terça-feira, 26 de maio de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA " - HISTÓRIA DE UM PESADELO - Dia 76





Lisboa "desconfinou" em beleza, em doçura e em tradição ...
Por todo o lado, nas avenidas e pracinhas, as fotografias dão-nos conta do bilhete postal com que todos anos ( por este tempo em que os dias se iluminam e as temperaturas se animam ), a cidade se engalana, se enfeita e se perfuma ... os jacarandás emolduram a cidade, da Alta à Baixa ...

Hoje volto a escrever a propósito do desconfinamento que começamos agora a implementar, e em que todos nós, timidamente, damos os primeiros passos na recuperação das nossas vidas.
As nossas vidas, tal como as conhecemos e tivemos, não mais voltarão, tenho a certeza.  Tudo mudou, nós mudámos ... a realidade é irreconhecível !  A nossa forma de a encarar, também.

Dizia-me ontem uma amiga, estar " a sair para o fundamental, mas que achava que tudo havia perdido a graça e que nem "trapos" tinha vontade de comprar " ... no que constitui uma enormidade em termos femininos ... digo eu ... 😄😄
Pois eu estou exactamente assim, e sei que esta forma de reagirmos e nos posicionarmos, está a ser avaliada e estudada por técnicos de psicologia comportamental. 
Tenho lido a propósito, e enquadro-me direitinho no perfil do antissocial, fruto da pandemia, sequela séria do quadro sanitário que nos atropela.
Eu pareço desejar estar com as pessoas ( e agora que até já poderia estar ) ... mas recuo nos meus desígnios.
E não é propriamente por medo ... é por desábito mesmo, é por desinvestimento em laços que foram caindo aos nossos pés, sem que lhes pudéssemos valer !
É porque parece que já perdi o endereço do coração ...
E isolo-me, e continuo nestes dias desinteressantes, cansativos, desgastantes e doentios ... persistentemente isolada !

E nada disto é positivo !  Nada disto nos fortalece !
Bem ao contrário, o Homem sendo um animal gregário, um animal de relação, um animal de clã, depende dos afectos para se espaldar, para se auto-proteger e para se erguer dos tropeções da vida.
Eu sei disso, e sei também que a amputação desses afectos é a amputação que realmente conta e mata, dia após dia.
E foi claramente essa amputação, que viemos sentindo em crescendo na perda das nossas rotinas, no afastamento dos nossos familiares e amigos, que nos foi desestruturando emocional e psicologicamente, nos foi entristecendo e deixando "fora de combate", numa dicotomia estranha, entre o vencer ou não a inércia do marasmo a que temos sido votados, e a incapacidade de conseguir voltar a olhar à nossa volta, com os olhos de valer a pena que deixámos lá atrás ...
E esse desequilíbrio e essa incapacidade, é o barómetro aferidor da sanidade mental remanescente das pessoas, e é claro indicador do seu grau de perturbação, além Covid 19.

... ainda  que os jacarandás nos pintem maravilhosamente a cidade com o seu lilás de festa, lembrando que estamos quase nos Santos Populares e que meio ano já se esgotou !!!...

Até amanhã !  Fiquem bem, por favor !

Anamar

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