que aquela mulher terá sentido, ao regar aquelas roseiras...

Será uma imagem que não mais esquecerei, foi um exemplo de uma envergadura e uma força interior enormes, quando, passado algum tempo (o que lhe fez falta), regressou, primeiro lá longe, pelo meio das árvores, a pouco e pouco crescendo a sua imagem, até chegar junto de nós, de mansinho, em silêncio, ainda limpando uma lágrima teimosa, e com os pedaços do coração nas mãos...

Aquelas roseiras vão florir, terão de florir.... eles merecem que elas floresçam, para perpetuarem um amor que passou muito para lá do efémero desta vida...

Anamar

sexta-feira, 4 de junho de 2010

"PERGUNTO-ME..."


Geralmente me esqueço que tenho um "site meter" no blogue. Até porque com muita frequência escrevo a desoras, depois de postar o texto, desligo o PC e procuro "outros" horizontes....

Também, como aparece na nota introdutória do "filosofices", é verdade que escrevo mais por gosto, necessidade, amor a este jogo de caracteres que pode criar um bom ou mau texto, uma boa ou má comunicação, uma acertada ou completamente errada imagem sobre o autor, por parte de quem lê...

Certo é, que escrevo muito sem me preocupar com quem está para lá deste veículo transmissor, ou seja, tomo mesmo à letra, embora não intencionalmente, a ideia e a certeza que a escrita é um acto de solidão, é um acto de encontro connosco mesmos, e por isso, para ser isenta e vernácula, genuína e autêntica no que transmite, não pode ter peias, correntes ou grilhetas...

Dito doutra forma, enquanto escrevo, não posso "sentir" olhos, ouvidos, vozes, de aquiescência ou desagrado, desse lado...senão auto-amputo tudo o que preciso ou quero dizer, independentemente da importância ou relevância do assunto em si....

Tudo isto é exactamente assim, o que não significa que, por cada post que aqui deixo (com as minhas tão discutíveis opiniões, sentimentos, formas de pensar), eu não verifique os comentários dos leitores das minhas "escrevinhações" (se os há)...

E não é por nada em especial, não é para alimentar nenhum sentimento narcísico da minha parte....É tão simplesmente para perceber em jeito de eco, se realmente o tive ou não, se há quem concorde ou discorde da forma de eu me exprimir sobre qualquer tema, ou se, ao contrário, as pessoas ignoram esses mesmos temas, por eles terem talvez  uma tónica repetitiva, ou serem tão intimistas ou irrelevantes que não têm discussão possível.

Ou até mesmo, para perceber se eventualmente estou equivocada, sobre a forma como vejo muitas das realidades à minha volta, (que não sei se são as verdadeiras, se aquelas que os meus olhos, alma e coração lêem), ou se os temas que me "chegam" imperativamente, são desinteressantes, dispensáveis, não sedutores, superficiais, para a generalidade das pessoas... 

Efectivamente constato que existem muitos outros espaços que os leitores franqueiam muito mais, estabelecendo com o autor dos blogues, uma plataforma de dialéctica que acaba por ser verdadeiramente interessante, aliciante e enriquecedora.

Bom, como vêem, "as conversas são como as cerejas", já todos sabemos.
Era minha intenção escrever sobre algo completamente diferente, mas fui "puxada" para aqui....

Neste momento só quero despedir-me do astro-rei, que lá bem ao fundo me está a presentear com um pôr de sol fascinante...assim, una espécie de prémio da vida, que HOJE ainda tive o privilégio de contemplar : o seu poisar na linha do horizonte....Aquela bola de fogo laranja, a recolher-se,  é dos acontecimentos que, em qualquer lugar do Mundo me extasiam e me suscitam um sentimento de gratidão!!...

Anamar

quarta-feira, 2 de junho de 2010

"VAMOS LÁ CAMBADA!..."


E pronto, começou a "cegarrega" das "vuvuzelas"...

Um país que em cada dia que passa, acorda mais e mais  de calças na mão (e qualquer dia nem isso...), fica feliz se tiver uma vuvuzela e vier para a janela "azucrinar" a cabeça ao desgraçado que teve o azar de ser seu vizinho...só porque o campeonato  do Mundo (é sempre a mesma droga), começa daqui a dias na África do Sul!!...

É mesmo coisa de pobreza, não acham???
Parece aquele menino ( de outros tempos, claro), que não tendo dinheiro para uma bola de futebol, construía uma de trapos, com duas pedras fazia uma baliza, na alma travestia-se sempre de Eusébio, e não precisava mais nada para fazer o seu próprio campeonato de rua ou de pracinha e ser feliz, pelo menos por uns tempos...

O "filme" é o mesmo das eleições; ganhem os da esquerda, ganhem os da direita, tenha-se votado ou não em consciência, num país analfabetizado politicamente e não só...mesmo que não haja dinheiro p'ra prestação da casa e para o resto da sobrevivência do mês, e ei-los, de bandeiras ao vento, dependurados dos carros até alta madrugada, rua abaixo, rua acima, porque o depósito enche-se de novo, se for o caso...

E claro, as cornetas, os buzinões, os apitos, os berros e...as vuvuzelas, são ensurdecedores!

Penso que não é ser radical, ou do contra, gratuitamente;
Penso que não é "armar-me" em coisa importante, por achar tudo isto uma infantilidade e uma imbecilidade...
Claro que fico feliz se Portugal tiver uma boa prestação, e mostre ao mundo que os pigmeus, em certas coisas, também se podem tornar gigantes. Seria anormal se assim não fosse.

O problema é que,...por que raio tenho eu que levar com "aquelas" gaitas aos ouvidos, se nada daquilo é construtivo, resolve os problemas das pessoas (apenas pela alienação que traduz), e me moem a alma, a mim também, esquecendo-se sempre que a liberdade deles acaba onde começa a minha...

Ao menos que inventassem algo melódico, que não agredisse os tímpanos, que até fosse agradável ouvir, mil vezes por dia...sempre era menos mau...

Bom, como vêem, o meu humor hoje está um pouco "enfarilhado"...

É que mal deitei, há pouco, o nariz para fora da janela, no intuito de refrescar, desta sauna inclemente, que foi o dia de hoje...e catrapumba...levei logo com uma "vuvuzela" nas "trombas" (salvo seja), e resta-me consequentemente, fechar tudo, morrer de claustrofobia, ou então, ser "incinerada" prematuramente, com o calor que vai nesta casa, ou melhor, lembrei-me agora...emigrar (para os pólos, não, que aquilo lá está a derreter....)..........as Galápagos.....talvez fosse uma boa aposta!
Têm como recepcionistas uns "lagartões" de respeito...mas deve reinar um silêncio, que agora até me dava um certo jeito!!...

Anamar