quinta-feira, 16 de abril de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA "- HISTÓRIA DE UM PESADELO - Dia 36





O Dr. Li Wenliang foi o médico oftalmologista, do quadro do Hospital Central de Wuhan. que pelas piores razões assumiu o rosto da Covid 19.
Li  tornou-se no herói que sem esperar qualquer protagonismo, denunciou já em Dezembro de 2019 a existência do Corona Vírus, numa atitude de coragem, num contexto ditatorial e ultra conservador, como é o regime político chinês.
Tentou alertar os seus ex-alunos e a comunidade científica, sem outro objectivo que não fosse desencadear mecanismos de defesa sanitários, perante a perigosidade do referido vírus.
Foi por isso penalizado, e obrigado a assumir um falso alarmismo, perante a sociedade.
Em Fevereiro de 2020 Li contraíu a doença, tendo sido vítima da mesma, falecendo, com 34 anos a 7 de Fevereiro deste mesmo ano.

O vírus Sars-Cov2, também assim chamado, uma afecção respiratória que pode atingir uma expressão destruidora para o ser humano, é como sabemos ao dia de hoje, responsável pela infecção de mais de 2 milhões de pessoas, em quase 200 países e territórios, de todos os continentes, tendo já provocado a morte a mais de cento e trinta mil pessoas, no que é um varrimento trágico, em todo o planeta.
Arrasta consigo uma destruição massiva do ponto de vista sanitário, mas igualmente uma destruição sem dimensões previsíveis, para a economia dos estados.
Está a ser ainda, causa fracturante entre potências mundiais, seus interesses e políticas, e bem assim, no seio dos seus organismos representativos, presumivelmente defensores de princípios e  valores,  no pressuposto da entreajuda e defesa dos interesses comuns, aos estados membros.
Pois neste momento, as clivagens surgidas entre  as potências com diferente poderio económico ( as que o têm e as que o não detêm ), são vergonhosas.
A União Europeia e a Nato não chegam a consensos.  Muito difícil e laboriosamente são aprovados, precários compromissos de ajuda aos países da União, mormente os do sul da Europa, por resistência das potências como a Alemanha  e a Holanda.
Assistiu-se a atitudes miseráveis como a que o Ministro holandês de má memória, teve para com a Espanha,  Macron e Merkel chegaram a impedir a exportação de máscaras e gel desinfectante, argumentando serem necessários para o consumo interno, Trump fechou fronteiras aos voos oriundos da Europa ... Tudo isto, quando alguns se achavam talvez, acima da pandemia ...
Os tempos, infelizmente vieram  mostrar que nesta tragédia, não há filhos e enteados.  Todos os países estão a ser fustigados fortemente.

Sendo que a emergência sanitária mundial arrasta uma imediata emergência económica, vislumbram-se tempos profundamente difíceis para todos.
O estado português tem encaminhado com prudência, eficácia e assertividade o combate ao flagelo, no nosso pais.
Advém daí, a incidência apesar de tudo mais benévola, traduzida pelo número de óbitos e de infectados até ao dia de hoje, comparativamente a outros países, como Espanha, Itália, Reino Unido, França, Bélgica,  Holanda ... sendo que a Espanha divide connosco, a Península Ibérica.
Portugal assinala mais de dezoito mil infecções, para pouco mais de seiscentas mortes.
É verdade que a nossa única fronteira terrestre é com a Espanha, é verdade que se fecharam as fronteiras relativamente cedo, se encerraram as escolas e se decretou o primeiro estado de emergência, talvez atempadamente.
É verdade que se utilizou uma inteligente medida sanitária, ao integrarem-se a partir do SEF, os cidadãos em situação precária de residência no país, permitindo assim, que os mesmos tivessem igualitariamente acesso ao SNS, protegendo-se e protegendo.
É verdade que se tem buscado uma política de informação, transparência e forte mobilização das pessoas, com a massiva adesão à quarentena profiláctica.
É verdade que o povo português, se reinventou de todas as formas, se uniu e está em todo o terreno, a operar verdadeiros milagres.  As empresas paradas redimensionaram tudo aquilo em que poderiam ser úteis, e reformularam-se formas de trabalhar.

Surge-nos assim, uma Europa razoavelmente esfarrapada, com regimes democráticos que não se entendem.  Surge-nos uma América, símbolo do poder e da liberdade,  com o pulso totalmente perdido,  à pandemia.
Do outro lado, observa-se que o governo ditatorial chinês mostra eficácia e assume um modelo positivo e ímpar na esfera global.  Não só parece ter controlado a infecção no seu território, como se apresenta solidariamente ao lado dos países mais flagelados, com envio de pessoal de saúde e bem assim da oferta e da disponibilidade enquanto mercado, de toda a panóplia de necessidades para o combate ao vírus.
Da China estão a vir equipamentos de protecção individual para os técnicos de saúde e não só, bem como ventiladores e outros material em falta, como testes para despiste e controlo das populações.

Há quem diga que, um micro-organismo com um décimo de milésimo de milímetro de diâmetro " , está a ser capaz de transformar as democracias ocidentais e a levar-nos para um mundo mais ruim, mais pobre e mais pequeno ... em que cada país sabe de si, e a China sabe de todos " ...
Eu diria, perigosamente !...

Evidencia-se genericamente um reforço do poder do Estado, chamado a ter o papel de agir decisivamente, no relançamento das economias.
Avista-se a forte possibilidade de nacionalizações, maior investimento em sectores como a saúde pública, aumento do grau de vigilância e controle das populações.
Mesmo em países como por exemplo a Coreia do Sul, em que vigora uma democracia consolidada, os cidadãos são obrigados a ceder às autoridades, dados dos seus cartões de multibanco e de telemóveis por exemplo, para que possam ser  determinados horas e locais onde estão e onde vão.
Dessa forma, pode haver um controle das suas movimentações, e se os mesmos cumprem, se for o caso, ordens de confinamento.
Na China a liberdade de movimentos é controlada por códigos de cores, registados nos telemóveis pessoais, bem como a leitura imediata de dados de temperatura corporal e pressão sanguínea, por exemplo.
Obviamente que a generalização destes preceitos e da utilização destes dispositivos com acesso a dados biométricos, implicam perigosamente, a restrição das liberdades individuais.

Já se observam, aqui mesmo no ocidente, atitudes discriminatórias face a pessoas passíveis de constituírem risco, para outrem.
Ontem mesmo, os telejornais denunciavam que o carro de uma médica fora pichado com ameaças, pelo facto de ser uma técnica de saúde, lidando de perto com a Covid 19, uma funcionária de um super-mercado foi ameaçada e um outro cidadão, convidado a mudar de casa, por vizinhos do seu apartamento, por ser considerado condómino potencialmente perigoso.
Poderemos começar a assistir, por exemplo,  a empresários disporem-se a remunerar melhor, contratos que comprovem documentalmente, que um dado indivíduo é imune ao corona vírus ...
A Alemanha fala já num "passaporte de imunidade" ... dá que pensar !...

Outros riscos podem ser consequência desta brutal crise económica, que já estamos a viver.
Além da subida alucinante da taxa de desemprego, devida à paralisação quase total de todos os sectores económicos, mormente no nosso país, o sector da restauração, do turismo e dos transportes - vitais à nossa sobrevivência, e porque esta pandemia vai arrastar-se temporalmente - medidas como a do tele-trabalho e do ensino à distância, podem mesmo institucionalizar-se, ditadas pelas regras de distanciamento social que vai sendo exigível continuar a manter-se.
Esta situação pode arrastar, claramente, assimetrias familiares entre quem reúne e quem não, condições para ter capacidade de resposta a estes novos modelos.
São desigualdades que podem originar perda de empregos, de rendimento ou até mesmo de habitação.
Em consequência é defendida já, a ideia de um "rendimento universal básico" como ajuda do estado aos mais carenciados.  Nos Estados Unidos, Trump envia cheques compensatórios a estes agregados familiares.  Como é lógico, este tipo de medidas, reforça os regimes políticos que as adoptem ... garante votos nas urnas ...

Bom, não gostaria de deixar como nota desta minha história, uma posição premonitoriamente catastrófica.
Não é esse, o meu objectivo.  Ela reflecte, simplesmente, tanta e tanta coisa que paira na minha cabeça, neste trigésimo sexto dia de confinamento voluntário.

E para amenizar a minha prestação, dou-vos conta de uma faceta sorridente e positiva, do estado que se vive :
Com o confinamento mundial das populações, no sentido da preservação da sua exposição ao vírus, a paz reinou entre os animais ...
Assim, na costa do Brasil, em paz e silêncio de praias não devassadas, as tartarugas marinhas desovam tranquilamente em muito maior número ...
Numa cidade a nordeste de Banguecoque na Tailândia, os macacos que proliferam nas florestas, desceram em busca de comida, e invadiram livremente a cidade ...
No Reino Unido, cabras de Caxemira desceram do promontório de Great Orme, e passearam pela povoação, sem medos ou restrições ...
Em Barcelona os javalis, em Nova Deli os búfalos, em Londres, corças e veados e no Kruger Park da África do Sul, o rei da selva também desceu ao asfalto, aproveitando a paz e o silêncio da ausência de turistas !...

Sempre os dois lados da moeda ... Afinal, nem tudo é mau na vigência deste "maldito" !!!...




Anamar

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