quinta-feira, 21 de maio de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA " - HISTÓRIA DE UM PESADELO - Dia 71




Dia 71 !
Ontem, septuagésimo dia deste Estado de Calamidade na sua última fase determinada até ao próximo dia 1 de Junho, falhei a minha escrita uma vez mais.  Objectivamente, acho que me sinto mesmo a "descafeínar" de vez ... 😃😃
Brincando brincando, sinto-me já um pouco diferente ao aceder ao espaço extra-muros.  Já me estreei num restaurante, já visitei a minha pitorrinha no jardim de casa onde se afobava no meio da terra, água, flores e caracóis ... continuo a fazer a caminhada três vezes por semana, e já não me encolho se decido concretizar actividades consideradas triviais nas nossas vidas, antes de ... e que neste famigerado e interminável período, suprimi, adiando para a frente ...
Só que "a frente" está já aí, e há que pegar o touro pelos cornos, que é como quem diz, o corona pelos cornichos !!!

Tudo isto foi feito com as devidas cautelas.  A máscara está definitivamente incorporada no meu modelito diário.  As luvas, para o que der e vier, repousam sempre no fundo da mala, as distâncias aconselháveis são respeitadas obrigatoriamente, a ida às grandes superfícies para compras extra, são exactamente extra-cardápio ... é ir, comprar e andar.  Ainda não chegámos ao período de ver montras, num nada fazer de centro comercial ...
Começo a conjecturar um cafezinho com amigas, em esplanada próxima, porque o sol desestabiliza esta coisa de estar em casa, com temperaturas previstas a rondar os 30 graus.
Sente-se o mundo lá fora, já a mexer.  Sente-se a vida já a pulsar outra vez ... timidamente, mas dando sinais.
Não se "ouve" mais aquele silêncio sepulcral de um Fevereiro, de um Março e de um Abril aterradores, pesados e lúgubres, em que os números da catástrofe que nos bombardeavam diariamente, nos matavam também aos poucos ...
Aquele silêncio de ruas moribundas, de cidades desertas, de países adiados ... silêncio de desespero, de medo e de morte que nos invadia e atordoava os sonos ...
Urge agora recuperar os afectos, como terapêutica curativa, em mentes e corações demasiado debilitados já !
Há que passar da imagem bidimensional dos écrans do nosso descontentamento, para as imagens ao vivo e a cores, reais, vívidas ... mesmo que à distância de dois metros ...

Penso que este pequeno fogacho de esperança que me entra pela talisca da janela  hoje, e que me faz sentir mais leve, mais confiante, mais optimista, mais crente de que afinal ainda haverá amanhã ... um amanhã com o figurino que for, com a história que viermos a viver, com os sonhos que desenharmos ... talvez seja afinal o primeiro sinal da minha assimilação do desconfinamento e da abertura tímida, cautelosa e titubeante aos novos tempos que aí estão a chegar ...
São outra vez tempos de aprendizagem ... novas aprendizagens ... de readaptações e reajustes, que teremos que reinventar.
Tempos de ir calcorreando devagar ... porque "já tivemos pressa" ... os caminhos e as estradas que à nossa frente nos reclamam toda a resiliência possível, que conseguirmos reunir.
São caminhos para alcançarmos a sanidade integral, seres amputados que temos sido, e que passa pelo bem-estar físico, mental e social que nos devolverá o equilíbrio que tanto nos tem fugido nestes tempos de loucura que atravessámos !!!

Até amanhã !  Fiquem bem, por favor !

Anamar

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