segunda-feira, 18 de maio de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA "- HISTÓRIA DE UM PESADELO - Dia 68



Sexagésimo oitavo, de um corrupio de dias aparentemente todos muito semelhantes, sem que o tenham sido, na verdade.
Ontem, dia 67, voltei a falhar a minha escrita.  Não se terá perdido nada, já que aquilo que escrevo e é portador do meu estado de espírito dia após dia, vem imbuído dos sentimentos que me atormentam.  E esses, nos momentos actuais, no mínimo não se recomendam !

Não sei escrever de outra forma.  Sempre tenho as minhas letras como meio de escorrência das minhas emoções, preocupações, alegrias, tristezas ... enfim, a transparência daquilo que sou, sem maquilhagens ou disfarces.
Do que digo, do que falo, do que escrevo, se intui com facilidade e sem margem de erro, como estou por dentro.  Quem me conhece bem, sabe-o claramente !
Também, não tenho por que camuflar o que quer que seja.  Não me preocupo com a imagem que passo, ou sequer o que possa ser pensado sobre a minha forma de encarar tudo o que se vivencia.  Até porque cada pessoa tem a sua forma pessoal de lidar com as situações, dependendo das suas realidade de vida, características personalísticas e de sensibilidade.
Só lamento não conseguir ter quase nunca, um discurso mais optimista ou construtivo.  Um discurso mais pedagógico, racional ou pragmático.  Menos derrotista ou negro.  Logicamente mais positivo.
Talvez no início deste desfiar de historinhas, eu tenha pensado que elas pudessem ter, de facto, um papel mais valioso ou útil junto dos que me lêem.
Um papel profiláctico contra o desânimo e toda a espécie de sentimentos negativos que nos assaltam.  Que elas pudessem ser, como testemunho pessoal e verídico, porta-voz das dificuldades, das angústias, dos medos, das aflições sem tamanho que julgo serem transversais a todos os mortais, sem conhecerem fronteira, língua ou credo.
Comuns a todos os cidadãos, a todos os seres viventes, já que afinal, somos todos feitos do mesmo barro, e todos temos um coração a pulsar aqui no peito ...
Que pelo menos elas pudessem ser uma identificação ... não uma perturbação para ninguém.  Sobretudo para todos aqueles que me querem bem !

Mas o tempo foi passando, cruel, indiferente, doloroso.  Desgastante, cansativo ... morbidamente longo ou demasiado curto, conforme o que dele esperamos !
E pronto, hoje sou sem sombra de dúvida, alguém completamente diferente, alguém que o destino modelou e moldou, em apenas dois meses duma experiência-limite, sem comparação ou antecedentes conhecidos.  Uma experiência nunca testada, nem imaginada sequer ... e que a minha geração ainda havia de experienciar !

Hoje, foi dia de caminhar.  Sempre naquele registo do toca e foge, a que não consigo verdadeiramente subtrair-me.
Vinha eu a pensar :  nós julgamo-nos prisioneiros, quando nos fecham, e deitam a chave fora ! 
Achamo-nos então injustiçados, castigados ... vitimizados, porque as nossas liberdades objectivas foram cerceadas.
Errado !
Verdadeiramente nós estamos aprisionados, quando nos abrem a porta e nos dão a chave ... Simplesmente,  com  ela  e  com  a  liberdade  do  mundo  lá  fora  nós  não  sabemos  o  que  fazer !

Esta sou eu, nesta readaptação difícil, tímida e desconfiada em relação ao que desconheço.  E sempre receamos o que desconhecemos, por mais tenebroso que seja o que conhecemos ... não esqueçamos !

Hoje, as creches reabriram ... "entre choros e confiança pelo desconhecido " ... era a manchete de um dos jornais diários.    Li, e as lágrimas assomaram-me ... como não ?
O coração bem "esterlicadinho" dentro do peito...
A Teresa, felizmente, foi subtraída a mais esta.  Como funcionará esta nova realidade na cabecinha de uma criança de menos de três anos ?  Como funciona a insegurança, o medo e o "ter que ser"... à porta de uma creche ?

Até amanhã !  Fiquem bem, por favor !

Anamar

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