quarta-feira, 15 de abril de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA " - HISTÓRIA DE UM PESADELO - Dia 35





Comecei o meu dia, mal ... quase tolhida nos movimentos, mercê do agravamento da famigerada lombalgia que me desafia há tempo de mais ...
A noite não foi famosa, como se imagina, na inocuidade de Benurons que se riem da caixa, e nada fazem.
A caminhada foi "pro galheiro", obviamente.  Depois, a merda do dente, partido ontem, como vos contei ... não me deixou saborear condignamente, a ansiada e muito apreciada torradinha do breakfast ... Aliás, quase não me deixa é saborear nada ... ( desculpem, mas o isolamento dito voluntário e cheio de boas intenções, está a começar a fazer-me estalar o verniz ... 😃😃😃 )
Em seguida levei uma ensaboadela daquelas tipo "descasca pessegueiro", da minha filha mais velha, hipocondríaca que só, quando lhe disse que ia descer para a farmácia, para adquirir terapêuticas mais fortezinhas ...
Que não ... que ando a brincar ... que atravesso as filas do Centro de Saúde que se formam à minha porta ( vizinha que sou, do dito ), onde as pessoas que se aglomeram estão todas infectadas ... que não tenho nada que ir à rua, por nenhuma ainda que nobre razão ...e que depois não me queixe ... e blablabla ...

Até me lembrei de uma história humorística, mas real, que em tempos remotos ouvia contar, pela ironia :  a  mesma, respeita a um, hoje honorável médico, com uma licenciatura que deve ter durado três vezes o tempo curricular normal ... 😃😃😃 ).
Reza a voz do povo que o doutor X, nunca deveu grande coisa à inteligência, mas deveu sempre um medo reverencial ao seu pai, que nunca desistiu de o fazer doutor !...
Assim, em miúdo e adolescente, lá na santa terrinha, pouco participava das brincadeiras, das maroscas, das tropelias do grupo dos amigos da mesma idade.  O pai não deixava, controlava, limitava ... e meio à socapa, é que o protagonista desta história, se atrevia.
Um dia, o hoje doutor X, alinhou numa paródia com os amigos, não certamente sem ter o coração aos pulos, pela prevaricação.
Teve azar, acidentou-se com a bicicleta, ficou razoavelmente ferido, parece ... mas no meio do susto, e das dores do descalabro, o doutor X só dizia ... "Ai que se eu morria, o meu pai matava-me !"...
Tadinho do Tonito Rabiça !!!.... 😊😊

A história ocorreu-me é claro, pelo risco acrescido de, se eu, no meio de todos os cuidados, tiver a má sorte de apanhar a Covid 19 ... a minha filha mata-me !!!  Ahahah ... 😃😃😃
Esta nota de humor advém do meu conhecimento prévio, dos seus habituais fundamentalismos protectores.

Bom ... mas depois pensei : ela está em tele-trabalho ( trabalho de grande responsabilidade, que exige um rigor absoluto ) ... tem em casa três filhos ... todos com escolaridade à distância.
Sem empregada neste momento e pouco dada a tarefas domésticas ... deve padecer de um stress danado!
18, 15 e 12 anos,  fazem  prever  naquela  casa,  uma  antecâmara  bem  aproximada  do  manicómio ...

Aliás, sobre a experiência escolar ora vivida, eu, cuja vida profissional, foi exactamente a leccionação de jovens até à sua entrada universitária, escreverei alguma coisa numa outra história futura.
Sim, porque há que rentabilizar os temas, já que a coisa promete, temporalmente falando ...

Isto para não vos enjoar com a monotonia que vai preenchendo os meus dias ...
Isto, para variar um pouco das habituais e já pouco eficientes frases de ânimo, ou então de pesar, de dúvida ou de cansaço ... frases esperançosas que buscam um incentivo a quem nos rodeia, e que como um medicamento tomado em situações crónicas, cria habituação e já rende pouco ...
O emaravilhamento dos primeiros tempos,  a novidade e o "gás" que então possuíamos, começaram a esvaziar ... Creio poder afirmá-lo, generalizando mesmo.
A nossa disponibilidade de alma, apesar de espicaçada por tudo o que ainda nos vai pingando nos dispositivos que nos ligam ao mundo ... começa, penso, a claudicar razoavelmente.
Começamos a remeter-nos a um silêncio interior, próximo do silêncio que se vive nos espaços a que nos confinamos ...

Aqui em casa, o meu "tele-trabalho" passa quase exclusivamente pela escrita das minhas histórias ... pouco mais.
Ler, não consigo, pois não me concentro.  Trabalho doméstico de manutenção, os mínimos exigíveis, também é cumprido a duras penas.  Música ... sim, oiço em permanência. Acompanha-me enquanto escrevo.  Exercício físico ... vamos ver como ficamos ...
Ah ... é verdade ... estou num tele-trabalho danado, aqui na monitorização da bicharada , no jardim zoológico caseiro : dois séniores imbuídos dos medos que a idade, a prudência e uma vida doméstica até à actualidade, totalmente em paz, com territórios, hábitos e expectativas absolutamente  controlados lhes conferem ... e uma "teenager" escandalosa e inconsciente , que por ser jovem, de sangue na guelra, chegou achando que o mundo é dela e aqui o "pedaço" também ... deixam qualquer um alucinado e a bater razoavelmente mal !...
Gestão complicada ... afianço-vos !!!

Depois ... preciso dos meus afectos como do pão para a boca, preciso de beijos reais, de abraços reais, conversas reais e não à distância de uma câmara vídeo ... preciso duma boa discussão ( pode mesmo ser daquelas de telefone desligado e tudo ... 😄 ), preciso de ver caras além das máscaras, preciso de gente de carne e osso e não apenas o eco das suas palavras ...
Hoje, preciso mesmo disso tudo !!!... 😢😢😢

E por agora, já têm com que se entreterem ...

Até amanhã !  Fiquem bem, por favor !

Anamar

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