segunda-feira, 4 de maio de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA "- HISTÓRIA DE UM PESADELO - Dia 54




Dia Zero !


Vive-se hoje o primeiro dia do Estado de Calamidade que pôs fim ao Estado de Emergência em vigor por três períodos de quinze dias cada, tendo sido sucessivamente revogados.

Com ele, e com o país praticamente encerrado em termos globais, o confinamento dos cidadãos foi uma realidade.  Ele começou aliás, antes mesmo de terem sido decretadas superiormente, aquelas medidas de excepção, quando as escolas assumiram o ónus do encerramento, logo que nelas ocorreram os primeiros casos de infecção.
A preocupação era conter a explosão epidémica descontrolada, como ocorreu catastroficamente nos países vizinhos, Espanha e Itália, evitando a subida exponencial da curva dos infectados, com a consequente sobrecarga do Serviço Nacional de Saúde.
Assim, arrastando no tempo o avolumar do contágio, achatou-se a exponencial de crescimento, evitando-lhe um pico abrupto, para o qual os meios materiais e humanos poderiam não ter suficiente  capacidade de resposta.
E parece ter efectivamente resultado esta estratégia delineada, pelo menos, por enquanto.  Os números cresceram paulatinamente, não se criou qualquer situação de ruptura, e trabalha-se a nível de socorro hospitalar, com uma confortável margem de resposta disponível.

Como sabemos, existem, do ponto de vista científico, duas vertentes distintas de abordagem do tratamento da pandemia :
- a dos países que optaram por evitar medidas drásticas de restrições a nível da comunidade, não decretando emergência com consequente confinamento rigoroso, como foi por exemplo, o caso da Suécia, onde as escolas não encerraram, o comércio e o convívio social continuaram a existir, e em que se apostou  na estratégia da contaminação comunitária, como medida defensiva para o alastramento da doença.
Em consequência, as faixas etárias mais problemáticas, em termos de vulnerabilidade acrescida, até pela existência cumulativa de comorbilidades, ficaram desprotegidas, incidindo nelas a ocorrência da maior taxa de mortalidade.

- a dos países em que Portugal se insere, em que a aposta recaíu sobre um rigoroso confinamento e distanciamento social entre os cidadãos, encerramento total de fronteiras, escolas, serviços, comércio e indústria e a implementação de restrições  rigorosas ( por forma a acautelar o que ainda ficou em laboração ), em áreas como a dos transportes e dos serviços mínimos básicos, como estabelecimentos de venda de bens alimentares, serviços de protecção civil, farmácias e evidentemente todos os espaços associados à saúde.

Pela análise das estatísticas, parece verificar-se uma certa eficácia no desenvolvimento e aplicação destas estratégias ... os números parecem ser benévolos e parecem corresponder às expectativas colocadas na aplicação das medidas escolhidas.
Não estamos de nenhuma forma, na lista dos países mais massacrados quanto à evolução da pandemia, nem quanto ao número de infectados nem sequer quanto ao número de óbitos contabilizados, parecendo existir uma progressão controlada da mesma.

Acontece que o Estado de Emergência cedeu lugar, como disse, a partir de hoje, ao referido Estado de Calamidade, juridicamente caracterizado por algum alívio das medidas de contenção e de confinamento social, revisionado igualmente em períodos de quinze dias, de forma faseada.
Os direitos e as liberdades individuais são agora menos penalizados, e pouco a pouco, "a bela adormecida" desperta !...
O país "acorda" deste torpor temporal, e reinicia passos prudentes de uma marcha cautelosa, lenta, mas vital, já que a economia quase totalmente imobilizada, antevê e já denuncia, um futuro negro pela frente, em que socialmente, grandes convulsões se adivinham.
Aliás, eu tenho para mim  que a abertura do país  proposta pelo Governo e homologada pelo Presidente da República, se deveu exactamente a uma pressão insustentável, por parte  das estruturas económicas e sociais, para que o confinamento não se arrastasse por mais tempo.
Já que, efectivamente, ao que parece, essa decisão não se espaldou em unanimidade de parecer, das estruturas sanitárias do país.

Acontece que dois meses de confinamento  ( que se completam brevemente ) têm sido algo excessivamente pesado nas nossas vidas.  Dias iguais, sem objectivos, metas ou horizontes, com as vidas viradas do avesso, com realidades familiares difíceis de gerir, com um crescente de angústias, incertezas, dor e sobretudo medo, a povoarem o nosso quotidiano ... com uma antevisão altamente preocupante e negativa, do futuro das pessoas
O cansaço instalou-se, a fragilidade psicológica de cada um tendeu a acentuar-se.
Mas cumprimos.  Genérica e ordeiramente cumprimos !

Agora, vem o calor, vêm os dias de céu azul, vem a praia, o mar, o campo ... e o ar livre que precisamos respirar ...
Agora, vem a tentação lá de fora, vem o convite implícito e até legítimo, poderíamos dizer, de deixar a casa para trás.
Vem a necessidade imperiosa do convívio, da conversa, do abraço, do beijo ... o desejo louco de voltarmos a sentar no colo, aqueles que há muito apenas vemos através de um écran, atrás do vidro protector de uma janela ... à distância de uma sacada .
Agora vem o cinema a que não vamos, vem a festa de aniversário que não festejamos, vêm as gargalhadas que não dividimos ... os dias que não partilhamos ...

Vem tudo isso ... mas ...

Agora, joga-se a segunda parte do grande "derby" das nossas vidas ... É o tudo ou nada, no desafio que começámos ...
Agora, que o poderíamos fazer ... não o devemos fazer !
Agora, é a prova de maturidade que todos precisamos e merecemos !
Agora, o convite do acessível, da inconsequência, da prevaricação gratuita ... da  irresponsabilidade fácil ... tentam-nos  a  cada  esquina ...  Mas  agora  é  a  hora  de  dizer  "NÃO" !!!

Só mais um pouco ! Continuemos vigilantes, em casa.  Por nós e por todos os outros !!!...
Por PORTUGAL !!!

Até amanhã ! Fiquem bem, por favor !

Anamar

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