sexta-feira, 17 de abril de 2020

" AQUI DA MINHA JANELA " - HISTÓRIA DE UM PESADELO - Dia 37




Até as papoilas ...

O "milagre português" ... é título na media internacional, referindo a forma controlada, aparentemente milagrosa, como, de mansinho, de mansinho, temos conseguido avançar na evolução desta louca tragédia que afecta a Humanidade.
Infectados que ainda não atingiram vinte mil, óbitos que ainda não atingiram os setecentos, são números que parecem não fazer sentido, face à loucura crescente de um mundo à beira de uma sangria inenarrável.
Toda a Europa continua a ser devastada desaustinadamente por este vírus assassino.  Países que pareciam respirar já, uma acalmia face aos valores dos últimos dias, sugerindo uma estabilização das suas curvas epidemiológicas, voltam a disparar, num período de vinte e quatro horas.
É o caso da tão martirizada Itália, já não falando de outros totalmente fora de controle, como o caso do Reino Unido ou dos Estados Unidos da América ... ou mesmo da tão primeira-mundista Suécia !...

Na minha história de ontem, referi e louvei a forma como tem sido abordada e tratada a ameaça que nos assola.  A forma como o Governo e o Presidente da República têm conseguido mobilizar toda a sociedade civil, no sentido de a envolver e de a corresponsabilizar no ataque à mortífera pandemia.
Sabemos que temos a nosso favor, o facto de termos fronteiras apenas com um único estado, Espanha, mas sem dúvida a assertividade e a oportunidade da implementação das medidas preventivas são a chave para este cauteloso sucesso.
No decretamento do terceiro período de emergência até 2 de Maio próximo, jogam-se as últimas cartadas da prudência e da proporcionalidade, exigíveis para que a "reabertura" do país, no que será uma transição cautelosa e progressiva, ocorra sem sustos, com eficácia e segurança.
Por ora o confinamento em casa, mais do que pedido, continua a ser exigido, para que a gravosa situação da letalidade ocorrida nos lares possa ser controlada, para que o Serviço Nacional de Saúde não fuja ao equilíbrio conseguido até aqui, e para que o Governo tenha tempo útil para definir caminhos e metas, prudentemente, por forma a que a economia possa sair da situação de recobro em que tem estado, e possa começar a dar os primeiros passos, faseadamente, para voltar a reerguer-se.
Tudo isto está a ser feito com muita maturidade, muita ponderação e muita responsabilidade.
Quando há transparência, diálogo e foco, as pessoas deixam-se envolver como participantes activos e agentes de solução dos problemas.  Creio ser isto a que se tem assistido.  Creio advir de tudo isto, esta força mobilizadora e ferozmente controlada, com que se dão, titubeantemente, é lógico, os pequenos passinhos, rumo à vitória final !

Portanto, Portugal não é um país de milagre !  Não !  Portugal é um país de muitos milagres, isso sim !
Se não veja-se :
As fronteiras foram fechadas.  As terrestres, passaram a ser totalmente controladas.  Os aviões pousaram e quase não levantaram mais.  A TAP, nossa companhia aérea de bandeira, de 400 voos diários, opera agora 7, por semana !
As escolas, depois de surgidos os primeiros sinais de alarme de contágio, encerraram genericamente.
Os alunos recolheram a casa em quarentenas profilácticas.
Mas o segundo período lectivo estava a terminar, rumo às férias da Páscoa, seguindo-se-lhe um terceiro período escolar, totalmente indefinido em termos curriculares.  Havia que contornar esta situação.  As crianças e os jovens não poderiam ficar barrados no prosseguimento dos seus estudos.
Os professores, regressados também a casa, iniciaram actividades de tele-trabalho, à semelhança do que ocorreu em todas as actividades passíveis de se coadunarem com esta prática.
Reinventou-se uma forma de leccionar à distância, das aulas ocorrerem em regime de vídeo-conferência.  A velhinha tele-escola foi recuperada e ajustada aos currícula de cada ano.
Nem todos os alunos dispõem contudo, de meios informáticos em suas casas. As assimetrias sociais não permitem, como sabemos, a muitas famílias proverem as condições ideais de vida.
Pois bem, tentou contornar-se a situação com dádivas de computadores, da parte de várias entidades ou pessoas individuais, inclusive da parte de empresários com material obsoleto, mas suficiente para a situação, nas respectivas empresas.
No SNS havia naturalmente carências  não só do necessário à protecção individual dos profissionais, como de ventiladores, máscaras, testes de despiste, e outros ... Portugal foi aos mercados internacionais, adquiri-lo, numa corrida contra o tempo e em concorrência com todos os países contaminados, igualmente deficitários.  E tem conseguido suprir as faltas.
Reorganizaram-se os hospitais, vocacionaram-se e redefiniram-se as valências, para acorrer não só aos doentes pandémicos, mas a todas as outras morbilidades.
Criaram-se, com envolvimento da sociedade civil e das forças de segurança, entre elas o exército português, hospitais de campanha, em espaços de improviso.
Grande parte das empresas encerraram, por inviabilidade da sua habitual prestação de serviços. Pois bem, a maioria, reconverteu a sua actividade.  Por exemplo, no sector da restauração, não podendo haver funcionamento normal em restaurantes, hotéis e afins, partiu-se para o sistema de take-away.  É impressionante o número de motos da Uber-eats, da Glovo, da Telepiza e outros, que circulam na distribuição de alimentos.
Grande número de empresas que encerraram, entraram em regime de lay off, beneficiando da ajuda económica transitória, do Estado. Muitas delas reconverteram as suas actividades, no sentido de produzirem material necessário aos técnicos de saúde ...
Muitas, sobretudo na área têxtil, redimensionaram a sua actividade para a confecção de equipamentos, e fábricas de peças para o sector automóvel, produzem agora viseiras e óculos usados em meio hospitalar.
Não há gel alcoólico para protecção, nos hospitais e na sociedade ?  Fabrica-se !
Não há máscaras de protecção suficientes para os cidadãos ?  Confeccionam-se em casa, ou em empresas de têxteis que haviam deixado de laborar, por forma a deixar as cirúrgicas para os técnicos de saúde, a quem são imprescindíveis ...
O pessoal que trabalha nas residências séniores, extenuados uns e contaminados outros, não conseguem responder às necessidades ?  Surgem voluntários, jovens, alguns estudantes da área de saúde !...
Pais que têm a seu cargo crianças com idade inferior a 12 anos, com creches encerradas e que sem aulas presenciais permanecem em casa, têm justificação na ausência ao trabalho, auferindo uma percentagem dos seus rendimentos-base.

Em suma ... tudo isto e mais o que neste momento me escapa, mostra um país determinado, apostado, reinventado, lutador e abnegado.
Mostra uma gente que honra a força e a coragem dos seus ancestrais.
Mostra um povo criativo que não soçobra, não cruza os braços e se redefine de acordo com os tempos, as necessidades e os imperativos.
Mostra o verdadeiro rosto de todos aqueles que, depois de voltarem a alicerçar as conquistas de outro Abril na nossa História ... sempre Abril ... anseiam abrir as portas a um Maio, florido Maio, de mais certezas, de mais alegria, de abraços e beijos, de lágrimas também ... mas seguramente de uma infinita PAZ que todos merecemos !...

Hoje, ao voltar da caminhada, deparei-me, nascendo da calçada, com um tufo de papoilas singelas e despretensiosas.  Olhei, surpreendi-me e sorri ... até as papoilas parecem ter-se reinventado também ... nestes tempos duros de Covid 19 !...

Até amanhã ! Fiquem bem, por favor !

Anamar

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