Será um blogue escrito com a aleatoriedade da aleatoriedade das emoções de cada momento... É de mim, para todos, mas também para ninguém... É feito de amor, com o amor que nutro pela escrita...

quinta-feira, 14 de maio de 2020
" AQUI DA MINHA JANELA " - HISTÓRIA DE UM PESADELO - Dia 64
2020 está escrevendo História, como justo protagonista de um "annus horribilis ".
Seguramente, o epíteto melhor aplicado no nosso século, a uma memória trágica que ficará pelos milénios.
Em 92, no Reino Unido, Isabel II queixar-se-ia da coroa estar a viver exactamente um "annus horribilis". Que pensará a monarca, nos tempos actuais ?
2020 é de facto, o ano de todas as perdas e de todos os ganhos !
Inesperadamente, depois de uma passagem de 19 para 20, aparentemente sem nada a assinalar, o tsunami devastador abateu-se sobre todos os povos, todos os países e todos os continentes, semeando a dor, a morte e a destruição das sociedades pelo mundo fora, sem fronteiras, muros ou barreiras, em que "perda" seria a palavra-chave do que viria a desenrolar-se ...
Perderam e perdem-se diariamente, vidas ... gente ... aos milhares ...
Perdeu-se a paz e a tranquilidade. Perderam-se o sonho, os projectos ... adiaram-se sem data, as realizações que já incorporavam os nossos esquemas mentais ... as rotinas mais simples que desenhavam as nossas vidas ...
Perderam-se empregos, rendimentos, qualidade de vida ... Perdeu-se VIDA !...
Perdeu-se a liberdade, a independência ... empenhou-se a vontade, até melhores dias ...
Perdeu-se esperança ... Em muitos dias ela se nos apagou à cabeceira ...
Perdemos os pequenos nadas ... até o fazer nada, se o quiséssemos ...
Adiámos as estações. A Primavera vai caminhando sem nos podermos sentar com ela, pelos pinhais ... sem lhe podermos colher as braçadas de flores frescas ... O Verão aguarda que a praia o caracterize outra vez, que os areais se povoem, que o sol abençoe os corpos de novo, na dolência do vai-vem da ondulação nas escarpas ... o Outono ... será que o Outono nos volta a trazer as cestas de fruta madura, e os ocres, dourados e vermelhos das ramagens a despirem-se ??
Pois só o Inverno continua por aqui ... implacavelmente, só o Inverno gélido e doído preside à nossa realidade ...
E perdemos o riso, e a vontade de o rasgar, despudorado, livre e inconsequente nos nossos rostos, com a leveza e a alegria que lhe eram devidas ...
E perdemos alguma coisa primordial e determinante ... o TEMPO ...
Perdulariamente estamos a deixar escoar por entre os dedos, tempo do tempo que nos for destinado viver ... tempo insubstituível e que jamais se repõe ...
E arrastamos uma vida suspensa entre parêntesis ... uma vida adiada ... irrecuperável ! Até quando ? Não o sabemos !
E perdeu-se a solidariedade entre os povos na hora do dar a mão. Além-fronteiras, o Homem mostrou a sua pior faceta e a sua incapacidade de se sentir irmão ...
Mas sempre uma moeda tem duas faces, e nunca o negro é totalmente negro ou o branco totalmente branco ...
2020 e a Pandemia que para sempre será o seu rosto, também nos ofereceu ganhos inestimáveis, inquestionáveis e surpreendentes.
Foi o ano em que o Homem se reinventou, o ano em que nos transcendemos e catapultámos ao inimaginável. O ano em que percebemos que podíamos !
Foi quando as pessoas se aproximaram na distância, quando as palavras se soltaram nos silêncios, quando os afectos nos chegaram nas asas das andorinhas acabadas de voltar...
Foi o ano em que a Terra ficou azul outra vez, as águas transparentes e os céus despoluídos ...
O ano em que o verde ficou mais verde, as flores desabrocharam com a seiva da vida que sempre ganha à morte !
Em que nos demos no abraço que não demos, em que o beijo sedento atravessou a vidraça ... e voou, encaminhado pela nossa saudade ...
O ano em que crescemos e nos reconstruímos ... só porque teve que ser ...
E o medo, porque era de todos, dividido por todos os corações e suportado por todos os ombros ... ficou pequenino, pequenino, e um dia destes haveremos de o encarar de frente, na certeza de o vencermos !
... Será o ano em que voltaremos a sonhar, porque temos direito ... em que aprenderemos a caminhar de novo com firmeza e confiança, sobre as pernas que agora titubeiam ... em que a solidão que doeu será esquecida, ao reavermos o calor da amizade real e da partilha ...
Pintaremos então um novo arco-íris nas madrugadas dos nossos dias !...
Até amanhã ! Fiquem bem, por favor !
Anamar
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