Será um blogue escrito com a aleatoriedade da aleatoriedade das emoções de cada momento... É de mim, para todos, mas também para ninguém... É feito de amor, com o amor que nutro pela escrita...

segunda-feira, 6 de abril de 2020
" AQUI DA MINHA JANELA " - HISTÓRIA DE UM PESADELO - Dia 26
"Mais uma voltarela para a menina Felisbela " ... ou dito de outra forma, mais um dia no calendário, em modo de desconto. Sim, porque importa ir descontando dias, dos dias que nos hão-de ainda calhar, no cômputo total dos dias que este suplício irá abranger ... 😃😃😃
Hoje, dia de caminhada, debaixo de água, numa chuvarada que não deu tréguas, com uma abóboda de chumbo por cima de mim. Nem o tempo atmosférico dá uma mãozinha, louvado seja Deus !...
A mata ... vi-a de longe, claro. Entrar nela seria garantia de me atascar até ao pescoço, com os caminhos totalmente enlameados.
Assim, o percurso alternativo passa pelo pólo escolar de Queluz - secundária, básica e pré - primária - totalmente desertas, com um ar desolador de solidão instalada. Há muito que o riso da criançada não anima os pátios, os jogos e as brincadeiras deixaram de existir. Só os pássaros, que não conhecem fronteiras, passam além das vedações.
Hoje, o dia escuro e fechado, ainda lhes conferia um ar mais tristonho !
Vi que a "flor da Páscoa" já floriu. Aqui e além, os pequenos bouquets engrinaldados, exibiam a minúcia do traçado. Coisa mesmo da Natureza, que nenhum arquitecto ou ceramista conseguiria moldar na perfeição.
Porque de facto, é Páscoa ... ainda que uma Páscoa totalmente atípica, estranha e silenciosa ...
Lá vou inevitavelmente lembrar a minha mãe ... " Que altas, que baixas, em Abril caem as Páscoas" ... e depois, e totalmente a propósito deste despropósito de tempo que nos envolve ... "Natal à soalheira , Páscoa à lareira ! " - Na mouche !...
Lembro aquelas Páscoas na Beira Alta ...
Já não eram as minhas Páscoas da gaiatice. Essas, foram alentejanas e tenho-lhes umas saudades desgramadas !
Estas eram Páscoas de mãe de família, de crianças já quase não-crianças, de almoço familiar, de visita pascal na vila, de chanfana no forno, bolo de buraco e bolo finto, cozido sobre as folhas de couve ...
Era tempo de lazer, tempo de férias de todos. E de casa às costas, lá íamos rumando ao norte. Lisboa ficava para trás, a viagem nunca mais acabava, numa Estrada Nacional que nos punha em filas intermináveis de camiões inultrapassáveis, e que nos exasperava a paciência ...
Mas era assim. Não tinha discussão. Os "velhotes" lá nos aguardavam, com as saudades acumuladas do afastamento normal da Vida.
A casa fechada, abria as portadas, renovava o ar, ganhava cor e movimento. As camas eram feitas de novo, a dispensa recheava-se do necessário para a estadia. Quase sempre ainda havia lareira a acender-se, porque Abril ainda se veste de adornos pouco generosos em temperaturas satisfatórias ...
A miudagem ia Vau fora, chamar as amigas de sempre, pôr as novidades em dia, combinar a paródia para horas adequadas. "Júliaaaa .... Ritaaaa .... já chegámos !!!" - e era uma alegria só !...
E lá fora, no jardim que o jardineiro havia aprumado ( afinal os patrões estavam de chegada ) ... o arbusto da "flor da Páscoa", lado a lado com a magnólia que elevava ao céu os cálices rosa, esperava-me e sempre me fazia sorrir, coberto das flores brancas com que no meu Alentejo os andores da procissão se adornam, em mistura perfeita com os cachos das glicínias cheirosas ...
Saudades e memórias que me caíram por aqui, como as gotas da chuva que fustigam impiedosas, a vidraça, nesta já noite que desceu ...
Até amanhã ! Fiquem bem, por favor !
Anamar
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