terça-feira, 7 de abril de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA " - HISTÓRIA DE UM PESADELO - Dia 27


A  MEL

Vigésimo sétimo dia !
Os números em Portugal parecem revelar um panorama de alguma contenção face à pandemia. Não sei exactamente se a leitura poderá ser esta, ou se esta é a vontade optimista de quem está super-cansada disto tudo : eu !
França aumentou dramaticamente os números, de ontem para hoje e já são mais de dez mil, os mortos ! Espanha, depois de uma descida auspiciosa, já vai em quase catorze mil óbitos !...
Apavoro-me  só  de  pensar  que  num  destes  dias,  poderemos  também  ter  uma  surpresa  destas ...

Entretanto, escrevo ao sabor da corrente.  Sinto-me exaurida de vontade, de assunto e de interesse.  Os dias são enfadonhos de iguais, sem horizontes ou perspectivas.
Agora mesmo pensava eu, como me apetece um pastel de nata com um cafezinho ... Sairia renovada, se o tivesse ao meu alcance. 😉😉 Mas não.  Não os comprei nas compras semanais de hoje, no Continente ... não comprarei tão cedo !
Esta limitação da vida nas coisas simples, nos pequenos detalhes sem nenhuma importância, fazem afinal toda a diferença !!

Acho que, depois dos primeiros tempos em que me entupia de notícias, informações, entrevistas, debates, cimeiras, reuniões nacionais e internacionais ... em que vivia dependurada do amanhã, amargurada com o agora ... em que o meu sono se tumultuava com o medo, o pavor mesmo, que me acossava, em relação sobretudo aos meus ... depois desses primeiros tempos, dizia, instalou-se.me um certo indiferentismo cansado, de tudo isto.
Sinto-me assim como que em ressaca, em que as emoções parecem adormecidas ou anestesiadas.  Dou por mim a desligar a televisão mais cedo, dou por mim a dizer-me : "estou farta disto !..."
E dou por mim sem acrescentar nada de novo ao ontem, nem a perspectivar nada de novo para o amanhã !

Entretanto resumo os meus dias a alguns, poucos, afazeres domésticos ( se inadiáveis ou de bom aviso ), a escrever com entusiasmo muito limitado, a "história do meu dia", como vos prometi ... não leio nada, com uma concentração totalmente dispersa ... recebo e destino as mensagens amável e carinhosamente chegadas dos amigos ... e nada mais ...
Anoitece-me por aqui, como agora, frente à minha janela sobre este casario mais só e silencioso do que nunca !  O sol que enfeitou o nosso dia, já foi dormir sobre o caos doído, que é neste momento, o nosso Mundo !...

Entretanto, aqui por casa aumentou-se a "família".  😂😂😂
A MEL chegou ontem.  Chegou, tal como todos os "meus", da desgraça, do abandono, da dureza da rua lá fora, sem casa nem colo.
Fora abandonada há alguns dias e foi-me lançado um "help".
Não estava de todo nas minhas conjecturas aumentar o número dos patudinhos que dividem as suas existências comigo.  Apenas, eu que convivo mal com estas situações-limite, e particularmente agora que atravessamos um período de solidão profunda, de carência emocional e afectiva drástica, de mágoa e angústia acentuada ... em que a sensibilidade adoecida, me coloca um nó na garganta e me aflora as lágrimas aos olhos, fácil, fácil ... não resisti à desdita de mais um excluído da sorte, e ... adoptei-a !...
É uma gatinha pequenina, com cerca de um ano ( estimado pelo veterinário ), linda, frágil, muito meiga, desnutrida e desidratada.  Totalmente branca e com uns admiráveis olhos azuis, veio fazer companhia aos "machos" da casa .. o Chico e o Jonas já com oito anos.
Chegou, integrou-se e definiu limites.  São eles que recuam, é ela que bufa, são eles que andam de "três em fila" e ela que se adonou da cama que mais lhe interessou ... É ela que fala alto e exerce o seu direito de distribuir umas sapatadas, se resolvem passar o "risco", pela curiosidade que os move ... Em suma ... é "mulher" ... está tudo dito !!!
Ainda ousam pôr em causa que o Mundo é nosso ???!!!

Bom, e com a amenidade desta notícia, me vou ...

Até amanhã ! Fiquem bem, por favor !

Anamar

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