domingo, 3 de maio de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA " - HISTÓRIA DE UM PESADELO - Dia 53


Mais uma efeméride nestes tempos conturbados que vivemos : hoje é o Dia da Mãe deste ano 2020 de má memória.
Dia atípico e estranho, dia de céu azul, de temperatura repentinamente elevada, numa Primavera que se afirma em cada canto, na explosão incontrolável de uma natureza em renovação, com a força da seiva da Vida !

É o meu quinquagésimo terceiro dia de uma peregrinação sem ter fim !
É um dia doído, de silêncios, de memórias e de saudades ...
Maio não era o "meu" mês de festejar com a minha mãe. 
O "nosso"  Dia da Mãe, sempre caía a 8 de Dezembro de cada ano, dia de Nossa Senhora da Conceição, feriado nacional, instituído pela Igreja Católica como preito de homenagem à Mãe e Padroeira de Portugal.
Sempre assim foi, desde que nos bancos da escola eu rabiscava umas letrinhas no cartão improvisado, demonstrando-lhe o meu amor e gratidão !

Cresci, mas sempre nessa data, entre nós as duas se mantinha o acordado.  Flores, chocolates ou um qualquer outro agrado, lhe deixava no colo, reiterando por cada ano, a expressão do meu imenso afecto para com aquele ser que me pôs no mundo, e que nunca me faltou na vida !
A sua doçura, a sua entrega, a sua presença e dádiva incondicionais, continuam a iluminar os meus dias !

A minha mãe já partiu.  Fisicamente.  Apenas fisicamente, porque no meu coração e na minha alma, eu sei que ela foi só ali ... regar as sardinheiras que tanto amava !

Hoje lembrei-a ... muito ...
Lembrei-a, quando as flores da minha filha, deixadas à distância sobre o tapete da porta, me apertaram aquele nó na garganta ... Quando nos olhámos longamente, e a vontade de a estreitar ao peito ficou por isso mesmo ... pelo olhar embaciado e triste ...
Lembrei-a, quando pelo telefone escutei as palavras da outra, que a distância e as leis impediram sequer que nos "sentíssemos" ...
Lembrei-a, quando pensava  em tantas outras mães, velhinhas e sós, espalhadas por esse mundo fora, também à distância de uma vidraça, à distância de uma porta cerrada, das palavras tão impessoais do telefone ... do isolamento de uma cama de hospital ...
Lembrei-a, quando pensava em tantas filhas que nem sequer lhes puderam dar um último adeus, um último beijo ... um último olhar de despedida ...

E uni-me a todas em pensamento, em partilha de afecto, em mágoa e tristeza profundas ... E senti que apesar de tudo, ainda sou uma privilegiada ... pois não houve distância para o coração, não houve confinamento para o amor e não há afastamento, quando o sangue que amarinha as nossas veias é o mesmo !!!

Até amanhã !  Fiquem  bem, por favor !



Anamar

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