quinta-feira, 7 de maio de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA "- HISTÓRIA DE UM PESADELO - Dia 57




Objectivamente, dia 57 ... Ontem não escrevi e hoje para lá caminho ...
O dia é 7 de Maio deste miserável ano de 2020, o que significa estarmos a dobrar, não demora, metade dos 366 dias que nos foram disponibilizados, já que se trata de um ano bissexto.
Ainda ontem comíamos as passas ao bater das doze badaladas, e inventávamos os desejos que gostaríamos de ver cumpridos ...

Eu havia chegado há cerca de um mês, da minha viagem à Península da Indochina.  Vietname, Laos e Camboja foram o destino escolhido para festejar longe daqui, o meu aniversário.
E já ansiava por meio do Janeiro que aí viria, para um passeio completamente diferente, à Lapónia, onde as "luzes do norte" se acenderiam nos céus, para mim, no que já antevia vir a ser uma experiência única e inesquecível ...
As renas, os passeios em trenó conduzida pelos huskies no meio da floresta de coníferas, o silêncio da paisagem branca e o frio intimista dos igloos na montanha ... seriam algumas das experiências ímpares que me esperavam ...
E sonhei ... sonhei muito e planeei como viria a ser este ano que então se iniciava ...
Programei economicamente o viável, comecei a ver programas das agências, a consultar sites, até a aprender como fotografar em determinadas condições e contextos ...
E porque sempre, anualmente, quando  chega determinada época do ano, eu nitidamente "descolo", eu levanto voo e faço-me aos céus ... sem emenda ou remédio ... já me sentia por aí fora, naquela ânsia meio doida e patológica ( eu acho ... 😃 ) de me ir embora ...

Depois ... veio Fevereiro ... inesperadamente, coberto com o manto da incerteza, da dor, da angústia e da morte ...
Vieram os dias injustos, escuros, longos demais. Sem rumo, e apagados de esperança.
Veio a foice do diabo e a perseguição da doença.  Vieram as lágrimas e a indefinição da vida.  Levantaram-se as grades desta prisão da alma, e fecharam-se as algemas dos corações sem paz.
Depois ... veio tudo aquilo que todos sabemos e vamos sabendo todos os dias.
Depois vieram dias e semanas e meses ... e continuamos na cela do desespero ... negra, bafienta e sem sol.  Depois, as noites e os dias mimetizaram-se e não sabemos já, se é um ou se é outro ...
E pendurámos as emoções de fora da janela, e engolimos as lágrimas e o cansaço, e guardámos nas arcas do tempo, os afectos, a alegria, a vontade e o sonho ... até melhores dias ... se esses melhores dias chegarem em tempo útil !...

Hoje, queria ir com bilhete de ida para qualquer lugar ... qualquer que fosse ... que me albergasse e me poupasse do pesadelo que vivo, neste processo contra-natura insuspeito e carrasco !
Olho as gaivotas que se embalam aqui por cima, nesta aragem forte de fim de dia.  Os pássaros já silenciaram ... Resta o vermelho afogueado lá de longe, onde o sol fraco que por aqui assomou, já dormiu há muito ...
E vou ... vou simplesmente nas asas livres do meu pensamento.  Esse, não há vírus, incerteza ou cansaço que mo impeçam !...

Até amanhã ( sei lá ... ) !  Fiquem bem, por favor !

Anamar

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