sábado, 16 de maio de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA " - HISTÓRIA DE UM PESADELO - Dia 66




Eis-me aqui de novo, e de novo sem nada com que valorizar esta minha já longa narrativa com páginas e mais páginas de histórias e mais histórias, em que a nota imperante é sem dúvida uma : cansaço !

Se eu fizesse uma retrospectiva de tudo o que tenho escrito e uma análise objectiva do que não escrevi, mas está nas entrelinhas e pertence ao "baú" dos sentimentos, emoções e afins nem sempre verbalizados, obteria um retrato perfeito daquela em que me tornei ao longo deste percurso interminável que palmilho dia após dia, com dificuldade crescente.
Mas acredito também do que ausculto, que tudo aquilo que sinto e pressinto, em nada difere de um sentimento infelizmente mais geral do que o desejável ... eu sei !

Comecei / começámos esta guerra com a força e o denodo com que se começa uma batalha.  Empenho, entusiasmo, coragem, fé ... imbuíam os nossos espíritos guerreiros, com a determinação de tudo empenharmos na defesa de uma causa nobre, comum e descomunal no tamanho e na gravidade.
Estávamos cheios de força, acreditávamos que seria uma questão de tempo, e que se nos empenhássemos e nos amparássemos nesta colossal dificuldade que nos isolava, nos amedrontava e teimava em nos enfraquecer, levaríamos o barco a bom porto.
Tínhamos um ideal comum.  E um ideal, ainda por cima comum, é sempre algo impulsionador de resultados transcendentes e inimagináveis.
Por isso, todos os esforços por maiores, seriam recompensados, todas as privações teriam um fim, todo o sofrimento potenciaria se possível mais ainda, a coragem e a entrega em prol de um objectivo  que era de todos nós : vencer rapidamente este inimigo invisível, mas gigantesco nas consequências  para o futuro da Humanidade, alcançando um amanhã  promissor de paz e engrandecimento.

E buscámos forças onde nem sabíamos que existiam, e tirámos coragem donde insuspeitamente ela residia e agigantámo-nos ... porque não temos tradição de desistir, nunca !
E fomos indo, dia após dia, driblando a vida e o destino da melhor forma que soubemos e conseguimos.
Rimos,  chorámos,  demo-nos,  partilhámos,  cumpliciámos ... e  aguentámos ... como  foi  dando ...
Sangram-nos os lábios de mordermos o desespero, inundam-se-nos os olhos pela desesperança que os afoga ... explode-nos o peito à míngua do amor que nos assoma da distância da saudade ...

E a batalha que nos esperava, era afinal uma guerra sem tréguas ou trincheira.   Era afinal uma refrega sem fim ou horizonte ...
O cansaço avolumou-se, como abóboda pesada em manhã de nevoeiro.  A garra que nos empurrava adiante, foi estiolando à míngua, e cheguei ao hoje ... sessenta e seis dias depois ...
E a sensação que me preenche é a de um profundo e exaustivo cansaço, é de um desânimo mas também quase já de uma indiferença ... é a sensação que eu julgo inundar um náufrago, na última onda, antes da desistência ...
Estou cansada ! Sinto-me espoliada pela ironia de um destino cruel que me rouba tempo, e tempo é tudo aquilo que eu ainda queria ter ... Que me rouba vida, e vida é tudo o que ainda me restava com gosto, qualidade e vontade ...
Não tenho mais quarenta anos, não tenho mais cinquenta anos ... quase não tenho mais sessenta anos ... o fim da linha é logo ali !...
E bem sabemos como é rápido chegar ao último apeadeiro !!!

Até amanhã !  Fiquem bem, por favor !

Anamar

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